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Crítica


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Sinopse

Red, filha da famosa Rainha de Copas, é novata em sua nova escola. Ela precisa trilhar seu próprio caminho, mas um plano de sua mãe contra Auradon a coloca em um impasse.

Crítica

A saga Descendentes é mais uma forma de a Disney explorar o seu vasto portfólio de personagens e histórias fantasiosas. Em produções voltadas para um público infantojuvenil, vemos uma miscelânea de personagens retirados de seus respectivos contextos específicos e agrupados num universo plural. Tudo começa quando a Bela e a Fera se casam, tornando-se governantes do reino de Audaron, com previsão de banimento dos vilões de várias cortes à Ilha dos Perdidos. Seu filho tem uma visão diferente das coisas. O garoto pretende dar uma segunda chance aos malvados, sobretudo aos seus filhos. Então, a base dessa grande história que com Descendentes: A Ascensão de Copas chega à sua quarta parte é a tensão geracional entre pais clássicos e filhos que pretendem fazer as coisas à sua maneira. Desta vez, a herdeira descontente é Red (Kylie Cantrall), princesa que toca o terror no País das Maravilhas, sendo a única capaz de desafiar as ordens da sua mãe, a perversa Rainha de Copas (Rita Ora). Quando convidada pela nova diretora para estudar na escola de Audaron, ela imagina que a maléfica mãe será contra, mas se engana. Surpresa com a pronta aceitação da matriarca osso duro de roer, Red não sabia que a rancorosa mandatária de quem descende diretamente está tramando um golpe de Estado para tomar a nação próspera. Chamada à aventura, ela se alia à Chloe (Malia Baker), filha da rainha Cinderela.

Descendentes: A Ascensão de Copas é um filme multicolorido, daqueles que fazem questão de identificar seus personagens visualmente para não deixar dúvidas a respeito de quem é vilão ou mocinho. Tudo gira em torno da insatisfação adolescente com a mãe autoritária ameaçando a paz conquistada a duras penas por outros personagens de histórias clássicas da Disney. Porém, a cineasta Jennifer Phang não explora essa diferença entre uma filha em busca de liberdade e uma mãe com tendências despóticas desejando criar alguém à sua imagem e semelhança. Como convém a uma produção de cunho infantojuvenil para consumo ligeiro, sem pretensões maiores, os problemas tendem a ser resolvidos de modo providencial e, no fim das contas, o que importa são as famigeradas lições de moral. Curiosamente, o que o longa-metragem tem de interessante, especialmente a se julgar por suas proposições estético-narrativas, são os números musicais. As canções repletas de rimas fáceis e mensagens positivas, bem ao gosto do estúdio, casam bem com a abordagem pueril dos assuntos. Os efeitos visuais são característicos de iniciativas de baixo orçamento que não estão muito preocupadas com a exuberância, pois contam com a benevolência de um público com grau de exigência menor com relação ao desenho desse mundo também povoado de figurinos cintilantes, tinturas de cabelo berrantes e objetos de arte falsos.

Atendo-se especificamente à missão principal de Descendentes: A Ascensão de Copas, vemos Red e Chloe regressando no tempo para tentar consertar as coisas, sobretudo depois de descobrirem que: 1) suas mães estudaram juntas; 2) a maldade da Rainha de Copas pode ter nascido de uma brincadeira de mau gosto. Pegando emprestado o princípio da saga De Volta para o Futuro, a aventura então mostra filhos adolescentes conhecendo seus pais na mesma faixa etária, o que poderia causar situações embaraçosas, como nos filmes criados por Robert Zemeckis. No entanto, aqui as intenções são bem menos ambiciosas, pois a ideia é somente criar momentos reveladores que deem sustentação para as lições de moral. Red conhece uma mãe completamente diferente, enquanto Chloe se depara com Cinderela (Brandy Norwood) na sua fase borralheira, muito distante da altivez real que adquiriu ao se casar com o príncipe Encantado (Paolo Montalban). Mas, enquanto tudo converge para a reconciliação entre Red e a Rainha de Copas, claro, desde que a menina seja capaz de impedir o evento que transformou a futura tirana numa mulher de coração endurecido, a demanda de Chloe fica em segundo plano. Quiçá terceiro. Quando muito ela aprende que o mundo é mais complexo do que apontam as dicotomias certo/errado, bom/mau, bonito/feio, etc. Nada que seja tão importante para a trama.

Os filmes precisam ser analisados de acordo com suas propostas. Portanto, não se pode esperar que Descendentes: A Ascensão de Copas mergulhe na psicologia dos personagens ou mesmo seja uma alegoria política contundente a partir da tomada de Audaron pela Rainha de Copas. Também seria infrutífero esperar que a tensão geracional fosse menos do que uma desculpa para colocar duas adolescentes numa aventura extraordinária na qual devem aprender lições valiosas aos seus amadurecimentos. Contudo, mesmo que muitos acreditem na falácia da inutilidade da crítica aplicada a determinadas produções (“esse filme não foi feito para a crítica”, dizem os preconceituosos), é preciso avaliar de que modo os criadores chegam ou não a certos lugares. Nesta produção bobinha com sabor de experiência passageira, Jennifer Phang produz um espetáculo dançante e multicolorido para entreter uma plateia específica (a infantojuvenil) a partir do reaproveitamento de mitologias clássicas. Mesmo atingindo o principal resultado almejado (uma experiência descompromissada e leve), seria pedir muito um pouco mais de atenção às potencialidades do tema universal da tensão geracional? No fim das contas, Red fará de tudo para ter outra mãe, sem ponderar que sua personalidade pode ser comprometida com a alteração do passado. Aliás, a cineasta nem passa perto de lidar com os perigos de mudar a malha do tempo, somente se atentando para isso no encerramento que anuncia a continuação.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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