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Sinopse

Wang Jiazhi é uma jovem chinesa que entra na faculdade durante o período de ocupação japonesa, na Segunda Guerra Mundial. Lá participa de um grupo de teatro patriótico, tornando-se rapidamente a artista principal. Quando seus colegas decidem assassinar o sr. Yee, um colaborador do lado japonês, Wang, então, se transforma em Mak, a fictícia esposa de um mercador. Sua função é se tornar amante do sr. Yee, para facilitar a ação do grupo.

Crítica

Com mais de dois anos de atraso chegou ao Brasil a volta de Ang Lee ao cinema asiático: Desejo e Perigo é, na verdade, uma tradução incompleta do título original (Lust, Caution, ou algo como Luxúria, Precaução), que faz referência aos cuidados que se deve ter quando somos guiados pela luxúria – pois é disso, de fato, que o filme fala. Após o polêmico O Segredo de Brokeback Mountain (2005), Lee conduz agora uma história repleta de duplos sentidos, mistérios e anseios reprimidos, não muito distante de outros trabalhos seus feitos em sua terra natal, como Banquete de Casamento (1993) e O Tigre e o Dragão (2000), e ainda assim em perfeita sintonia com suas obras mais universais, como Razão e Sensibilidade (1995) ou Tempestade de Gelo (1997). Afinal, não importa a época, o cenário ou os personagens – incluindo até monstros verdes e furiosos, como Hulk  (2003) – este oscarizado diretor tem sempre uma única preocupação como prioridade: as relações humanas. E este novo trabalho não foge à regra.

Com uma trama aparentemente bastante simples, Desejo e Perigo fala de uma jovem universitária, na China ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, que apesar dos seus estudos decide integrar um grupo de teatro patriótico. O que era apenas arte logo se transforma em militância fervorosa, repercutindo em atividades mais radicais e ambiciosas. Seu momento de decisão chega quando ela e os colegas decidem assassinar um importante homem de negócios, colaborador do Japão no conflito. A missão da garota, no entanto, é a mais difícil e complicada de se realizar: mesmo virgem, ela terá que agir como uma mulher mais velha e se tornar amante do empresário, para se aproximar dele e facilitar a execução dos planos para eliminá-lo. Ou seja, ela terá como desafio interpretar um papel de vida ou morte.

Desde o momento em que foi exibido pela primeira vez Desejo e Perigo chamou atenção por uma questão interessante e facilmente mal compreendida: a veracidade – ou não – de suas intensas sequências sexuais. As cenas de amor – ou seria somente sexo? – entre os dois protagonistas são tão fortes e bonitas que obviamente levantam dúvidas do quão reais foram quando registradas pelas lentes do realizador. E este tema levantado aponta para o fato em si discutido pelo filme: quando há apenas volúpia e libertinagem é possível que nasça uma atração mais verdadeira e profunda? E até que ponto este novo sentimento pode atrapalhar as intenções anteriores?

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, Desejo e Perigo tem à frente do elenco o ótimo Tony Leung, o mesmo de filme como Herói (2002) e Amor à Flor da Pele (2000), entre tantas outras produções de destaque. Ao seu lado aparece a jovem Wei Tang, que foi escolhida dentre 10.000 novatas. Os dois são os alicerces desta trama de sedução, confianças traídas e ameaças eminentes. Lee, no entanto, mesmo se estendendo um pouco além da conta, é o principal responsável pelo sucesso do projeto, construindo uma narração que brinca com o gênero noir ao mesmo tempo em que explora com competência as mais antigas questões humanas: o embate entre razão e emoção. Um filme para poucos e seletos públicos, e que não possibilita uma leitura simples e imediata, mas que recompensa aqueles mais dedicados a uma observação mais detalhada da natureza humana.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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