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Sinopse

Ao encontrar a parcela maligna de um medalhão misterioso nos escombros de um avião, Severino se torna malvado. Caberá aos Detetives do Prédio Azul ir à Patagônia para encontrar a metade benigna do artefato e salvar o amigo.

Crítica

No seu terceiro longa-metragem, os Detetives do Prédio Azul enfrentam uma grande e nefasta ameaça: alguém controla um de seus principais amigos. Enquanto está cuidando das crianças, o porteiro Severino (Ronaldo Reis) encontra a metade maligna de um medalhão. Ele deixa de ser o aliado de todas as horas e se torna um perigo constante ao ser possuído por uma entidade desconhecida. Detetives do Prédio Azul 3: Uma Aventura no Fim do Mundo é voltado ao público infantil, mas felizmente isso não serve de desculpa para os roteiristas subestimarem a inteligência do público-alvo com personagens e desenvolvimentos inconsistentes. Há solidez nesse divertido universo criado para a televisão – numa série lançada em 2012 – e que conjuga as coisas mais comuns do cotidiano com as maravilhas proporcionadas pela magia. Dentro dessa realidade, a agressividade dos vilões e o perigo que essas figuras do mal representam possuem um verniz lúdico. O sucesso da missão especial está garantido desde o início. Se trata de uma aventura escapista, com tons apropriadamente infantis, em que as noções como o trabalho em equipe e as demonstrações de bondade servem de balizas para as pessoas. E, certamente, dos três filmes da saga, esse é o mais ambicioso e o que melhor aposta na ação.

Detetives do Prédio Azul 3: Uma Aventura no Fim do Mundo passa brevemente pelo edifício azul que consta do título. Nele, os pais dos detetives sofrem na pele a ira do novo inimigo e os bruxos Leocádia (Claudia Netto), Theobaldo (Charles Myara) e Vó Berta (Suely Franco) são postos fora de combate. Aliás, enquanto os protagonistas mirins estão em viagem pela Patagônia em busca da parte benigna do artefato mágico, temos vislumbres de Leocádia e Theobaldo tentando encontrar soluções para a sua prisão num cipó encantado. Esses momentos são meros alívios cômicos que não possuem outra função narrativa. Se fossem retirados do corte final, isso representaria poucos prejuízos. Trocando em miúdos: sem eles, o filme não perderia muito. No fim das contas, ver os dois bruxos reclamando que não conseguem se libertar serve somente para os personagens poderem aparecer. Nesse contexto, o cineasta Mauro Lima perde uma boa oportunidade de ressaltar a ação mágica de Berenice (Nicole Orsini). Diante da exclusão dos feiticeiros experientes, ela se torna uma peça fundamental para os Detetives do Prédio Azul colocarem em prática o plano de encontrar a joia poderosa antes que ela caia em mãos erradas. Melhor seria se o valor mágico de Berenice fosse mais bem trabalhado na trama.

Uma das qualidades de Detetives do Prédio Azul 3: Uma Aventura no Fim do Mundo é o cuidado da equipe criativa com os detalhes. A direção de arte desempenha um papel fundamental para a aventura funcionar na telona. Prova disso, a caracterização de Duvíbora (Alexandra Richter) e Dunhoca (Klara Castanho), as vilãs estilosas aliadas ao maligno para recuperar a relíquia da família. Como elas descendem da linhagem de feiticeiros ligados às cobras, tudo em volta delas remete aos répteis: do carro adesivado com a textura da pele de serpente (com direito a linguinha de fora) à capa-naja do celular da bruxinha-influencer. O virtuosismo na elaboração desse mundo fantástico também aparece na Argentina, mais fortemente na fábrica de doce de leite do personagem excêntrico vivido por Lázaro Ramos. Aliás, a parte do longa-metragem em que aparece Elergun (Lázaro) poderia ser chamada de Willy Wonka e sua Fantástica Fábrica de Doce de Leite. O feiticeiro dedicado a preparar guloseimas é evidentemente inspirado no personagem criado por Roald Dahl e imortalizado nos cinemas por Gene Wilder e Johnny Depp. Mas, além da composição deliciosamente afetada de Lázaro, o que sobressai nessas sequências é a interação entre os efeitos digitais e os elementos tangíveis.

Mauro Lima tenta equilibrar as ações para todos continuarem tendo importância, embora nem sempre consiga. Sol (Letícia Braga), Bento (Anderson Lima) e Pippo (Pedro Henriques Motta) precisam trabalhar em conjunto para garantir o êxito. Auxiliados por uma Berenice finalmente trajada como sempre sonhou, os três encontram figuras espalhafatosas pelo caminho, seguindo a pegada do programa de TV e dos filmes anteriores. Detetives do Prédio Azul 3: Uma Aventura no Fim do Mundo é uma jornada hipercolorida, repleta de movimento, com vilões e mocinhos distanciados. O realizador explora bem os cenários nevados da Patagônia argentina e, a partir deles, assinala o deslocamento que torna os detetives mirins imprescindíveis longe do seu amado prédio azul. Porém, às vezes esse trio protagonista fica um pouco apagado diante da suntuosidade das batalhas mágicas (e com isso Berenice poderia ganhar relevância). A terceira jornada cinematográfica dos Detetives do Prédio Azul se pretende a mais grandiosa, aponta a perigos maiores e a soluções não menos mirabolantes. Por isso mesmo, em alguns instantes Sol, Pippo e Bento ficam ligeiramente de lado nessa trama desenrolada a partir de segredos mágicos e grandes planos sobrenaturais. Mas, nada que comprometa demais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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CríticoNota
Marcelo Müller
6
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
6

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