Crítica
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Crítica
Desde que a Disney comprou a Pixar, muito se comemorou na expectativa de que as produções do estúdio do Mickey Mouse começassem a ficar mais próximas de aventuras como Toy Story (1999) ou Procurando Nemo (2003). No entanto, o que se tem percebido é que nem tanto aos céus, nem muito ao inferno: a Disney tem mudado, mas ainda há um caminho longo a ser percorrido para voltar aos tempos gloriosos de A Bela e a Fera (1991) – o primeiro longa-metragem de animação a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme, por sinal. Detona Ralph, o mais recente filme da companhia, apresenta alguns evidentes sinais destes novos tempos, mas ainda assim é dono de uma moral tradicional e de um enredo formulado dentro de conceitos básicos e um tanto envelhecidos. Diverte, mas na mesma proporção em que é esquecível.
Pra começar, uma das principais inovações: um protagonista masculino. Assim como a Pixar tentou inovar com uma personagem feminina à frente da trama pela primeira vez em Valente (2012) – o que não deu muito certo – a Disney assume o mesmo risco – porém com a óbvia inversão de gêneros. Ralph é o ‘vilão’ de um jogo de videogame, o Conserta Felix. Há anos sua única função é quebrar janelas e paredes de um edifício, para que logo em seguida o engenhoso Felix surja com seu martelo mágico para arrumar tudo. No fim, as glórias são todas do engomadinho, e o grandalhão é relegado a um esquecimento. Cansado desta situação, ele decide se aventurar por outros jogos em busca de um que lhe ofereça um possível reconhecimento – uma medalha de mérito que lhe garanta olhares de orgulho e respeito.
Neste ponto temos o melhor de Detona Ralph: o cenário é o universo dos jogos de computador, com várias figuras bastante populares e outras nem tanto, mas que irão chamar atenção por seu carisma e interesse. A ideia de uma central em que todos estes personagens convivam uns com os outros é uma ótima sacada, e a própria insatisfação do rapaz malvado – que assim o é apenas por ter sido concebido dessa maneira – com sua condição e sua busca por aceitação é um sentimento facilmente compartilhado, que qualquer um possa se identificar. Por outro lado, que ninguém é totalmente bom ou mau sabemos, mas não seria justamente nesta contraposição que a maior parte dos contos-de-fada se constroem?
Em sua jornada, Ralph se depara com a pequena Vanellope, um bug que existe apenas para conturbar o desenvolvimento do jogo Sugar Rush. A menina morena de grandes olhos escuros é outro achado, mesmo que sua irreverência e impertinência não persista por muito tempo. Logo temos apenas uma garota carente também em busca de um lugar no mundo. E assim como Dumbo, Pinóquio, Ariel, Mulan ou Quasímodo, entre outros tantos, tudo o que ela e o novo amigo precisarão é de alguém que os aceite como são – mesmo que, para isso, eles próprios precisem mudar suas formas de ser e agir.
Previsível e um pouco cansativo para os mais adultos – principalmente para aqueles não muito familiarizados com esse ambiente – ao menos conseguiu se sair ileso nas bilheterias (faturou em todo o mundo pouco menos do que o dobro do seu orçamento, que foi de impressionantes US$ 165 milhões). Com boas doses de romance – para agradar as meninas da audiência – e muito dinamismo em corridas e reviravoltas que deverão fazer a alegria dos garotos fãs dos efeitos em 3D, Detona Ralph possui um olhar mais contemporâneo que certamente deve ser uma cortesia do diretor Rich Moore, estreando no cinema após anos envolvido com as séries Os Simpsons e Futurama. A marca Pixar se revela pelo colorido e pelo modo frenético como a ação se desenrola, mas é no “bonzinhos contra malvados” e no final feliz onde que a Disney mostra ser imutável.
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