Crítica
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Crítica
Não faltam exemplos para inundar o universo paralelo do "poderia ter sido" em Hollywood. Um dos famosos "quases" da década de 1980 foi vivido por Eric Stoltz, que chegou a gravar inúmeras cenas encarnando o icônico Marty McFly em De Volta para o Futuro (1985). Entretanto, por considerarem que o ator não estava se encaixando no papel, que exigia improviso e jogo de cintura, os produtores substituíram Stoltz por Michael J. Fox. O resto é História. Nesse contexto, há paralelos entre a famosa saga oitentista e a comédia de terror Dezesseis Facadas. E, vejam só, a aposta de 2023 também trata de viagem no tempo.
Na trama, associadamente, conhecemos Jamie Hughes (Kiernan Shipka), garota jovem e estilosa, e o município de Vernon, típica cidade interiorana dos EUA, cenário preferido dos filmes slasher (subgênero cinematográfico com psicopatas que matam aleatoriamente). Nos anos 1980, durante o Halloween, a região foi palco da ação brutal de um assassino mascarado que ceifou a vida de três moças em idade colegial. O quarto alvo, que nunca chegou a ser alcançado, é Pam Hughes (Julie Bowen), mãe de Jamie. Jurada de morte, a matriarca amadureceu e criou a filha preparando-a para enfrentar, ano após ano, qualquer mal-intencionado que cruze seu caminho. Desta forma, ambas são mulheres duronas.
A partir daí, a cineasta Nahnatchka Khan (Meu Eterno Talvez, 2019) propõe ao espectador a chamada "suspensão de descrença". De mãos dadas à realizadora, percorremos caminho de variados acontecimentos que resultam num deslocamento temporal, mesmo que as ferramentas para tal sejam mais duvidosas do que se possa imaginar. Mesmo assim, acatamos. Afinal, estamos nos coloridos anos 1980 e risonhos momentos não faltarão, nos fazendo dar de ombros às suspeitas. E quem contribuirá para que não haja vacilos, pelo menos até o início do segundo ato, é a protagonista. Contudo, infelizmente, essa tarefa vai se tornando árdua.
Estudante da melhor escola interpretativa que poderia cursar na infância - sete temporadas como personagem regular da multipremiada série Mad Men (2007-2015) - Kiernan Shipka é talentosa, dona de postura próxima a sua colega de geração Anya Taylor-Joy. Porém, assim como a estrela de O Gambito da Rainha (2020), a atriz é, evidentemente, mais ambientada com papeis densos e contemplativos, como a já citada produção que lhe lançou nesse mundo. Ou, ainda, investidas soturnas como O Mundo Sombrio de Sabrina (2018-2020).
A artista, enquanto base da narrativa, persiste firme em momentos divertidos de discussão sobre anacronismo. Comparações sobre as circunstâncias oferecidas aos jovens dos anos 1980 e a evolução prevista para 2023 são pontos altos. Destaque para reflexões acerca de trajes apropriados e educação infantil. Entretanto, a aventura que se apresenta precisa ainda mais de Shipka, lhe exigindo malemolência para cenas de humor físico e atrapalhado. Tal qual Stoltz, lhe falta o gingado de Fox para que absorvamos a quantidade de coincidências que precisam acontecer para que a trama funcione. Aliás, aqui não temos caso de "Deus ex machina" (solução inesperada e mirabolante para terminar uma obra ficcional), e sim de um Olimpo inteiro, tamanho o acervo de simultaneidades convenientes que se expõem para o desenrolar dos fatos.
Vale ressaltar que Dezesseis Facadas pode divertir. Mas para isso, o público precisará abraçar, de coração aberto, certas inconstâncias. Além do mais, há rachaduras nas tentativas de renovação de alguns temas trabalhados no final do século passado nas telonas. Enfim, complexos compromissos que os roteiristas da empreitada assumem e, lamentavelmente, não são capazes de controlar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 5 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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