Crítica
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Sinopse
Inconformada com a falta de pistas sobre seus falecidos pais, Salma tenta de todas as formas conjurá-los no Dia dos Mortos. Ao encontrar um livro misterioso, ela adentra numa aventura tão perigosa quanto esclarecedora.
Crítica
O que possivelmente a gente pensa quando tem em cena um protagonista órfão, ou mesmo adotado, em busca de informações sobre o passado nebuloso de sua família biológica? Salvo raras exceções, que há segredos (às vezes espantosos), algo passível de levar o tal sujeito a descobrir-se extraordinário ou bem próximo disso, não é mesmo? Os clichês estão aí e, a priori, não há nada de errado com sua utilização, claro, desde que os criadores não fiquem satisfeitos com a mera repetição das fórmulas, que eles estejam dispostos a brincar com os chavões e propor subversões ou desvios dos trajetos relativamente conhecidos do público. Pois, infelizmente não é o que acontece em Dia de Muertos, animação mexicana que começa promissora, apresentando a lenda do condenado à prisão perpétua por conjurar um feitiço que apartou a morte do seu vilarejo. O que parece benéfico, na verdade, é uma barreira antinatural, uma abominável quebra do fluxo natural da existência.
Visualmente, Dia de Muertos não sobressai pela qualidade técnica. Os movimentos e as texturas deixam a desejar. Todavia, chama atenção a beleza do design das figuras mortas (as vivas nem tanto) e, principalmente, dos cenários. Quando a ação se desloca ao mundo dos espíritos, os criadores mostram uma exuberância eventualmente de encher os olhos. Pena que esse potencial não é explorado, aliás, pouco acrescentando ao desenrolar do enredo centralizado na vontade de Salma (voz de Fernanda Castillo) de finalmente estabelecer conexão com seus desconhecidos pais. Na cidade em que ela mora com uma senhora e dois amigos de idades semelhantes à sua, todo dia 02 de novembro é marcado pela possibilidade de literalmente reencontrar os finados entes queridos. Mas, a menina é desaconselhada a, sequer, tentar construir um altar para contatar seus genitores. Claro, onde há fumaça, há fogo. Porém, o filme não consegue fazer mistério ou criar um suspense.
O primeiro ato de Dia de Muertos, ainda que fundamentado numa premissa para lá de surrada, tem seus momentos divertidos. Contudo, à medida que mergulha nas histórias verídicas soterradas pelas lendas, como a origem de Salma, a produção dirigida por Carlos Gutiérrez Medrano vai empilhando elementos, não dando tempo para circunstâncias e coadjuvantes amadurecerem. Por exemplo, os esqueletinhos conjurados num instante de transe passam o filme quase sem função, a não ser a de “ajudantes” fofinhos, quando muito capazes de oferecer uma visão moleque e sapeca dos mortos. De maneira semelhante, os desencarnados na aventura além-túmulo constituem engrenagens subaproveitadas de um roteiro que avança em desabalada carreira, como se fosse necessário acabar tudo dentro de 90 minutos. Reencontros, partidas, sacrifícios e demais situações com potencial de dramaticidade simplesmente não atingem a função à qual existem.
Em Dia de Muertos o fato de Salma ser a herdeira de magos hiperpoderosos parece suficiente para que os roteiristas Eduardo Ancer, Juan J. Medina e Pancho Rodríguez prescindam de maiores explicações. Ela pode tudo, de uma hora para outra, e ponto. Convenientemente, passa a ostentar dons excepcionais, se tornando a grande esperança na luta contra alguém que não se importa com regras universais desde que possível vingar-se. Dessa correria toda, da falta de desenvolvimento das demandas pessoais, decorre uma falha grave na espessura emocional. O problema nem é Salma ser análoga a tantos personagens que encontram no passado escondido a chave para salvar o dia, mas o modo ostensivo como o filme se contenta com o lugar-comum, nem ao menos tentando guardar cartas na manga ou brincando com determinados protocolos. No fim das contas, o clímax é o que dele se espera, com conciliações cômodas e tudo voltando aborrecidamente ao seu devido lugar.
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