Crítica


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Sinopse

Os anos se passaram e novas responsabilidades surgiram na vida de Dora. Agora ela frequenta a escola e mora na cidade junto com o seu primo, Diego. No entanto, precisará embarcar em uma nova aventura para salvar seus pais e resolver o mistério de uma antiga civilização perdida.

Crítica

Baseado na série de animação Dora: A Aventureira (2000-), que já se encontra em sua oitava temporada, Dora e a Cidade Perdida encontrou na jovem Isabela Moner (agora assinando como Isabela Merced, em homenagem à avó) sua intérprete perfeita – a semelhança da atriz com o desenho é incrível. O curioso, no entanto, é que Moner (ou Merced) participava de uma série derivada, Dora e Seus Amigos na Cidade (2014-), dublando uma coadjuvante, e não a protagonista. Alçada ao posto principal, a garota se sai particularmente bem por combinar uma inocência calculada – afinal, Dora foi criada na selva, junto aos pais exploradores e longe da civilização – com uma avidez por descobertas que logo cria identificação com o seu público-alvo. Sim, pois essa é uma questão que precisa ficar clara: este é um filme voltado a uma audiência bem infantil, e com isso em mente, fica evidente a eficiência de sua proposta.

Obviamente inspirado em sucessos do gênero, como a saga Indiana Jones, Dora e a Cidade Perdida se encaixa nesse contexto atual de oferecer um justo protagonismo às mulheres. Há homens em cena, é claro, mas ou são coadjuvantes, ou estão em condições de vilania. Ou seja, irrelevantes, ou prestes a serem combatidos. O pai de Dora, interpretado por Michael Peña, é o lado cômico do casal formado junto à Eva Longoria (que mesmo em roupas apertadas e maquiagem muito bem delineada, faz às vezes da pesquisadora séria). O primo, visto na pele de Jeff Wahlberg (sobrinho de Mark Wahlberg, colega de Isabela no primeiro grande sucesso dela, a superprodução Transformers: O Último Cavaleiro, 2017), é não mais do que o colega de aventuras, enquanto que Eugenio Derbez aparece como o atrapalhado que surge na última hora para salvá-los de um perigo maior, mesmo que suas segundas intenções não sejam nenhum mistério.

Há dois momentos distintos na trama. No começo, em um rápido prólogo, conhecemos os protagonistas enquanto crianças, entre objetos falantes (como a mochila ou o mapa) e companheiros inseparáveis (destaque para o macaco Botas). Esse início é eficiente para marcar o universo de fantasia que circunda a história. No entanto, ele logo se desfaz, acompanhando o amadurecimento dos personagens. Diego (Wahlberg) foi morar na cidade, e ela ficou para trás. Já crescida, chegou sua vez de acompanhá-lo. A chegada, no entanto, resvala por clichês bastante óbvios do gênero, como a estranha da escola que é vítima de bullying das meninas mais descoladas. Felizmente, essa parte é curta, pois o que importa é o lado aventuresco da trama – afinal, precisam ir atrás da tal Cidade Perdida do título, certo?

Diante de uma narrativa bastante linear, o espectador é convidado a acompanhar os deslizes e as conquistas de Dora ao lado de três amigos – Diego, o nerd Randy (Nicholas Coombe, de Sol da Meia-Noite, 2018) e a implicante Sammy (Madeleine Madden, de Tidelands, 2018). Eles são sequestrados por bandidos que acreditam que apenas ela poderá descobrir onde estão seus pais, que desapareceram enquanto procuravam pela mítica cidade de ouro dos incas. Enquanto fogem, são ajudados por Alejandro (Derbez, que é quase um Sérgio Mallandro mexicano, de tantas caras e bocas), que se diz um velho conhecido da família. Os cinco partem, em meio à floresta, atrás de pistas, e pelo caminho vão se deparando com areias movediças, câmaras inundadas e perseguições de última hora. Tudo muito bem calculado, nota-se, para que o perigo nunca chegue a ser, realmente, ameaçador.

Entre ganhos e feridos, percebe-se o desperdício de nomes de talento comprovado – como Adriana Barraza, indicada ao Oscar por Babel (2006), que surge como a avó sem nenhum momento de ‘palavras de sabedoria’, ou Q’orianka Kilcher, a Pocahontas de O Novo Mundo (2005), em uma participação mínima como uma Princesa indígena – ao mesmo tempo em que a desenvoltura de Isabela à frente do elenco chama atenção, respondendo à altura frente às exigências físicas e emocionais de uma personagem que deve, antes de qualquer outra coisa, conseguir se comunicar com sua audiência, o que faz com muita competência. No entanto, é de se lamentar a decisão da distribuidora brasileira de não exibir o filme em sua versão original, pois na dublada em português perde-se o desempenho vocal de figuras como Benicio Del Toro, como a Raposa, ou Danny Trejo, como Botas. Assim, com vários acertos – e alguns evidentes tropeços – Dora e a Cidade Perdida apresenta-se como uma introdução interessante, ainda que absolutamente controlada. Afinal, assim como Harry Potter permitiu que muitos chegassem até O Senhor dos Anéis, quem sabe essa jovem curiosa não consiga levar outros tantos até o professor de chapéu fedora e chicote?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
6
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
6

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