Crítica
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Sinopse
Dublê de cenas de perseguição em filmes hollywoodianos, um habilidoso motorista também utiliza seu enorme talento como piloto de fuga para assaltos. Seu estilo misterioso e solitário começa a mudar quando ele conhece uma vizinha. Mas, o fato do marido dela estar prestes a sair da cadeia vai bagunçar as coisas.
Crítica
Toda vez que a lista dos indicados ao Oscar é divulgada, temos sempre a categoria dos injustiçados. Aqueles que público e crítica torceram e aplaudiram, mas acabaram esquecidos pela Academia. Em 2012, o que mais parece ter são excluídos do que realmente merecedores do prêmio. Entre alguns filmes e atores que tinham todas as chances do mundo de brilhar na maior festa do cinema, mas acabaram de fora, estão Drive e Ryan Gosling. O ator de 32 anos começou a aparecer para o público após o sucesso de Diário de uma Paixão (2004). Porém, o potencial dramático começou a ganhar força mesmo em filmes como A Passagem (2005), e Half Nelson: Encurralados (2006), um pequeno - porém brilhante - longa que chamou a atenção de todos. Resultado: o ator acabou indicado ao Oscar. Um ano depois, por sua atuação mais visceral ainda, em A Garota Ideal (2007), todos os prognósticos indicavam que ele novamente seria nominado, mas acabou esquecido. Sem atuar no cinema por três anos, Gosling voltou aos holofotes com seu apaixonado personagem de Namorados para Sempre (2010). Mais uma vez, foi ignorado.
Porém, a situação parecia que ia mudar em 2012, já que o promissor intérprete esteve em nada menos que três ótimos papéis por Amor à Toda Prova, Tudo pelo Poder e, principalmente, Drive. Pelo primeiro, uma comédia romântica, concorreu ao Globo de Ouro de melhor ator em Comédia ou Musical. Na mesma premiação, disputou também para ator dramático por Tudo pelo Poder. Por Drive, foram quatro prêmios e indicações só para ele. No total, em menos de uma década, o ator já ganhou 21 prêmios e foi outras 32 vezes indicado em diversas premiações. Mas afinal, por que ele e Drive acabaram esquecidos (ou simplesmente excluídos) pela Academia?
Drive não é um filme fácil. Pelo contrário, é extremamente pesado, por mais que seus 30 minutos iniciais possam dizer o contrário. Talvez por isso a Academia tenha torcido o nariz para o longa. Os mais desavisados podem pensar se tratar de um filme de ação, dada à sinopse: dublê e mecânico atua nas horas vagas como motorista de assaltantes (sem nunca pegar em uma arma), se apaixona pela vizinha (que tem um filho e espera o marido que está na cadeia) e ainda ajuda o rival amoroso a limpar seu nome com uma quadrilha. Porém, nada é tão simplista no longa de Nicolas Winding Refn.
O Motorista (não, ele não tem nome) interpretado por Ryan Gosling é uma espécie de trágico anti-herói do pós-modernismo, alguém que revela diversidades identidades, sem nunca se prender a nenhuma. Ao mesmo tempo, ele tem uma ética própria que permeia suas decisões. A atuação de Gosling é fenomenal. Ele nem precisa falar muito em cena. Seu personagem é introspectivo, parece viver inerte às emoções. Não à toa, mesmo dirigindo um carro em alta velocidade ao tentar escapar da polícia, já na sequência inicial do filme, o nosso driver não esboça expressão nenhuma. Enquanto toca sua vida como dublê, mecânico ou motorista de assaltos, ele parece não ter nenhum proposito. Não vive, mas sobrevive. É um motorista sem rumo.
As coisas só começam a mudar quando ele conhece uma vizinha (Carey Mulligan) e seu filho. A empatia e a atração são imediatas. Quando estão juntos, pouco é falado, mas sorrisos e olhares não faltam. E é esta paixão, este amor, que se torna o calcanhar deste Aquiles pós-moderno. Para proteger sua paixão, o filho e o marido dela, o motorista introspectivo começa a revelar uma face violenta. Alguém que não tem muito, mas protege o pouco que lhe pertence. E as belas imagens, lentas e bem fotografadas da diversão com a vizinha e o garoto, tomam outra forma: o motorista dá um soco em uma mulher, atira na cabeça de criminosos, bate com um martelo na mão de um, esmaga a cabeça de outro com o pé... Sim, sangue não falta. Mas não é nada gratuito.
Todos os elementos estão na tela para mostrar as várias faces desse indivíduo, desse "real hero, a human being", trecho da música do College que faz parte da trilha do filme e resume em pouquíssimas palavras o que é esse motorista. A direção de Refn, assim como a bela montagem, acentuam muito bem essa mudança de padrões na estética do longa. Só assim para um simples beijo no elevador, com direito a luzes sendo apagadas, seguido de uma violenta briga com muito sangue, se tornar uma das mais belas e bem filmadas cenas do cinema mundial contemporâneo.
A trilha do filme também é belíssima: o pop eletrônico em clima oitentista permeia o longa, que não utiliza músicas em cenas que, em qualquer outro filme com carros, seria o normal. Quando o motorista está em uma perseguição, ouvimos apenas o ronco dos motores, o pneu no asfalto, o rádio da polícia, o que aumenta a tensão de forma natural. Não à toa, pelo menos na categoria Edição de Som, o longa foi lembrado no Oscar deste ano.
Porém, além de Gosling, da montagem e da direção, sentimos falta também dos coadjuvantes: Carey Mulligan está perfeita como a garçonete casada que se apaixona pelo motorista enquanto espera o marido sair da cadeia. As emoções contidas estão em cada olhar, cada gesto das mãos e nas poucas palavras que a intérprete profere. O mesmo não pode ser dito do personagem de Albert Brooks, quase um mafioso italiano que usa e abusa de palavrões para mostrar quem é o verdadeiro chefe no filme. O ator faz tudo de forma tão natural que acreditamos na crueldade que ele transmite, ao mesmo tempo que a sensibilidade é aflorada quando tem que aniquilar alguém que considerava um amigo. Além de tudo isso, os 31 prêmios e as outras 48 indicações que o longa recebeu pelo mundo, não há dúvidas: Drive é o melhor filme de 2011. E Ryan Gosling, o ator do ano.
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