
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Drop: Ameaça Anônima, Violet é uma mãe viúva que vai ao seu primeiro encontro romântico em anos e, chegando ao restaurante de luxo, fica aliviada ao constatar que o pretendente é mais charmoso e bonito do que esperava. A química entre eles, no entanto, fica comprometida quando Violet começa a receber insistentes mensagens anônimas. Mistério/Thriller.
Crítica
A primeira coisa que vemos em Drop: Ameaça Anônima é Violet (Meghann Fahy) lutando desesperadamente pela vida enquanto um homem a espanca e lhe aponta uma arma de fogo. Quando a situação parecia decisiva (atirar ou não no algoz) a ouvimos dizer “vamos retroceder um pouco” e automaticamente passamos a ver essa mesma personagem num atendimento psicoterapêutico a uma mulher vítima de relacionamento abusivo. Com esse encadeamento de situações, o roteiro assinado por Jillian Jacobs e Chris Roach nos induz a pensar que começamos a testemunhar o que aconteceu com a protagonista até ela chegar ao momento fatídico da luta contra o homem misterioso. Na verdade, isso é uma pegadinha, um truque para enganar o espectador, mas nada que seja fundamental para a trama. Então, porque há tanta ênfase nessa transição de tempo, na mudança abrupta da violência extrema para a calmaria aparente? É difícil saber, até mesmo porque essa circunstância representa a Violet um enorme trauma, o que cronologicamente ajuda a explicar as suas restrições quando é chegada a hora de sair de casa e ter um encontro amoroso mais uma vez. Qual o sentido de ludibriar o espectador e sugerir que esse presente na verdade é um passado, assim a luta pela vida sendo algo que ainda virá? Fato é que Violet está tensa por, depois de cinco anos, pisar novamente no terreno arenoso do amor.
Embora Drop: Ameaça Anônima esteja sendo comercializado como um filme de terror, ele está mais para um suspense de implicações psicológicas e morais. Violet deixa a irmã cuidando do filho e vai ao encontro do rapaz com quem tem se comunicado virtualmente há três meses. Pensando nesse início, a “pegadinha” inaugural tem como intenção criar alguma tensão no ar, sugerir que há perigos para a protagonista, ou seja, trata-se de um movimento falso que visa acender um sinal amarelo à plateia. Voltando à progressão da trama, a mulher nervosa chega ao restaurante chique, tem algumas interações sociais muito rápidas e logo está sentada diante do não menos inquieto Henry (Brandon Sklenar). Eis que ela começa a receber mensagens não rastreáveis por meio de um aplicativo que anuncia um sequestro: o filho e irmã estão sob a mira de um assassino e ela tem de fazer exatamente o que o chantagista incógnito pede para evitar duas mortes. A premissa é instigante e cria algumas possibilidades empolgantes. Uma vez que o perímetro é delimitado pelo alcance do aplicativo, sabe-se que o misterioso (ou misteriosa) vigarista está nas proximidades, especificamente no salão do restaurante e pode ser qualquer um. Será que ele é o garçom impertinente? A bartender atenciosa? O cara que aguarda a irmã? Ou até esse pretendente que acolhe as demonstrações de nervosismo com extrema paciência?
Então, o novo longa-metragem de Christopher Landon, o mesmo de A Morte te dá Parabéns (2017), é um exemplar do tipo whodunit, uma daquelas histórias que acontecem em torno da pergunta “quem fez isso?” – das quais Agatha Christie foi uma verdadeira mestra na literatura. Sendo assim, o grande objetivo do filme é esconder e depois revelar a identidade do chantagista. Suas qualidades, num primeiro momento, podem ser medidas pela maneira como as dúvidas são renovadas e substituídas por outras ao longo da trama. É preciso um pouco mais do que boa vontade para suspender a descrença a fim de acreditar em tudo o que acontece desde que Violet pisa no restaurante. A dinâmica da chantagem via aplicativo é crível, bem como a conspiração que aos poucos vai se revelando. Porém, a forma como o vilão desconhecido cobre todo e qualquer ponto cego é carregada de muitas conveniências e explicações mal formuladas. É claro que um filme não depende necessariamente do nível de verossimilhança. Há inclusive os que são espetaculares apesar de absurdos pouco críveis. Mas é preciso habilidade para suspender o muro da nossa descrença. E, definitivamente, o roteiro de Drop: Ameaça Anônima não é do tipo que nos faz “comprar” incoerências como se fossem aceitáveis. Em vários instantes essa teia de microfones, câmeras e afins é retratada quase como uma onisciência perturbadora, mas sem a aposta nesse efeito de uma rota sem saída. Falta ao filme umas boas doses de autoconsciência.
Se Drop: Ameaça Anônima abraçasse as incongruências como parte de um pacote estético-narrativo propositalmente escrachado, a sessão poderia ser ao menos divertida. No entanto, Christopher Landon prefere se agarrar à seriedade da situação, mas nem por isso desenvolve os dilemas morais da protagonista como poderia. Estamos diante de uma mulher traumatizada, obrigada a lidar com uma circunstância sem precedentes em sua vida. E o filme não faz mais do que enfatizar a hesitação todas as vezes em que ela está prestes a ceder completamente à chantagem. A dinâmica de gato e rato é interessante nos primeiros 40 minutos, mas depois disso se torna repetitiva e até um pouco cansativa. Em vez de elaborar melhor os obstáculos, a crescente frustração de Henry, a corrida contra o relógio e a necessidade de Violet de agir contra seus princípios, o cineasta prefere apostar na continuidade de enigmas reiterativos e de uma nem sempre criativa inserção visual na tela das mensagens ameaçadoras que ela recebe. Tudo isso converge para o encerramento preguiçoso, repleto de facilidades narrativas e atalhos tomados “na cara dura” para falsificar uma sensação angustiante de urgência. Haja vista a forma como uma vidraça quebrada causa a sucção de alguém indesejado e segundos depois não apresenta qualquer sinal de perigo. O clímax é um “felizes para sempre” forçado e um tanto tolo que sucede o longuíssimo monólogo do vilão que resume os planos, os motivos e mesmo a carga de prazer que arquitetar aquilo trouxe. É uma maneira bastante pobre de acabar com o mistério.
Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)
- G20 - 11 de abril de 2025
- Domingo Maior :: Círculo de Fogo, filme deste domingo (13/04), teve discordância de bastidor sobre o uso do 3D - 11 de abril de 2025
- Temperatura Máxima :: Alerta Vermelho, filme deste domingo (13/04), mostra cenário real entre China e Coreia do Norte - 11 de abril de 2025
Deixe um comentário