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Sinopse

Em Duas Garotas Românticas, Delphine e sua irmã gêmea, Solange, em seus radiantes 25 anos, dão aulas de dança e música na pequena cidade do litoral francês. Quando uma trupe chega a cidade, aproveitam para se unir a eles e realizarem seu sonho de ir para Paris em busca do amor ideal.

Crítica

Duas Garotas Românticas é um daqueles filmes deliciosamente carismáticos, que mesmo envelhecendo de certa forma após 50 anos do seu lançamento, ainda guarda o frescor das performances solares do elenco, mantém intacta a magia das canções que acabam por grudar em nossas mentes assim que terminam, se firma, enfim, como um programa mais do que recomendado para uma sessão aprazível e verdadeiramente divertida. Depois de ter lançado o encantador e premiado Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), o cineasta Jacques Demy levou três anos para lançar este seu sucessor – que, embora conte com Catherine Deneuve no elenco, não se trata de uma sequência. Um dos motivos da demora para a nova produção teria nome e sobrenome: Gene Kelly. O astro hollywoodiano de agenda lotada estava na mira de Demy para um papel em seu filme e só quando os compromissos do ator foram cumpridos ele pode embarcar nesta bela comédia romântica, estrelada pelas irmãs Deneuve e Françoise Dorléac – que, infelizmente, faleceu três meses depois da estreia do longa na França, em um trágico acidente de carro.

Com roteiro e direção de Demy, o longa-metragem conta a história das irmãs gêmeas Delphine (Deneuve) e Solange Darnier (Dorléac) em um final de semana movimentado em Rochefort, pacata região no sudoeste da França. A primeira sonha com um parceiro ideal e resolve terminar seu relacionamento com o pegajoso negociante de artes Guillaume Lancien (Jacques Riberolles) na esperança de encontrar um verdadeiro amor – ele pode ser, talvez, o pintor que desenhou um retrato muito parecido com o rosto de Delphine, que está exposto na galeria de Guillaume. O rapaz em questão é Maxence (Jacques Perrin), um sonhador artista que está prestes a ser liberado do serviço militar. Ele costuma passar tempo no café de Yvonne (Danielle Darrieux), sem saber que ela é mãe da figura desenhada em seu quadro. Enquanto isso, Solange espera poder ser bem-sucedida em Paris como compositora. Para tanto, pede ajuda ao senhor Simon Dame (Michel Piccoli), dono de uma loja de música na cidade, que tem o contato de um antigo amigo americano que está em Paris e pode ajudá-la. Ele é o astro Andy Miller (Kelly), que acaba aparecendo em Rochefort à procura de Dame. Um encontro fortuito entre Andy e Solange desperta interesse em ambos – sendo que nenhum imagina quem o outro possa ser. Nesta trama de encontros e desencontros amorosos, destacam-se ainda os amigos Etienne (George Chakiris) e Bill (Grover Dale), que estão na cidade para uma apresentação especial em uma quermesse e ficam sem suas parceiras dançarinas. Quem poderia salvá-los senão as irmãs Darnier?

Esse resumo básico dá conta dos pontos principais da história, mas não traduz de forma romântica o que acompanhamos nos divertidos 120 minutos de Duas Garotas Românticas. Demy é hábil em construir uma trama que entrelaça os personagens de formas curiosas e, muito embora já possamos prever o desenrolar de cada um dos romances que são colocados em nossa frente, é um grande prazer conferir o desenvolvimento de cada um deles. Embora ganhe menos destaque do que merecia, o romance de Yvonne com um dos personagens da história é um dos mais comoventes. Relacionamento terminado de forma torpe, por dez anos ela e seu amado sonham com um retorno. E nem imaginam que estão morando na mesma cidade – local em que se conheceram e tiveram sua love story.

O elenco chama a atenção pelos nomes graúdos. Temos Deneuve, que se destacava como a nova estrela francesa, seguindo os passos da irmã mais velha, Françoise Dorleác. Ambas estão radiantes como as protagonistas “românticas” do título. Além da dupla, a participação de George Chakiris (Amor, Sublime Amor, 1961) dava maior escopo aos momentos musicais. E, claro, Gene Kelly dispensa apresentações. O ator se arrisca no francês (mesmo tendo sido notoriamente dublado em alguns momentos), mas é na ponta dos pés que realmente conquista o espectador. Seus números musicais são os de maior destaque, até por terem coreografias um pouco mais rebuscadas que as demais. Em algumas cenas, temos atores que mal se mexem – como a sequência de Simon Dame. Em outras, notamos maior esmero, como a contagiante “Chanson des Jumelles”, que conta com Deneuve e Dorléac dançando animadamente em seu estúdio. Existe uma interessante crueza nas coreografias, que não são necessariamente perfeitas, mas que atingem as notas necessárias para causar encantamento. Este despojamento acabou por ser uma inspiração para o sucesso recente de La La Land: Cantando Estações (2016), com Damien Chazelle se confessando grande fã do trabalho de Demy.

O musical francês deve agradar até quem não é muito fã do gênero. Nesta produção, a trama não para a cada nova música. As letras e as cenas de dança fazem com que a história ande para a frente, nos fazendo conhecer mais de cada personagem, seu passado e seus objetivos. Mesmo que em alguns momentos Duas Garotas Românticas mostre certa artificialidade – ninguém aparece tocando piano de forma convincente, a maioria absoluta do elenco foi dublada nas cenas musicais, etc – isso parece perdoável em um filme desse gênero, visto que, afinal de contas, ninguém sai por aí cantando e dançando na vida real. O que é uma pena, dada a felicidade transmitida pelos personagens desse delicioso longa-metragem.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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