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Crítica

Representante oficial da Alemanha na disputa por uma indicação à categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2015, Duas Irmãs, Uma Paixão tem poucas chances de se destacar na premiação dos melhores do ano do cinema hollywoodiano. E isso não por ser apenas um filme ruim, mas, sim, por pecar pela falta de originalidade. Trata-se, afinal, de uma típica novela, nos mesmos moldes das vistas diariamente na televisão brasileira ou encontrada em abundância na literatura mais barata. A produção, muito bem cuidada, até impressiona pelo visual e no trato com os detalhes, mas carece de uma forma mais dinâmica e envolvente que dê conta desta história sobre duas irmãs envolvidas com um mesmo homem. Veja bem: apesar do título nacional, não é bem a paixão por ele que elas compartilham.

Escrito e dirigido por Dominik Graf, um veterano da televisão alemã, Duas Irmãs, Uma Paixão, acompanha as desventuras de Lotte e Line, ou melhor, Charlotte von Lengefeld (Henriette Confurius) e Caroline von Lengefeld (Hannah Herzsprung). Filhas de uma viúva em pleno século XVIII, as duas possuem poucas opções além de se sujeitarem à casamentos arranjados pela mãe para garantirem o status financeiro da família. E se Line, a mais velha, acaba aceitando uma união com um homem que não ama, a caçula segue em sua jornada rumo ao mesmo destino. Ao passar um período na casa de uma tia, no entanto, conhece o jovem poeta Schiller (Florian Stetter), com quem desenvolve uma curiosa amizade. Apesar dele aparentar ser o par perfeito aos seus olhos rebeldes de juventude, não é bem a ela que sua presença lhe causará fortes emoções. Será Lotte, a casada, que se sentirá atraída. Mas a única possibilidade de ficarem juntos é através do matrimônio entre ele e a irmã – afinal, ao menos seriam parentes.

Ainda que evite viradas óbvias em seu enredo, Graf não consegue tornar sua trama realmente surpreendente. As duas irmãs do título possuem uma conexão muito forte, e entendem o papel que desempenham para a manutenção da ordem ao redor delas. Por isso, assim como a primeira aceita o casamento arranjado, a segunda não se opõe a se unir à Schiller, alguém com quem simpatiza, pois assim imagina poder retribuir na mesma moeda o esforço anterior daquela que lhe salvou da pobreza. O problema, no entanto, se dá quando Line percebe que aquilo que para si estava quase como um capricho, a outra via com resignação, ao invés de prazer. E aos poucos as duas vão se afastando e introduzindo entre elas sentimentos que até então desconheciam, como inveja, ciúme e ressentimento.

Se o relacionamento que se estabelece entre este triângulo amoroso – ou quíntuplo, pois lá pelas tantas Line consegue se separar do marido, apenas para casar logo em seguida com o melhor amigo de Schiller e, assim, ficar ainda mais próxima dele – aparece em evidência, a trama de Duas Irmãs, Uma Paixão guarda para uma segunda leitura outro foco de interesse: o surgimento da imprensa e da literatura tal qual a conhecemos hoje, com as gráficas e técnicas tipográficas. Desde a formação profissional do poeta, que com o passar dos anos encontrará uma garantia de sustento como professor, até a introdução de figuras histórias como Goethe, tudo acaba conspirando para o surgimento de um outro talento literário, aquele que será responsável pelos parcos registros que existem até hoje sobre esta história e como ela chegou até nós. É uma pena, no entanto, que o diretor não se dedique com mais afinco a este contexto, parecendo preferir as meras e genéricas confusões românticas.

Premiado no Bavarian Film Awards (Melhor Fotografia) e selecionado para a mostra competitiva oficial do Festival de Berlim deste ano, Duas Irmãs, Uma Paixão foi concebido com quase três horas de duração, o que coloca em evidência seu caráter épico e excessivamente tradicional. Felizmente, a versão que chega ao Brasil é a internacional, reduzida em mais de meia hora. Ainda assim, é tempo demais para um desenrolar de episódios conturbado e enfadonho, que guarda seu interesse quase que exclusivamente pelos elementos que apresenta em paralelo, e quase nunca por aquilo que prefere colocar no centro de sua ação.

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