Crítica
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Sinopse
Um ator desempregado vai cuidar da casa do seu amigo. Instalado lá, se pega obcecado pela vizinha que possui o estranho hábito de deixar a janela aberta. Percebendo que ela está em apuros, tenta ajudá-la.
Crítica
O ator Jake Scully (Craig Wasson) está passando por um momento muito difícil em sua vida. Sua claustrofobia fez com que perdesse o papel de vampiro em uma produção de terror de baixo orçamento. Se não bastasse isso, ao chegar mais cedo em casa, dá de cara com sua mulher o traindo com outro homem. Sem lugar para morar e sem emprego, Jake está em uma encruzilhada. Por sorte, durante uma oficina de atuação, ele conhece o colega ator Sam Bouchard (Gregg Henry), que está precisando de alguém para cuidar da casa de um amigo enquanto ele viaja. Jake agarra a oportunidade com as duas mãos e se mostra aliviado por notar que as coisas possam estar mudando para ele. Ainda mais quando descobre que a casa que cuidará é luxuosa e tem vista para a mansão de uma bela mulher que, pontualmente à noite, dança de forma sensual e totalmente desinibida.
Observar sua vizinha através de um telescópio se transforma em uma obsessão para aquele homem. Ele quer conhecer aquela figura que, assim como ele, não tem sorte em relacionamentos. Ao xeretar o quarto da moça, percebe que o namorado dela é bruto e a maltrata. Neste jogo de vouyerismo, Jake também descobre o nome da vizinha, Gloria Revelle (Deborah Shelton) e que um misterioso sujeito com traços indígenas está a perseguindo. Agora, o fracassado ator fará de tudo para salvar sua paixão platônica, em uma trama que ainda envolverá uma bela atriz pornô chamada Holly Body (Melanie Griffith). Isso, em resumo, é Dublê de Corpo, um dos trabalhos mais cultuados de Brian De Palma.
É verdade que, quando lançado, o filme não ganhou o respaldo que poderia. De Palma foi inclusive indicado ao Framboesa de Ouro na categoria de Pior Diretor – sua terceira indicação e segunda consecutiva. Melanie Griffith teve mais sorte e chegou a ser indicada ao Globo de Ouro como Melhor Atriz Coadjuvante. Passado um tempo, o longa-metragem passou a ganhar status de cult, com público e crítica entendendo melhor o que o diretor buscava fazer em Dublê de Corpo.
O filme não é apenas um tributo aos filmes de Alfred Hitchcock como Janela Indiscreta (1954) e Um Corpo que Cai (1958). É um trabalho muito bem inserido na sua época, utilizando os exageros dos anos de 1980 para construir um universo comumente chamado de neon noir. A maquiagem é pesada, os figurinos são extravagantes, as cores são berrantes. De Palma pega emprestado algumas temáticas dos filmes supracitados, mas rearranja pontos cruciais e se dá o direito de brincar um pouco com os tão sérios suspenses de outrora, incluindo até um clipe divertido da banda Frankie Goes to Hollywood, que simplesmente invade a trama com a dançante “Relax”.
Talvez o problema de Brian De Palma foi não ter sabido a hora de pisar o pé no freio do exagero, extrapolando em alguns momentos e concebendo sequências vergonhosamente ruins, como a tomada com a câmera circundando Jake e Gloria enquanto os dois se beijam apaixonadamente na praia. A cena é tão forçada que o espectador é levado a crer que se trata de uma sequência onírica. O roteiro, que é assinado por De Palma ao lado de Robert J. Avrech, também pode ser considerado um dos elos fracos dessa produção, visto que muitos pontos da história acontecem de forma casual. A descoberta do grande twist da trama se dá completamente por acaso, ao Jake assistir televisão. Se ele tivesse lido um livro naquele dia ou tivesse ficado bebendo em um bar, o filme não teria o final que conhecemos. Por ficar demais refém do acaso, sem amarrar bem os acontecimentos, De Palma perde pontos.
De qualquer forma, quem se deixar levar pela história cheia de sensualidade e violência tem tudo para se divertir ao assistir a esta produção oitentista. Se as performances de Craig Wasson e de Deborah Shelton acabam por se mostrar pouco consistentes, ao menos temos Melanie Griffith em uma de suas melhores performances, vivendo uma atriz pornô com atitude e certa ingenuidade. Dublê de Corpo pode não ser um dos melhores trabalhos em que Brian De Palma tenta canalizar o mestre do suspense Alfred Hitchcock, mas também não passa tanta vergonha no teste da longevidade. Virou inclusive referência para Bret Easton Ellis ao escrever o livro Psicopata Americano. Motivos não faltam para o espectador procurar com certa curiosidade este falho, mas cultuado filme assinado por De Palma.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Rodrigo de Oliveira | 6 |
Chico Fireman | 10 |
Cecilia Barroso | 8 |
MÉDIA | 8 |
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