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Sinopse

Depois de derrapar feio na véspera de seu casamento, Roy aceita correr contra uma nova adversária, na Alemanha, a fim de não perder sua noiva.

Crítica

Duelo no Asfalto é a terceira parte de uma trilogia norueguesa empenhada em satirizar a saga Velozes e Furiosos. Mas, a Netflix, responsável por seu lançamento no Brasil, decidiu ignorar esse dado importante, inclusive trocando o título em português – os dois primeiros longas foram lançados por aqui como Rápidos e Perigosos. Esse novo batismo provavelmente tem a ver com uma estratégia do tipo “se o pessoal souber que há dois precedentes (e que não nos pertencem), vão desanimar”. Dito isso, evidente que há certos passados acessíveis apenas aos já iniciados na franquia, vide a participação do policial que faz bico de motorista de ônibus, introduzido como uma novidade que deveria causar, por si só, algum frisson. A trama gira em torno de um sujeito de meia-idade que, assim como todos seus amigos, é obcecado por automóveis tunados. Na véspera de seu casamento, Roy (Anders Baasmo Christiansen) mete os pés pelas mãos e beija uma desconhecida que, adiante, se revela uma ex-namorada de sua futura esposa. Essa contenda amorosa acaba indo para a pista.

O cineasta Hallvard Bræin flerta constante e propositalmente com o ridículo em Duelo no Asfalto, permanecendo num meio termo entre o escracho e o menos escancarado. A sequência do cortejo atravessado pela presença ameaçadora do Porsche vermelho engatilha o conflito principal do filme. A brincadeira interna de “quem chegar primeiro ganha a noiva” deixa de ser numa burocracia/protocolo de aficionados por competições e adrenalina, rapidamente ganhando contornos dramáticos por conta da desconhecida oponente. Esse é o ponto inicial, sendo o final a disputa num dos circuitos mais emblemáticos da Alemanha pelo amor da mulher que aceita, numa boa, ser tratada como um troféu ao vencedor. O miolo do filme é filiado ao road movie, com situações esdrúxulas acontecendo na estrada, algumas bem aproveitadas dentro da estrutura claramente farsesca, outras perdendo rapidamente fôlego, seja pela mera reiteração ou simplesmente por conta da falta de qualidade do material cômico. Bons coadjuvantes também não são bem aproveitados.

Roy vai sendo diluído pelas situações que, sem mais aquela, suplantam o engajamento com as pessoas e suas demandas. Desafio no Asfalto vale o quanto pesa sua capacidade de tornar ainda mais caricatural as circunstâncias devidamente exageradas de sua matriz Velozes e Furiosos. Cenas como a perseguição da polícia que acaba em malabarismos desafiando as leis da Física brincam com as extravagâncias da franquia chefiada por Vin Diesel. Mas, esse diálogo é bem esporádico. No mais das vezes, temos uma trama se arrastando para atingir a linha de chegada – a viagem é uma grande embromação cheia de figuras fugazes e ocasiões não menos esquecíveis –, além de visíveis problemas de continuidade. Alguém com os braços posicionados de forma completamente diferente numa transição simples de perspectiva é uma falha sem tanta potencial para nos incomodar, mas a velocidade de um automóvel variando muito no plano-contraplano certamente perturba a adesão do espectador. Mas, nesse quesito, nada se compara à insossa peleja nas curvas de Nürburgring.

Além de enxertar a fórceps dois carros na disputa que deveria ser um contra um, Hallvard Bræin principia a corrida com o circuito banhado por um sol escaldante, pista seca, para logo depois da primeira curva deixar que o cenário se transforme em chuvoso, assim tornado mais desafiador em virtude do piso molhado. Sem nenhum tipo de sinalização para instaurar o complicador – como a pontuação da mudança repentina, por exemplo – ele gera um solavanco tão grande entre tais tomadas, inclusive, com luminosidades discrepantes, que é difícil novamente não se descolar da suposta tensão em construção. Para piorar, na reta final o sol volta a predominar como se nada tivesse acontecido de diferente antes. Quem é escolado em corridas esportivas sabe que essa variação climática em perímetros enormes não é tão rara, mas aqui o problema reside na operação cinematográfica desajeitada para mostrá-la acontecendo por ali. A previsibilidade do enredo nem é tão incômoda, mas sim a forma como o diretor vai desperdiçando bons elementos em função de trivialidades. Nybakken (Otto Jespersen) é o coadjuvante mais non sense, por isso o melhor deles, porém soterrado, servindo somente de escada para personagens menos interessantes e criativos, a tônica desse filme norueguês.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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