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Sinopse

Um jovem elefante é ridicularizado no circo de onde vem por causa de suas enormes orelhas. Porém, ele e seu pequeno amigo rato vão dar um jeito de encontrar um uso fantástico para o que parecia ser um problema.

Crítica

Lançado em 1941, Dumbo, baseado num livro de Helen Aberson e Harold Pear, fala sobre um elefantinho discriminado por ter nascido com orelhas protuberantes. Numa realidade completamente antropomorfizada, em que animais de expressam como humanos e até o trem do circo ganha breves características orgânicas, acompanhamos o martírio do pequenino que logo se vê apartado da mãe. Como parte das animações clássicas da Disney, esta é focada nos efeitos da orfandade, aqui circunstanciais, mas não menos devastadores. O protagonista é desprezado pelas paquidermes semelhantes, maldosas ao ponto de bani-lo como uma aberração. Num primeiro momento, sobressai a graciosidade da trajetória da cegonha errante até o encontro, em trânsito, da Sra. Dumbo, que aguardava ansiosamente fazer parte do time dos bichos agraciados com filhotes. A construção do vínculo com o recém-chegado trata de estabelecer essa bonita afetividade, com a adulta fazendo de tudo para proteger a sua cria, inclusive, dos vários olhares julgadores.

Com quase 80 anos decorridos desde a sua estreia, Dumbo conserva a essência de sua bem-vinda mensagem de aceitação e superação. O ambiente que circunda o elefantinho é cruel, propenso a rechaçar todo sinal de diferença e/ou anomalia, algo infelizmente atual. Desse ponto de vista, o longa-metragem é uma alegoria da disputa entre respeito e intolerância. Nele, a ajuda vem de onde menos se espera, partindo do ratinho de prontidão que encoraja o desgarrado a entender peculiaridades como potenciais, não enquanto deficiência. A ironia vem do fato de, tendo em vista a lenda popularmente disseminada – que não tem qualquer fundamento na realidade, diga-se de passagem –, os imponentes elefantes teriam medo dos roedores. Porém, quando os seus viram as costas, é justamente essa “ameaça” minúscula que vem ao socorro do oprimido, protegendo-o de um entorno hostil, nem sempre apresentado com as variações necessárias pelo time de diretores.

Dumbo conserva o seu charme, boa parte por conta do carisma do protagonista, dos olhares perdidos que denotam a melancolia da solidão que lhe atormenta. Alguns números musicais, marcas registradas das produções Disney, são excelentes, como o dos corvos que auxiliam o filhote a explorar as características aerodinâmicas de suas portentosas orelhas. Os humanos em cena são meros penduricalhos, exceção feita aos palhaços, vistos como sombras confabulando para ampliar o efeito de um número, nem que para isso seja necessário colocar o indefeso e tristonho desgraçado em perigo mortal. É emblemática a cena do voo, quando Dumbo mostra à plateia que sua excepcionalidade é positiva e, com isso, alcança uma posição de destaque no show, bem como a benesse de voltar a conviver com a mãe. Mas, esse crescendo de autoestima é retratado de maneira acelerada, sem tempo suficiente para asseverar o efeito comovente que a reviravolta traz consigo.

Ainda que o filme seja vítima de uma oscilação de ritmo, certos segmentos são bastante marcantes, como a alucinação lisérgica de Dumbo e do rato companheiro por efeito da ingestão involuntária de bebida alcoólica. Na tela surgem elefantes coloridos, fusões improváveis resultando em formas disparatadas, numa sequência que dá conta de capturar o estado de embriaguez que desvincula os personagens daquela realidade. Dumbo, a despeito da rapidez com que se encaminha ao encerramento após a demonstração espetacular do protagonista, emociona pela singeleza com a qual desenvolve o percurso acidentado de um ser que nem bem chegou ao mundo e já precisa lidar com suas facetas menos bonitas. A fim disso, recebe incentivos improváveis e tem de juntar forças de onde não imaginava para conseguir, num sobrevoo de picadeiro, provar sua capacidade de ganhar. Ressalva feita ao fechamento baseado num pilar norte-americano, a primazia dos vencedores.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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