Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
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John Francis Daley, Jonathan Goldstein
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Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves
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2023
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EUA / Canadá
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Baseado no famoso jogo de RPG, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é assumidamente uma aventura cômica. A intenção parece ser combinar sequências de ação capazes de entreter a plateia (por mais de 120 minutos) com sacadas engraçadas que mantenham a atmosfera leve. Tendo em vista essa natureza logo escancarada, podemos imaginar que nenhum personagem terá qualquer densidade psicológica e/ou emocional, que as motivações dramáticas virarão enunciados superficiais sem tantas consequências e que, no fim das contas, o importante será justamente a criação de uma jornada empolgante e divertida. Mas, tudo tem um limite. Não é por abraçar claramente um viés escapista que o roteiro a cargo de Jonathan Goldstein, John Francis Daley e Michael Gilio recebe um passe livre para transformar os personagens em cascas vazias, valiosos somente o quanto pesam as suas participações esquemáticas e previsíveis nas sucessivas missões a serem cumpridas para alcançar um grande objetivo. Infelizmente é o que acontece nessa nova tentativa de reproduzir nos cinemas o sucesso que a franquia D&D ostenta há décadas no concorrido e vasto universo dos jogos. O candidato a blockbuster é tão genérico e sem personalidade quanto os numerosos filmes anteriores com o selo D&D, a típica tranqueira de locadora (lembram delas?) por conta da qualidade bem questionável. É apenas mais caro.
O protagonista é Edgin (Chris Pine), ex-membro de uma ordem de espiões. Ele começa o longa-metragem na cadeia, argumentando com os juízes porque é merecedor de um perdão oficial extensível à sua parceira de crimes, Holga (Michelle Rodriguez). Num enorme flashback, Edgin conta o infortúnio de perder a esposa, assassinada por magos malignos, e como a necessidade financeira levou à contravenção e a vontade de reencontrar o grande amor de sua vida o direcionou a um roubo malfadado que, por sua vez, o colocou no colo das autoridades. Mesmo numa produção escapista, espera-se a partir disso que Edgin seja visto minimamente como um sujeito afetado pela tristeza em busca de uma redenção purificadora. Mas, não é isso o que acontece. Os cineastas John Francis Daley e Jonathan Goldstein não enfatizam minimamente esses traços do personagem – exatamente aqueles que definiriam a sua jornada pessoal – em função do protagonismo de uma ação sem maiores impactos dramáticos. E isso acontece com todos os coadjuvantes dessa caminhada rumo ao confronto final, antecedido de várias pequenas aventuras intermediárias. A carência afetiva de Holga, a falta de confiança de Simon (Justice Smith) e o ímpeto revolucionário de Doris (Sophia Lillis) esvanecem ao longo da trama por falta de abordagem. As pessoas são apresentadas, seus passados e motivações vêm à tona nessa fase de aclimatação, e depois nada disso tem muita importância à investidura de cada um na missão.
O principal problema relacionado ao desenvolvimento de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é a utilização desavergonhada de coincidências sempre que a jornada do time de desajustados parece chegar a um lugar sem saída depois das encruzilhadas. Uma que outra eventualidade não seria algo problemático, mas há tantas conveniências no desenrolar da trama que podemos tranquilamente tachar o seu trajeto de preguiçoso. O trio de roteiristas não parece preocupado em criar sinuosidades, contratempos e barreiras com real capacidade de inviabilizar a missão dos personagens que lutam contra um tirano conhecido – aliás, vivido muito bem por Hugh Grant, ainda que num registro histriônico que ele tem repetindo com frequência. As dúvidas duram pouco, como quando a menção a uma magia enigmática é conveniente pelo conhecimento prévio dela; os empecilhos são rapidamente resolvidos, como depois de a ponte cair e um artefato mágico surgir milagrosamente para resolver o problema; as ignorâncias quanto a povos, conexões e relações são logo anuladas, como quando o personagem de Regé-Jean Page surge em cena com todas as respostas oportunamente levando ao avanço. O acúmulo disso nos leva a temer pouco pela integridade das pessoas às quais somos convidados a gostar. Trocando em miúdos: são raros os instantes em que tememos pela sobrevivência dos mocinhos.
Além de ser uma aventura bastante genérica, repleta de episódios de ação enxertados de lances engraçadinhos – e essa mistura de aventura e comédia realmente não decola –, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes recicla modelos vistos em filmes de super-heróis recentes. Edgin é próximo, em personalidade e atitude, ao personagem de Chris Pratt nos longas dos Guardiões da Galáxia (o pateta que se vangloria da liderança antes de provar valor e revelar a sua essência). Tanto que, com relação a ele, a entrada de Regé-Jean Page serve para reproduzir a dinâmica de rivalidade entre Thor/Senhor das Estrelas nos filmes da Marvel: a dificuldade do macho alfa de lidar com a aparição de outro macho alfa que também poderia liderar o bando. Além disso, a druidesa mal aproveitada de Sophia Lillis tem cabelo e figurino similares aos da Viúva Negra e, assim como a super-heroína oriunda dos quadrinhos, serve apenas como instrumento em certas missões. Já a riqueza desse mundo imaginário que abriga criaturas fantásticas, centenas de espécies dotadas de razão, monstros, magos, elfos e humanos encarregados de salvar o mundo simplesmente não é explorada. Cada tomada de um cenário suntuoso serve tão e somente para encher os olhos, nada mais do que isso. Para finalizar, a motivação do vilão não poderia ser mais desprovida de importância, assim acompanhando a displicência vista ao longo dessa produção cujo título brasileiro traz a palavra “rebeldes” para substituir a expressão “ladrões” do original.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 4 |
Suzana Uchôa Itiberê | 6 |
MÉDIA | 4.8 |
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