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Crítica


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Sinopse

Dois ex-agentes, ela da CIA e ele do MI6, decidem lucrar altas somas com a guerra fria existente entre duas corporações rivais. Mesmo não confiando totalmente um no outro, pretendem dar um enorme golpe em dupla.

Crítica

Alguns atores sentem tanto prazer ao trabalhar uns com os outros que, mesmo o resultado final não sendo tão empolgante, presenciá-los em ação acaba sendo, por si só, interessante. Pois é exatamente isso que acontece em Duplicidade, longa que marca o reencontro da dupla Julia Roberts e Clive Owen. Após um bem sucedido trabalho em conjunto no emocional Closer: Perto Demais (que rendeu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar para ele), eles agora retomam a parceria num clima bem mais leve e divertido – e talvez por isso mesmo não tenha surpreendido positivamente muita gente. Algo que, em última análise, é de se lamentar, afinal estamos diante de uma grande brincadeira, e qualquer um que captar este espírito certamente irá se divertir tanto quanto os envolvidos do lado de lá da tela grande.

Em Duplicidade Roberts e Owen interpretam dois espiões, em algo similar ao experimentado por Brad Pitt e Angelina Jolie em Sr. e Sra. Smith. Só que ao invés de trabalharem em agências secretas do governo, dessa vez estão a serviço da iniciativa privada – no caso, a indústria farmacêutica. Cada um está num lado de uma briga entre as duas mais poderosas empresas do setor, comandadas pelos ótimos Tom Wilkinson e Paul Giamatti. O que os patrões deles não sabem é que eles estão em acordo entre si – afinal, são amantes – e planejam utilizar os segredos dos concorrentes para benefício próprio. Como se pode perceber, ao mesmo tempo em que a trama procura refletir a nova ordem social e empresarial deste século se adaptando a um universo de verdadeira competitividade, ela se assemelha às antigas histórias em quadrinhos dos personagens da Disney, em que o Tio Patinhas sempre tinha que vencer nos negócios inimigos como o Patacôncio ou o MacMônei!

Quando estreou como realizador, Tony Gilroy (roteirista de filmes elogiados, como O Advogado do Diabo e a saga Bourne) atingiu seu ápice, com seu melhor trabalho até hoje: Conduta de Risco, que lhe rendeu duas indicações ao Oscar (Melhor Direção e Roteiro Original), além de ter premiado a atriz Tilda Swinton e oferecido ao público a melhor interpretação até hoje do astro George Clooney. Por isso era natural que as expectativas em relação ao seu próximo projeto fossem tão altas. Só que ao invés de seguir na mesma linha do thriller político, Gilroy preferiu relaxar, deixando a tensão e o nervosismo para o ótimo Intrigas de Estado (lançado mais ou menos na mesma época, mas no qual ele participa apenas no roteiro). E o que temos é este Duplicidade, um filme que foi mal entendido tanto pelos espectadores quanto pela crítica, mas que merece ser descoberto posteriormente.

Apesar do custo de US$ 60 milhões, Duplicidade arrecadou pouco mais do que a metade deste valor nas bilheterias norte-americanas. E, mesmo se pagando com a soma dos outros mercados ao redor do mundo, não deixa de ser considerado um fracasso – ainda mais se levarmos em conta de que é estrelado por uma antiga favorita do público, Julia Roberts! De forma alguma, no entanto, pode ser creditada a ela esta culpa. Se nos últimos anos vinha fazendo apenas pequenas participações (como no drama Um Segredo Entre Nós), aqui ela reaparece em plena forma, bela e sorridente. Owen, por outro lado, tem tido um ano movimentado (ao mesmo tempo entrou em cartaz no intenso Trama Internacional), e os dois juntos foram um par de química inegável. É prazeroso vê-los contracenar. E provavelmente este seja o maior mérito deste filme, dono de uma história tola e por vezes previsível, mas contagiante e divertida, que não deve ser levada tão à sério e aproveitada na medida em que se oferece como mero – e competente – entretenimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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