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Sinopse

Giulia é uma mãe que abandonou a carreira para se dedicar aos filhos. Carlo, seu marido, diferente dela, não tem tempo para a família e passa mais tempo no trabalho do que em casa. Tudo muda quando, cansada da monotonia de sua vida, ela decide sair de férias por dez dias, deixando-o sozinho com as crianças.

Crítica

E Agora? A Mamãe Saiu de Férias! se debruça sobre a velha questão do homem inepto para cuidar dos filhos, pois absorto em trabalho. Carlo (Fabio De Luigi) é apresentado como alguém beirando a inutilidade no efervescente seio doméstico, quase um quarto filho para sua esposa, Giulia (Valentina Lodovini). Ela é uma dona de casa em tempo integral que, de quebra, ainda precisa prestar consultoria jurídica ocasional ao esposo que labuta chefiando o departamento de recursos humanos de uma grande empresa. Desde os primeiros momentos sobressai o exagero, a caricatura, seja na delineação desses personagens destituídos de complexidade ou mesmo nas circunstâncias que estofam a jornada de aprendizados óbvios. O pai de família que mal consegue acompanhar o ritmo das crianças é forçado, por uma excepcional atitude da sua cônjuge, a tomar partido do cotidiano atribulado dos filhos.

E Agora? A Mamãe Saiu de Férias! não tem qualquer intenção de entender, nem sequer superficialmente, essa estrutura social, perpetuada por tempo demais como algo natural, mas atualmente em xeque, de homens atuando como provedores e mulheres zelando pela prole. Na verdade, Carlo age como um completo idiota – e parte do amadurecimento é ser menos tolo, no mínimo – ao questionar o peso que recai nos ombros de sua companheira. A velha bravata do “eu queria ter essa moleza de levar as crianças para a escola de manhã e depois ter o dia inteiro livre”, decalcada de um lugar-comum desprovido de bases reais, incentiva a decisão de Giulia de viajar para Cuba com a irmã por cerca de dez dias e deixar tudo nas mãos do marido. O cineasta Alessandro Genovesi se esforça apenas para corroborar a sensação de “já vi esse filme antes”, empilhando ocorrências corriqueiras em que a ineficiência (e a paspalhice) do pai é confirmada pelos desafios à frente.

No decurso de E Agora? A Mamãe Saiu de Férias! há uma pegada cômica meio pastelão, que ameaça até as frágeis leituras desprendidas dessa premissa convencional. Diálogos e situações constrangedores fazem parte desse pacote de opções malsucedidas, como quando um concorrente à vaga de queridinho do chefe ingere peixes que, por sua vez, se alimentam da pele morta dos pés do patrão. Piadas sem graça sobre dores de barriga ocasionadas por raviólis estragados; chistes não menos equivocados acerca da perda dos incisivos do executivo que, então, acha plausível ir à reunião profissional com a dentadura postiça que lhe deixa com uma aparência estranha. Tudo isso depõe contra a substância desse contato com os filhos. As possíveis mensagens acabam se perdendo no meio de tanta bobagem disposta em cena. Nem a articulação interna, numa equação que ainda comporta a utilização para lá de forçada de uma babá, funciona a contento nesse filme fraco.

Carlo é celebrado por simplesmente "dar conta do recado", algo que à sua esposa é rotineiro. Gradativamente, ele aprende a se comunicar com os filhos, a entender literalmente o que a caçula fala, a lidar com o, digamos, excesso de energia do rebento do meio e a estabelecer elos emocionais com a primogênita. Todavia, em E Agora? A Mamãe Saiu de Férias! essa mutação dos vínculos é feita de modo forçado, sem uma curva dramática suficientemente engenhosa para valoriza-la. Sobram, então, incidentes e acidentes supostamente encarregados de mostrar o quão árdua é a lida com o trio arquetipicamente instrumentalizado, com direito à sequência criada por meio de efeitos digitais de qualidade questionável em que o patriarca é ridicularizado, um evento que aponta à urgência da adaptação a essa nova conjuntura. De maneira abrupta, o workaholic, cuja disputa de espaço com o novato é também bastante anódina, vira alguém capaz de mandar o chefe às favas pela emoção de compreender as palavras da filha. Tantas conveniências e fragilidades sufocam o conjunto.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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CríticoNota
Marcelo Müller
3
Alysson Oliveira
1
MÉDIA
2

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