Crítica
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Sinopse
“E não há, de onde vejo, nenhuma diferença entre escrever um poema maravilhoso e me mexer na luz do sol junto ao corpo de uma mulher que amo”, diz Audre Lorde.
Crítica
E o que a gente faz agora? O título do curta da diretora e roteirista Marina Pontes é também a última frase dita no curta de pouco mais de dezesseis minutos de duração. Até este ponto, no entanto, a jornada não é de horas, nem de dias: meses se passam para quatro personagens, jovens que são reflexo de uma cultura cada vez mais diversa e inclusiva, esperança de uma nação mais justa e, por ser diferente, também igualitária – cada um do seu jeito, todos com seus valores e talentos, admirados pelo que são, pelo que carregam consigo e, principalmente, por tudo que prometem. Sejam essas ambições que serão cumpridas, ou não.
Abril. Amora. Amor. A imagem de duas garotas, sereias que seduzem e encantam, estampada na parede da escola, dá início a uma jornada de expectativas, alegrias, frustrações e, acima de qualquer outra coisa, descobertas. A que observa, também sonha. O que acompanha, tá sempre pronto para dar o empurrão que faltava. A que arqueia as sobrancelhas, mantém um pé atrás – e uma dúvida em mente. Os três são colegas, mas mais que isso: amigos. Compartilham momentos, compromissos, obrigações e anseios. A interação entre eles é natural, os atores agem como se fossem os próprios personagens. Entre uma tarefa a cumprir e um rolê de última hora, um deles ousa se imaginar nos braços de quem nem coragem de aparecer tem. Ouve-se apenas a voz, não mais do que isso. É o canto de que vem de longe, uma presença concreta, ou apenas desejada?
As garotas se apaixonam, se separam, e se veem, agora, mais sofridas do que antes. Frases de efeito, como “você não me merece”, são respondidas por outras ainda mais exageradas: “você merece o mundo”. Típico da idade, quando o passado parece não ter valor, o presente abraça as possibilidades e o futuro tanto pode ser infinito como nunca chegar a ter qualquer tipo de importância. Os que estão ao lado, mais do que apêndices, são também testemunhas. São eles que vão do “sabia que ia algo não estava certo” ao “vá à luta, minha amiga”. Mas é no momento em que fica completamente sozinha que a melodia se mistura com o lamento. Você até pode querer, mas só eu posso me machucar. A narrativa desvia um tanto de sua rota, e a mudança não é sentida sem um ou outro tropeço. Algo menor, mas não descartável.
Os meses vão passando, como folhinhas de um calendário. O desenho permanece no mesmo lugar, como um lembrete de dias melhores. Ou seria um anúncio de que a maré ainda irá virar a seu favor? Medos e ansiedades podem se desfazer como num estalar de dedos, bastando para isso um sorriso no rosto. Um carinho no rosto. Um afago nos cabelos. Um beijo apaixonado. O tempo à parte não mais existe. Resta, apenas, todo o resto destas vidas, agora juntas para sempre, mesmo que esse venha amanhã ou nunca mais. Pois nada mais importa. E o que a gente faz agora, além de sonhar?
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