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Sinopse

A complicada vida de Scarlett O’Hara, seus amores e desilusões em um período que tem a Guerra Civil Americana como pano de fundo. Rhett Butler é um vivido aventureiro que passa pela vida dela, em uma relação de amor e ódio marcada por conflitos já clássicos e cenas inesquecíveis de amor. Praticamente o inventor das telenovelas, devido aos conflitos constantes de emoções manifestadas e o romance como tema – não necessariamente por uma outra pessoa, e sim por uma causa, lugar ou qualquer outra coisa que se refira sentimentalmente ao personagem.

Crítica

Tudo em ...E O Vento Levou é superlativo. Desde sua temática grandiosa, passando pelo seu tempo de duração, seus prêmios, sua polpuda bilheteria e os milhões de espectadores que carregou para os cinemas. Mas o que fez com que essa produção assinada pelo visionário David O. Selznick e dirigida por Victor Fleming fosse esse sucesso retumbante? Claro que não existe apenas uma resposta. O fato do livro de Margaret Mitchell ter sido um best seller e gerar bastante expectativa sobre sua adaptação foi um dos pontos, certamente. Na época, todos queriam saber quem interpretaria Scarlett O’Hara e Rhett Butler, os amados protagonistas da trama, e como seria transportada a quilométrica história do casal, com a guerra civil norte-americana como pano de fundo. O resultado foi uma produção complicada, porém primorosa, que até hoje mantém seu status de clássico absoluto.

Adaptado para o cinema por Sidney Howard, ...E O Vento Levou conta a história da mimada Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), filha de ricos proprietários de terra no Sul dos Estados Unidos, dona de beleza e esperteza ímpares. Todos os homens do local desejam aquela jovem – porém, ela tem olhos apenas para Ashley Wilkes (Leslie Howard), corajoso e certinho bom partido. O problema é que seu amado já está com casamento arranjado com a bela e bondosa Melanie (Olivia de Havilland), o que não impedirá Scarlett de investir em um relacionamento com Ashley. Nem a presença do aventureiro Rhett Butler (Clark Gable) faz com que a moça esqueça o seu objeto de afeto. Com o estouro da Guerra Civil norte-americana, os homens partem para o conflito deixando suas mulheres para trás. Casada às pressas com um pretendente sem importância, Scarlett logo se vê viúva e nada pronta para viver seus dias de luto. O encontro com Rhett em uma festa beneficente reacende a chama naquele homem, que pretende ganhar o coração da jovem O’Hara. No entanto, a tarefa não será nada fácil devido ao gênio forte daquela mulher.

George Cukor foi o cineasta que começou a rodar ...E o Vento Levou, mas acabou sendo demitido após desavenças inúmeras com o produtor David O. Selznick e com o astro Clark Gable. Com isso, Victor Fleming foi chamado às pressas para assumir a cadeira de direção – o que o fez abandonar O Mágico de Oz (1939) na reta final das filmagens. Sua primeira ação foi mandar reescrever todo o roteiro – pedido aceito e realizado em cinco dias. Vivien Leigh notoriamente não gostou da mudança na direção, visto que Cukor a treinava de forma pacienciosa enquanto Fleming era conhecido como um sujeito rude. Este fato, no entanto, fez com que o cineasta e Gable fechassem completamente. Aceito ou não pela protagonista, Fleming a dirigiu no que seria sua atuação premiada pelo Oscar. Os louros, claro, são divididos com George Cukor, que mesmo fora da cadeira de direção ainda ajudava Leigh em suas falas.

Ainda que o romance seja o principal motor do longa-metragem, existem outros pontos a serem destacados nesta produção. A escravidão e a guerra civil são temáticas importantes, mesmo que a primeira seja apresentada de forma simplista. Os escravos que observamos comportam-se como empregados felizes, nunca sofrendo a mão pesada da sua condição. Esta glorificação da escravidão é uma mácula de ...E O Vento Levou. Ao menos com isso, ironicamente, os atores negros da produção ganharam personagens de destaque – e a boquirrota Mammy, interpretada por Hattie McDaniel, deu a atriz o Oscar na categoria Coadjuvante, o primeiro dado a um artista negro. Não deixa de ser curioso que o lado que acompanhamos – e, por serem os mocinhos da história, acabamos torcendo – é exatamente os norte-americanos que defendiam a escravidão. Felizmente para a História real, esta parcela foi vencida (e, a partir daí, começa a segunda parte da trama).

Os cenários grandiosos (muitos deles pintados à mão e inseridos em pós-produção), a fotografia muito bem concebida e os figurinos bufantes até hoje chamam a atenção, mas não são páreo para o real chamariz deste épico: o trio principal. Não fosse por Scarlett O’Hara, Rhett Butler e Melanie Wilkes, a tarefa de acompanhar as quase quatro horas de duração do filme não seria tão recompensadora. A começar pela heroína, uma mulher completamente à frente do seu tempo. Longe de ser uma mocinha insossa, sonhadora, certinha, Scarlett sempre busca pelos seus interesses e usa dos artifícios mais escusos para alcança-los.

A teimosia e arrogância da protagonista só são vencidos pelo charme rústico de Rhett Butler, um galã também pouco convencional para a época. Dono de seu próprio nariz, apreciador de jogos e de mulheres fáceis, o mocinho de ...E O Vento Levou gosta das coisas à sua maneira e não tem problemas em usar seu dinheiro para consegui-los. O que fica ainda melhor é que essas características de ambos – e que os tornam praticamente almas gêmeas – são também carapaças que escondem seu lado bom. Scarlett aprende a se preocupar com o próximo e se mostra responsável e trabalhadora quando necessário. Da mesma forma, Rhett mostra um amor incondicional por sua filha e demonstra ter uma verdadeira queda por Scarlett (e vice-versa), mesmo que ambos não consigam admitir.

Fechando o trio principal, ganha menção honrosa a personagem de coração mais puro de toda a história de Hollywood: Melanie Wilkes. Casada com a grande paixão da protagonista e sem nunca falar mal de qualquer pessoa, Melanie pode soar inverossímil naquele universo. Porém, Olivia de Havilland consegue transformar uma personagem que, em um primeiro momento poderia soar totalmente desinteressante, em uma grata surpresa da produção.

Vencedor de 10 Oscar (dois deles especiais) e dono de uma das maiores bilheterias de todos os tempos, ...E o Vento Levou é um clássico que deve ser visitado e revisitado por qualquer cinéfilo que se preze. É verdade que a duração do filme pode assustar e que a segunda parte do longa é bem menos interessante que a primeira. No entanto, a força dos personagens e a beleza das imagens – atrelada à inesquecível música de Max Steiner – fazem com que a tarefa seja nada ingrata.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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