Crítica
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Crítica
O jovem cineasta belga Joachim Lafosse (ele já tem mais de 40 anos, mas aparenta no mínimo dez a menos) havia abordado uma curiosa formação familiar em Propriedade Privada (2006), drama que mostrava Isabelle Huppert como uma mãe obrigada a lidar com o forte laço que unia seus filhos, interpretados por Jérémie e Yannick Renier (ambos irmãos também na vida real). Em A Economia do Amor, seu mais recente trabalho, ele pode não incorrer num exemplo de exceção, mas também não aposta num caminho tradicional. E o resultado, situado entre o teatro filmado e o cinema teatral, envolve mais pelo estudo dos personagens e da insólita – porém não tão incomum – situação que os envolve e menos pela série de acontecimentos que protagonizam.
Marie (Bérénice Bejo) chega em casa atarefada com as duas filhas pequenas. Entre perguntas sobre como foi o dia na escola, tarefas para casa e preparo do banho e do jantar, um susto: o marido (Cédric Kahn) está no quarto ao lado e surpreende as meninas. Ela o rechaça: “hoje não é seu dia”, afirma. Ele se justifica, afirmando ter se liberado mais cedo. A paz entre eles, percebe-se, é frágil. E logo fica ainda mais evidente: mesmo após as reclamações dela, ele não vai embora. A verdade é que os dois estão se separando. Mas quando os encontramos essa não é, ao menos aparentemente, uma questão a ser discutida. O problema é o que fazer depois. Ainda mais por continuarem morando no mesmo lugar.
A bela casa que habitam, aos poucos vamos descobrindo, foi adquirida no início do romance, para o começo do novo casal, com dinheiro dos pais dela. Em tese, ficaria com ela, portanto. Mas ele é arquiteto, e cuidou da restauração do ambiente. Ou seja, investiu tempo e trabalho no local. E se hoje encontra-se quebrado e devendo para agiotas, não lhe resta outra opção senão exigir da ex-esposa metade do valor da propriedade para, enfim, dar o primeiro passo nessa vida nova. Ela, por sua vez, recusa-se a pagar mais do que um terço, pois segundo seus cálculos esse montante seria o justo. Como chegar a um acordo?
É importante perceber que em nenhum momento esquece-se da presença das gêmeas, resultado de um tempo em que os dois adultos se amavam. Ele anseia por estar com elas, como se agarrando ao último elemento que resta do tempo em que eram todos felizes juntos. Ela parte do pressuposto que, sendo a mãe, tem direito absoluto e irrevogável. Mas também não quer afastar o pai das filhas. Os sentimentos entre eles podem estar desgastados, mas resistem. E se esse é um fato que se percebe com muito cuidado, logo uma ação impulsiva deixará claro o quanto ainda estão conectados, física e emocionalmente. Mas, apesar disso, seria possível relevar as rachaduras que provocaram esse rompimento?
Bérénice Bejo é um caso raro de atriz europeia que, mesmo após ter sido indicada ao Oscar (como Melhor Atriz Coadjuvante por O Artista, 2011), seguiu trabalhando em seu país, recusando-se a investir em uma carreira hollywoodiana. Aqui ela tem em mãos uma ótima oportunidade, alternando momentos de uma forçada rigidez com outros de alívio contido, tendo que se mostrar como o alicerce dessa família aos pedaços. Cédric Kahn, mais conhecido como diretor e roteirista de filmes como Vida Selvagem (2014), tem investido de uns tempos para cá no seu trabalho como intérprete (há pouco esteve em Um Amor à Altura, 2016), e encontra nesse filme um tipo que poderia facilmente cair no estereótipo, do homem inconsequente que não assume os próprios atos. No entanto, ele vai além, mostrando-se à altura das responsabilidades envolvidas, tanto na ficção quanto no campo artístico.
Encenado quase que inteiramente em um único ambiente, Lafosse explora com cuidado a casa que serve de cenário tanto para as batalhas entre os adultos como de palco para os momentos mais ternos entre eles. Somente no desfecho da trama é que há, enfim, um respiro no exterior, para logo em seguida voltar-se ao caminho que, inevitavelmente, precisam seguir. A Economia do Amor não se preocupa em apontar culpados ou inocentes, o que, no entanto, não torna o exercício de assisti-lo mais fácil. Tem-se um relato de uma verdade não impossível de acontecer – pelo contrário, sabe-se ser cada vez mais comum. É o retrato da dor que todo fim provoca. Restringir-se a ela ou aproveitar este impulso para seguir em frente é a decisão que faz a diferença.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Ailton Monteiro | 9 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
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