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Sinopse

Década de 1990. A a música eletrônica francesa se desenvolve em um ritmo acelerado na excitante vida noturna de Paris. Nesse instante, Paul dá os seus primeiros passos como DJ. Com seu melhor amigo, ele cria um duo chamado "Cheers", e rapidamente encontram seu público. Envolvidos em um eufórico e curto rumo à fama, o rapaz, cego por sua paixão, esquece de sua própria vida.

Crítica

Paul é jovem, bonito, saudável, mora em Paris, uma das maiores cidades do mundo, e tem praticamente tudo ao seu alcance: amigos, garotas, uma mãe compreensiva (que o cria sozinha) e muito tempo livre. Seu desinteresse crescente pelos estudos só não é trágico num primeiro momento porque sua atenção está sendo substituída por outra atividade que lhe parece muito mais interessante: a música. Mas não como compositor ou tocando algum instrumento. Paul quer ser DJ, arrebatar as pistas e conquistar multidões em busca de bons momentos de descontração e alegria. Mas assim como qualquer festa de arromba é composta por boas doses de exagero durante e arrependimentos no dia seguinte, também será a jornada do protagonista de Eden, drama francês dirigido por Mia Hansen-Love que parece, curiosamente, pender mais para essa sensação pós-euforia do que para a celebração em si.

A trama de Eden se estende do início dos anos 1990 até 2013 – um período, portanto, de mais de 20 anos. Mostrar todo esse passar de tempo em pouco mais de duas horas pode ser uma intenção um tanto ousada, a não ser que se deixe de lado amarras narrativas mais formais e se invista em uma proposta aberta e livre. Pois é exatamente que temos aqui. Acompanhamos com crescente interesse os acontecimentos da vida de Paul, porém sem a necessidade de uma linearidade precisa. Não há um evento específico que sirva para prender a atenção do espectador e que funcione como um gancho para o desenrolar dos acontecimentos. Muito pelo contrário, o que se busca é mais um sentimento em comum ao cenário apresentado e menos o impacto de um episódio ou outro nas trajetórias dos personagens. Uma posição arriscada, que afasta a audiência ocasional, mas recompensa os iniciados no assunto.

Paul (Félix de Givry, de Depois de Maio, 2012), logo no começo do filme, é abandonado pela namorada americana (participação especial de Greta Gerwig). A separação, ao invés de derrubá-lo, serve como impulso para se dedicar ao que realmente gosta: comandar as picapes dos clubes que frequenta quase todas as noites com seus amigos. É o início da ‘french house’, uma expressão que viraria febre a última década do século XX, e ele está literalmente no centro do furacão. Logo ele o colega Stan (Hugo Conzelmann, também visto em Depois de Maio), formam o Cheers, uma dupla de DJs que começa a fazer sucesso no circuito parisiense. A semelhança com o Daft Punk não é mera coincidência: a inspiração é assumida, e Guy-Manuel e Thomas Bangalter são até citados nominalmente. O que se vê na sequência é mais uma coleção de registros do que um desenrolar contínuo de fatos. Novas namoradas, amigos que se separam, a ida para Nova York e a descoberta do mundo, o envolvimento com as drogas, excessos, discussões, fama, tragédias e agitos. Altos e baixos como numa roda-gigante, que irá mostrar sem possibilidade de recurso que, após a subida, a única alternativa que sobra é a queda.

O interesse de Hansen-Love, assim como no anterior Adeus Primeiro Amor (2012), é trazer o espectador para dentro das emoções e sentimentos experimentados pelos tipos que povoa suas histórias. A montagem repleta de elipses, que exige um esforço daquele que assiste de preencher os espaços em branco, e a trilha sonora abrangente, viciante e hipnótica, são artifícios eficientes para atingir este feito. Além de um elenco coeso, a maior parte formado por jovens quase inexperientes, que oferecem atuações bastante naturalistas. Eden é o paraíso perdido, a chance de algo muito bom que se foi, sem chance de retorno, obrigando os sobreviventes a seguirem em frente e lidarem com as novas situações. Um tanto melancólico, é fato, mas ainda assim muito real.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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