Eduardo Galeano Vagamundo
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Felipe Nepomuceno
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Eduardo Galeano Vagamundo
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2018
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Brasil / Uruguai
Crítica
Leitores
Sinopse
A trajetória do falecido jornalista e escritor Eduardo Hughes Galeano na busca por seu lugar no mundo e sua fixação pelas coisas belas da vida. Sua história é contada através de grandes nomes da arte e também amigos de longa data.
Crítica
“Vagamundo”, de acordo com o dicionário, é sinônimo de “erradio, prófugo, errante, vagante, nómade, vagabundo”. Ou seja, quem anda por aí pela vida, sem eira nem beira. Tudo aquilo, aliás, que Eduardo Galeano nunca foi – mas sempre deu a impressão de ter sido sua aspiração máxima. Afinal, tentou de tudo – sonhava em ser jogador de futebol, começou como pintor de letreiros, foi mensageiro, datilógrafo e até caixa de banco. Não dava certo em nada, segundo o próprio. Por isso, se resignou àquilo que – ao menos tinha essa impressão, pelo retorno que recebia dos outros – fazia melhor: escrever. E, assim, nasceu um dos maiores autores do Uruguai, das Américas e, quiçá, de todo o mundo. Eduardo Galeano Vagamundo, documentário dirigido por Felipe Nepomuceno, tem essa missão de abraçar esse imenso personagem em um retrato íntimo de pouco mais de uma hora de duração. E é apostando no mínimo que acerta em cheio no seu objetivo.
Felipe Nepomuceno é diretor do programa Sangue Latino, exibido pelo Canal Brasil desde 2010 – e apresentado por seu pai, o escritor Eric Nepomuceno. Uma das tantas entrevistas que fizeram em todos estes anos foi justamente com Eduardo Galeano – Eric é o tradutor oficial do uruguaio no Brasil. Com esse belo e vasto material em mãos, surgiu a ideia: que tal ir além do formato televisivo e, através de algumas experimentações, criar algo novo, que melhor se adaptasse à tela grande do cinema? Com isso em mente, o projeto ficou adormecido. Ao menos até 2015, quando Galeano veio a falecer. Frente à esta notícia, Felipe precisou tomar uma atitude. Assim nasceu Eduardo Galeano Vagamundo. Um documentário que tem a intenção clara de homenagear a personalidade retratada. E isto não é demérito algum. Muito pelo contrário.
“Quantas vezes fui meu próprio ditador, aquele que me censurava e tolhia em mim as ideias que tanto incentivava nos outros?”, se pergunta as palavras de Galeano logo no começo do filme. Esse início, aliás, deixa claro qual será o tom a ser trilhado a partir deste ponto. As telas são substituídas com lentidão, oferecendo tempo não apenas para lê-las e compreendê-las, mas também promovendo uma absorção dos seus significados e emoções que eventualmente irá provocando. Vamos, aos poucos, mergulhando neste mundo de conceitos e reflexões. Nepomuceno não quer explicar o homem, e muito menos apresentá-lo de forma didática e potencialmente entediante. Prefere deixar para que ele mesmo cumpra essa missão, apenas criando as situações ideais para tanto. Deixa Galeano se expressar, seja na sua voz, ou através dos seus escritos. E cada declaração tem sua verdade, suplantada apenas pela seguinte, e assim por diante.
Para tanto, o time reunido é exemplar. Vamos de João Miguel e Walter Carvalho a Francisco Brennand e Mia Couto. Cada um recebeu textos de Galeano para ler – mas não apenas uma narração simples: imbuídos de talentos singulares, o que oferecem são interpretações vigorosas. Algumas são de cortar o coração, como a de Ricardo Darín, que sem nem ao menos olhar para tela, não permitirá que uma única alma na plateia não vá às lágrimas. O grande Paulo José é outro que oferece sua presença para engrandecer o autor. Ele não apenas lê no original, em espanhol, como também apresenta uma versão muito pessoal de um conto que fala justamente sobre o corpo – e quem o conhece sabe o quão importante esse tema é para ele. São participações escolhidas a dedo, que não apenas servem para ampliar a abrangência do filme, como também proporcionam uma imersão ainda mais completa, aproximando a audiência do escritor através de intermediários mais do que notáveis e, talvez por isso mesmo, desprovidos de vaidades ou maiores encenações.
Mas Eduardo Galeano Vagamundo não é apenas texto: é também imagem. E essas ficaram sob a responsabilidade de um time de fotógrafos – entre eles, o já citado Walter Carvalho – de primeiríssima linha. A maioria usa com destreza o preto e branco, enaltecendo cenários e usufruindo de paisagens de ilustram com precisão mais do que os relatos, mas também os sentimentos de cada fruição. Há também aqueles que decidem explorar as cores – como o vermelho, tão caro àquele que escreveu, dentre outros, o referencial As Veias Abertas da América Latina (1971). Dessa forma, Nepomuceno consegue mais do que simplesmente dizer quem foi Eduardo Galeano e qual a sua importância: mostrar ao seu espectador o peso desta obra e a relevância que teve não apenas em vida, mas a qual permanecerá sendo um pilar para a sustentação artística e cultural neste lado do planeta. Poderia ser mais fácil abordar essa personalidade através de um formato tradicional. Mas o diretor preferiu ser ainda mais simples. E, com isso, se tornou universal.
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