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Sinopse

Egon Schiele foi um dos artistas mais provocativos de Viena no início do século XX. O jovem talentoso e sedutor conduziu sua vida e obra de acordo com as mulheres que o cercavam. Gerti, sua irmã mais nova e primeira musa, e Wally, paixão de sua vida, imortalizada na famosa pintura "Morte e a Donzela". Causador de escândalos sociais, ele atraiu a atenção de artistas ousados como Gustav Klimt.

Crítica

Você já ouviu falar de Egon Schiele? Talvez sim, mas é provável que não. Isso porque, apesar da sua importância para o mundo das artes, dois motivos marcaram sua trajetória. Primeiro, ela foi muito curta: morreu com apenas 28 anos, há exatamente um século – em 31 de outubro de 1918. Segundo, por seu trabalho ter sido fortemente marcado pelo erotismo, não raramente visto, principalmente enquanto vivo, como pornográfico. As controvérsias envolvendo seu nome – uma delas chegou a levá-lo à prisão – acabaram marcando também sua obra, que foi perseguida e, por muitos, renegada. Tratados como estrelas do rock daquela época, artistas plásticos concentravam olhares e mobilizavam fãs e admiradores, na mesma medida em que eram vigiados e atacados pelas autoridades legais e morais. Egon Schiele: Morte e a Donzela busca, enfim, oferecer um estudo sobre essa existência tão emblemática, cujo trabalho até hoje encontra repercussão em nosso cenário cultural.

A estrutura assumida pelo diretor e roteirista Dieter Berner pega como ponto de partida os últimos dias de Schiele, quando já ardia de febre espanhola, a mesma que levaria sua esposa, Edith, três dias antes dele próprio. Da adolescência, quando contava apenas com a irmã caçula, Gerti, como modelo, até a data de sua morte, ficou conhecido como um homem de excessos e desejos. E é através das cinco mulheres que lhe foram fundamentais durante esta trajetória que o cineasta decide narrar sua história, turbulenta e repleta de altos e baixos. E relação assustadoramente próxima com Gerti, de quem se tornou guardião após a morte do pai, passando pela primeira musa, a atriz Moa Mandu, até encontrar as irmãs Harms, aquela com quem veio casar e a irmã dessa, Adele. Neste caminho, seu único e verdadeiro amor, Wally.

Assumindo uma narrativa absolutamente tradicional, Berner tenta escapar levemente deste viés mais tradicional através de inserções que pontuam os últimos momentos de vida do protagonista. No entanto, ao invés de contextualizar um presente, com rápidas idas e vindas ao passado, o que se vê é justamente o contrário: um grande flashback, intercalado vez que outra pelo desfecho daquela existência. É assim que ficamos sabendo da sua rebeldia enquanto jovem, da visão liberal que pregava em relação à arte e do modo absurdamente conservador com que lidava com a irmã, do casamento por conveniência com Edith e da relação sem regras que manteve por quase toda a sua vida adulta com Wally Neuzil, sua modelo, companheira e mais forte inspiração. Do apreço por garotas mais jovens – algumas não mais do que crianças – que, segundo a versão filmada, se resumia mais a um interesse estético do que sexual, ao enfrentamento das convenções sociais – a própria resistência ao casamento, que depois se revela sua salvação na fuga da guerra – tudo é detalhado, sem deixar detalhes profundos de fora. No entanto, com tanto a abranger, ressente-se justamente do óbvio: sentimento.

E não que seja problema dos atores. O novato Noah Saavedra, um desconhecido até então, cumpre bem o que lhe é exibido como o protagonista. Com devota entrega, exprime a fúria e a obstinação necessárias, mas carece de mais paixão pelo que faz. Parece estar sempre a ponto de briga, mais por um gênio difícil de ser controlado do que por um ímpeto criativo que o motive. Dentre as mulheres, o destaque absoluto é Valerie Pachner (Stefan Zweig: Adeus Europa, 2016), merecidamente premiada como Melhor Atriz por este desempenho no Austrian Film Awards. Na posição de Wally, oferece uma luz singular cada vez que entra em cena. O filme é outro antes dela, e volta a perder sua cor assim que é substituída por Edith (uma insípida Marie Jung, vista antes em Hannah Arendt, 2012). Das cinco mulheres que o cercam, é Pachner que justifica as maiores atenções.

Este não é o primeiro filme a ser feito sobre Egon Schiele. O diretor Dieter Berner justifica o seu trabalho por agregar novas informações, até pouco tempo atrás desconhecidas, sobre o artista. Tal declaração deixa claro o caráter didático do longa que elaborou. E ele não está desprovido de razão. Ainda que hoje seja saudado como um dos pais do expressionismo austríaco, Schiele acabou um tanto escondido do resto do mundo, sendo eclipsado por contemporâneos, como Gustav Klimt. Egon Schiele: Morte e a Donzela, portanto, cumpre sua função como porta de entrada ao mundo e à arte do pintor. Mas é melhor não esperar mais do que isso. E àqueles que aqui encontrarem o despertar de uma curiosidade, se tal sessão for completada por uma visita a um bom museu, já se pode considerar no lucro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Leonardo Ribeiro
5
MÉDIA
5.5

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