Sinopse
Crítica
Ao escrever estas linhas, um círculo se fecha: a crítica de um filme sobre um sujeito que faz o mesmo - que escreve críticas. Não há muito em que se apoiar se o leitor - quem sabe o próprio diretor, ¡Hola, Hernán! - estiver com a maldade aflorando. Caso goste do filme, os motivos serão os mais descomunais, desde o egocentrismo passando pelo prazer à autoindulgência. Se o caso for não gostar, então ainda pior. Incomodado com a zombaria proporcionada pelo protagonista, não saberia aceitar considerações ao meu trabalho, ainda que muitas vezes as faça ao ofício alheio. Muito bem, pois àquele que saída não tem, a saída já encontrou.
Longa de estreia, O Crítico tem roteiro e direção de Hernán Guerschuny. Mesmo que organize e leve adiante a revista Haciendo Cine, na capital argentina, Hernán faz questão de não se considerar crítico. Declaração que consta mais por curiosidade do que por importância. A alegação de que crítico gostaria de ser cineasta é falsa. Todo mundo quer ser cineasta. Exceto os cineastas, quando descobrem o trabalho que dá tornar-se um. Victor Tellez (Rafael Spregelburd) é o personagem título, o temido crítico de cinema. Com bloco de notas e caneta, senta na primeira fileira das sessões mais obscuras e, obviamente, vazias. De lá, toma notas que, em geral, descreditam a qualidade das obras. Contribui para isso o pessimismo com que encara a vida, o apego a um passado dourado - espaço em que os grandes filmes e diretores habitam suspensos - e um humor misto de indiferença e cinismo. O sintoma mais grave da doença autodiagnosticada "maladie du cinéma" é o de pensar em francês. O que, convenhamos, não é de todo mal. Victor odeia muita coisa, mas nada movimenta mais o seu sentimento destrutivo do que comédias românticas.
O primeiro ato segue bem. Destinado à construção desse personagem peculiar, os momentos arrancam risadas comedidas e pontuais do público, que se diverte com boas sequências como a do filme taiwanês experimental. Nos momentos em que opta por avançar a história através das narrações em off, o diretor deixa claro a carga intencional de referências a Nouvelle Vague, seja por ser feita em francês, seja pelo ritmo imposto. Mas a grande sacada de O Crítico é a inserção da personagem de Sofia (Dolores Fonzi) na trama. Mulher bonita, mas sem o refinamento esperado por Tellez, ela altera a realidade negativa do protagonista e o envolve em uma série de situações digna das mais conhecidas comédias românticas. Preso entre o sentimento e a razão, o crítico de cinema, espécie conhecida por não dar o braço a torcer nas suas opiniões, conduz o filme que, neste ponto, completou a ironia proposta desde o início ao tornar-se uma comédia romântica.
Agradável e com os méritos inegáveis de ser uma boa ideia, o longa limita-se a isso. O segundo ato, apesar de ser o mais interessante em termos de conteúdo, tem um ritmo frágil, distante do encontrado nos bons filmes do gênero, como em Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) ou Simplesmente Amor (2003), por exemplo. Na medida em que avança e as situações cômicas parecem ter se esgotado, o filme demonstra desgastar-se facilmente, deixando de ser interessante para tornar-se apenas simpático.
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estao de parabens pelas marerias excelentes.