Sinopse
Armando é um portenho, assassino de aluguel, que vive sozinho numa estranha casa no centro de São Paulo. É nesse lugar que ele mantém sua encomenda: um russo que aguarda, amarrado e vendado, os mandantes de seu sequestro. Tudo vai mal para o russo e bem para Armando até que Fábio, um jovem evangélico, toca a campainha e acaba trazendo não só a palavra de Deus, mas uma estranha mudança no rumo da noite.
Crítica
Imagine a cena. Fábio, um rapaz evangélico, buscando propagar a palavra do Senhor, cruza o caminho de Armando, um assassino de aluguel portenho, que está mantendo como refém em sua casa um homem russo. O jovem religioso se vê obrigado a entrar naquela casa e, sua presença e ações por lá, acabam mudando completamente o status quo. Isso é El Mate, uma comédia de erros divertida que toma emprestados alguns preciosos ensinamentos dos irmãos Ethan e Joel Coen, subvertendo a expectativa do espectador ao bolar uma trama solta e imprevisível.
O diretor de cinema estreante Bruno Kott é o autor do roteiro (ao lado do seu protagonista, o argentino Fabio Markoff) e também estrela o longa-metragem – ele é quem interpreta Fábio. Essa polivalência do cineasta se mostra necessária dado o número limitado de membros de sua equipe. Eram apenas seis pessoas nas filmagens, que duraram apenas 10 noites. Portanto, quanto mais dinâmico o processo, melhor. É notável a paixão que move os realizadores, algo que se mostra presente na tela em seus rápidos e precisos 70 minutos.
Por se tratar de uma farsa, El Mate se desprende de diversos conceitos caros para o cinema clássico, abraçando de forma completa e irrestrita os absurdos de sua trama e a excentricidade dos seus personagens. Portanto, observar um matador de aluguel deixar seu revólver nas mãos de um rapaz que mal conhece; ver um responsável pela medição de água fazer uma visita em plena madrugada; o barulho de tiros de uma arma de fogo não alvoroçar a vizinhança; ou um garoto religioso não se importar tanto com os fatos que se desenrolam à sua frente acaba não soando tão ridículo naquele universo. Isso, ainda que seja um predicado interessante, também acaba por ser uma muleta. Quando todos absurdos valem, o peso de qualquer ação diminui de igual forma.
Aqui, no entanto, o peso parece não ser relevante e, sim, a relação entre os personagens. Os protagonistas de El Mate são perdedores por natureza. Tentam acertar e erram a cada nova chance. Não muito diferente dos formidáveis perdedores criados pelos Irmãos Coen ao longo dos anos. Além dessas referências, temos lógicas menções ao cinema de Quentin Tarantino – uma pessoa amordaçada em uma garagem, os diálogos cheios de referências pop, a violência que ora é temível, ora é cômica. Sobra até para JCVD (2008), filme estrelado por Jean-Claude Van Damme e que coloca em xeque o que é real e o que é fictício quando um ator interpreta a si mesmo. Essa metalinguagem também existe dentro do trabalho de Kott, que chega a quebrar a quarta parede na metade do filme. Mesmo que tenha diversas referências externas, El Mate se mostra bastante original, até por mesclar esses pontos todos em um único filme.
Com equipe e elenco enxutos, o longa-metragem acaba se valendo demais da força de Fábio Marcoff como o protagonista Armando. Ótimo ator argentino, ele consegue fazer funcionar o humor bastante volúvel do seu personagem, que ora está fritando um ovo para seu novo amigo, ora está xingando até a sua décima geração pelas trapalhadas que fez. A dobradinha entre Marcoff e Kott funciona bem, até pelos dois terem criado seus papéis e estarem muito por dentro da dinâmica mais solta do filme. Os demais personagens inclusos no decorrer da trama, mesmo bem defendidos pelo elenco, acabam por só tirar o foco da dupla e não acrescentam muito ao todo.
A palavra-chave de El Mate é farsa. Se você embarca no estilo solto e nas excentricidades da narrativa e dos personagens, tem tudo para se divertir com o longa-metragem de estreia de Bruno Kott. Sabiamente realizado com apenas 70 minutos de duração, o filme consegue prender a atenção e não cansar o espectador com piadas esticadas, tendo um bom ritmo e momentos inspirados.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 7 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Robledo Milani | 6 |
MÉDIA | 5.7 |
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