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Sinopse

Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma escola secundária de Portland, no estado de Oregon, interior dos Estados Unidos. Enquanto a maior parte está engajada em atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semi-automática, com altíssima precisão e poder de fogo. Munidos de um arsenal de outras armas que vinham colecionando, os dois partem para a escola, onde serão protagonistas de uma grande tragédia.

Crítica

Era para ser somente mais um dia comum, igual a todos os outros. Crianças e adolescentes indo para o colégio, adultos se encaminhando para o trabalho, desocupados se virando para passar o tempo. As mesmas vitórias, conquistas, derrotas, humilhações. E teria sido totalmente normal, não fosse por um único detalhe: foi neste dia específico que dois adolescentes resolveram entrar armados em sua escola e assassinarem, à sangue frio, colegas e professores. O evento, que atingiu a vida real no final dos anos 1990 na pequena cidade de Columbine, no interior dos Estados Unidos, invadiu também a ficção no excepcional Elefante, realizado logo após o controverso Tiros em Columbine (2002), que tratou cinematograficamente do mesmo episódio, porém de modo documental.

Elefante, entretanto, é apenas uma história sendo – muito bem – contada. Não importa, aqui, a relevância de sua veracidade quanto aos fatos que realmente aconteceram. Não se nomeia lugar, prédio ou data – apenas pessoas. Também não há julgamento, nem questionamentos – isso se torna competência mera e exclusiva do espectador. Ao mesmo tempo em que a narrativa é a mais fria e distante possível do que está se desenrolando, somos colocados lado a lado com o cotidiano destas pessoas que serão afetadas pelo incidente que acontecerá a seguir. É curioso perceber que, mesmo sendo claro desde o início os eventos que se sucederão, como uma tragédia anunciada, consegue-se criar uma tensão forte em durante a trajetória, com um suspense crescente que nos conduz a um final chocante e inevitável.

Com um domínio de câmera impressionante, Gus Van Sant faz de Elefante seu melhor trabalho como diretor, mesmo tendo em seu currículo outras obras de inegável respeito. O roteiro alterna-se por vários protagonistas, alertando a audiência do quão patéticas – e, talvez por isso mesmo, fundamentais e únicas – são aquelas vidas. Não há culpa, nem perdão. Era apenas algo que seria feito, como um aviso das desgraças que cometemos sem nos dar conta, e de como pode ser fácil fazer o bem – e, principalmente, evitar o mal. Basta, para isso, apenas dedicação e interesse. Nem que seja em proporções mínimas.

Elefante foi produzido pelo canal de televisão HBO, e só ganhou às telas dos cinemas e uma maior repercussão após sua passagem vitoriosa pelo Festival de Cannes, onde recebeu a Palma de Ouro de Melhor Filme, além do prêmio de Melhor Direção. Um reconhecimento justo para um filme merecedor do alarde gerado à época. Muitos não o entenderam em sua proposta, outros preferiram simplesmente ignorá-lo. Uma lástima que só é redimida com a certeza de que cada um terá seu tempo para se “encontrar” com esta obra. Muitos dos estudantes que estiveram em Columbine num certo dia de aula certamente não terão essa oportunidade. É de se esperar que o espectador saiba reconhecer essa sorte. Afinal, ela é tão evidente quando um elefante no meio da sala.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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