Crítica
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Sinopse
Deixados à beira da estrada por seus pais, como forma de castigo por mau comportamento, dois jovens percebem rapidamente que a situação se tornou algo maior. Eles precisam enfrentar uma verdadeira jornada se quiserem voltar para casa.
Crítica
É o terceiro ato. No banco de trás do táxi, Cristiane deixa de lado o conforto do ar-condicionado e abre a janela. A fresta insignificante é um marco simbólico – quase didático – de Eles Voltam. Para entender o significado desse pequeno gesto é preciso retroceder ao acontecimento inicial do filme. Nele, em uma tomada de plano geral rara no cinema brasileiro, o diretor Marcelo Lordello escolhe por dar-nos o fato – não o detalhe. Após uma discussão com o irmão, ambos são deixados pelos pais na beira da estrada. O castigo está longe do olhar do espectador exatamente porque o diretor quer o acontecimento desprovido do julgamento, como seria de se esperar diante de um plano fechado. Os jovens demoram a perceber o que está acontecendo. Na primeira cena a sós, a discussão continua no ritmo trivial e infantil que desencadeou a irritação familiar. A reprimenda passa a ter sentido mais tarde, quando os irmãos perceberem que os pais não retornarão.
Eles Voltam é o primeiro longa-metragem ficcional do brasilense, radicado em Recife, Marcelo Lordello. Mais conhecido pelo olhar documental voltado à violência social em Nº 27 (2008) e Vigias (2010), o diretor faz uma aposta alta no primeiro trabalho no novo gênero. A premissa do filme parte de um ponto simples: Cristiane (interpretada pela jovem Maria Luiza Tavares) é deixada pelos pais na beira da estrada e precisa retornar para casa. O núcleo profundo, porém, exigirá muita sofisticação de roteiro e direção.
A narrativa tem o seu centro na trajetória da protagonista. O roteiro, igualmente concebido pelo diretor, coloca a personagem de Luiza Tavares em uma posição de desconforto, e a partir dele que tudo mais será criado. A oposição é clara. A protagonista deixa a passividade do seu universo burguês (e o qualifico porque não há dúvidas de que a crítica ao estrato econômico está presente, questão recorrente e veemente marcada pelo cinema feito em Recife, como O Som ao Redor, 2012, de Kléber Mendonça Filho, e Um lugar ao sol, 2009, de Gabriel Mascaro) para entrar em contato com o desconhecido. Abandonada, a garota é guiada por um menino para ter o que comer e onde dormir. Cris inicia, então, uma aproximação com outra realidade.
A oposição entre as classes sociais não pode ser tratada com maniqueísmo, detalhe que por vezes o filme não evita. Apoiada pela excelente combinação da fotografia de Ivo Araújo (O céu sobre os ombros, 2011) com a montagem de Eduardo Serrano, a trajetória da protagonista se concentra em uma descoberta dupla. Na parte final do segundo e em especial no terceiro atos, há o equívoco de Lordello flertar com uma série de temas, como a urbanização desenfreada e a segregação econômica, sem tempo ou espaço para aprofundá-los. Ao não pedir tal discussão, o filme se dispersa e encontra na atuação segura de Luiza Tavares um refúgio. Cris participa dos temas citados com a indiferença de quem sabe onde reside o problema mais grave – o seu. Depois de um giro, é para ele que a narrativa retorna. Caminhos diferentes forjam atitudes diferentes. Como lembra a música: as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Willian Silveira | 6 |
Ailton Monteiro | 7 |
Carlos Helí de Almeida | 7 |
Chico Fireman | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
MÉDIA | 7.2 |
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