Crítica
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Sinopse
O rei do rock’n’roll, Elvis Presley, aparece na Casa Branca solicitando uma reunião extraordinária com o homem mais politicamente poderoso do mundo, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Isso nos anos 1970.
Crítica
Lançado comercialmente nos Estados Unidos em abril de 2016, Elvis & Nixon foi recebido com um entusiasmo controlado pelos admiradores das personalidades aqui retratadas. Os elogios, que felizmente surgiram em maioria, se restringiram quase que unicamente às performances superlativas dos dois protagonistas, respectivamente Michael Shannon e Kevin Spacey. Já os ataques, e estes não foram tímidos, miraram no fato de que Spacey, já acostumado com a postura presidencial vista no seriado House of Cards (2013-), em tese se sairia muito melhor em sua composição do ex-presidente Richard Nixon do que Shannon, que ao assumir o manto de Elvis Presley faz tudo, menos uma caricatura do ícone pop. No entanto, é justamente pela opção ousada deste ator que o longa de Liza Johnson, baseado em fatos reais, consegue evitar uma possível mediocridade.
O episódio pode ser inusitado, porém não é a primeira vez que a cultura hollywoodiana se debruça sobre essa fonte. No início dos anos 1970, Elvis Presley há algum tempo já havia deixado de ser o ídolo das multidões – ao invés de arrebatar milhares de fãs por todo o país, parecia resignado a apresentações regulares em Las Vegas. Nixon, por outro lado, havia recém assumido um país combalido pelo fracasso que vinha sofrendo no Vietnã e pelo constante insegurança gerada pela Guerra Fria. Ele precisava renovar sua imagem, mas essa parecia ser uma preocupação muito maior dos seus assessores do que dele próprio. Porém, enquanto esse se ocupava da própria rotina, Presley havia decidido partir para ação. Inconformado com os rumos de uma sociedade doente – a qual pouco conhecia além do que via na televisão – chega à conclusão que precisa ter uma conversa com o presidente em pessoa, solicitando que esse o condecore com a insígnia de Agente Especial do FBI.
Porém, a despeito de auxiliares, conselheiros e demais intermediários, o cantor prefere não esperar, indo literalmente bater à porta da Casa Branca. Quando os responsáveis pela agenda do líder máximo da nação ficam a par do ocorrido, percebem ali uma oportunidade de ouro. Resta, no entanto, convencer o próprio governante a aceitar o encontro. Tarefa esta que não parece ser das mais fáceis. Nixon era um sujeito durão, à moda antiga, desconfiado de tudo e todos – tanto que é até hoje o único presidente norte-americano a ter renunciado ao cargo, após o escândalo Watergate, quando descobriram escutas em oponentes políticos à mando do próprio. Enfim, preferia fazer por baixo do pano aquilo que, nesse novo momento, deveria vir às claras. Elvis, por sua vez, também representava uma época que estava chegando ao fim. Seria por isso, imagina-se, que estivesse disposto a agir sob disfarce – como se isso lhe fosse possível – e infiltrado em células criminosas para fazer o que estivesse ao seu alcance contra a degradação moral e social que tanto lhe incomodava. Suas motivações parecem raras, mas não eram de todo descabidas.
O episódio imaginado em Elvis & Nixon foi de fato documentado – há uma foto do encontro dos dois nos registros nacionais – mas nunca se soube ao certo a natureza da conversa entre eles. Tudo que se pode fazer são elucubrações. Motivados pela notoriedade absurda de ambos, seria até mesmo questionável se não houvessem tido outras experiências ficcionais similares prévias a discorrer sobre o mesmo evento. Elvis Meets Nixon (1997) levou à televisão Rick Peters e Bob Gunton em ritmo de comédia descarada, enquanto que When Elvis Met Nixon (2009) fez uma breve investigação documental em um curta-metragem de apenas sete minutos. Coube à Liza Johnson (Amores Inversos, 2013) o esforço de desenvolver esse exercício com a pompa merecida, reunindo dois atores oscarizáveis e um elenco coadjuvante de peso para, através de um roteiro enxuto, abordar todos os absurdos e inequívocos desenlaces de uma união tão curiosa quanto anacrônica – resultando em um deleite visual e narrativo de imenso prazer.
Kevin Spacey está em sua zona de conforto, e o pouco que lhe é oferecido – ele sequer deixa o salão oval da presidência – é suficiente para exercer sua excelência. O destaque, no entanto, está em Michael Shannon, que ao invés de trilhar o caminho óbvio da imitação – quem nunca requebrou como Elvis? – cria o seu próprio personagem. As suíças longas, as roupas espalhafatosas e os óculos escuros estão todos no lugar, mas aquele ali em cena não é um Elvis Presley qualquer, e sim um tipo vivo, particular e próprio como nenhum outro. Isso oferece a Elvis & Nixon uma singularidade rara, elevando o status do projeto de mera sátira a um exercício de análise e reflexão. Pois foram figuras como essas que deixaram suas marcas indeléveis no retrato que hoje temos dessa época, com ações que repercutem até hoje. Patéticos ou geniais, talvez um pouco de cada. Mas, acima de tudo, únicos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Alex Gonçalves | 4 |
MÉDIA | 5.5 |
Quem colocou o ator do filme Freddy Krueger para interpretar Elvis nesse filme. Podendo chegar mais perto do real seria bom né.