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Sinopse

Durante uma viagem de mais de 10.000 km, o diretor Heitor Dhalia explora o universo cervejeiro com o objetivo de responder a pergunta "Existe uma cerveja perfeita?". Para descobrir, conversa com mais de 20 especialistas no assunto e traça um panorama completo da bebida, que é uma das mais amadas do mundo.

Crítica

A natureza institucional de Em Busca da Cerveja Perfeita acaba o definindo, o limitando bastante, sobretudo por conta da utilização de uma linguagem vulgarmente publicitária. Patrocinado pela AMBEV, o documentário de Heitor Dhalia parte de uma suposta missão, no título enunciada, para mal disfarçadamente fazer uma ode à cerveja, especificamente às que levam os rótulos da gigante patrocinadora. A empresa não atua como mecenas, pois faz às vezes de produtora efetiva de algo que visa tão e somente propagar a qualidade de suas marcas. Não há exatamente uma investigação para encontrar exemplares plenos em vários sentidos e, assim, próximos ao ideal. Uma vez que o decurso do filme mostra muitos processos, formas tão distintas quanto antigas de produzir uma das bebidas mais consumidas do mundo, é previsível a conclusão apontando à impossibilidade de chegar a um consenso, pois a excelência estaria atrelada ao momento, ao que os paladares pedem.

Cumprindo bem a sua função propagandística, Em Busca da Cerveja Perfeita entrelaça depoimentos de mestres cervejeiros, agricultores gabaritados e do jornalista encarregado de boa parte do lastro histórico apresentado, tudo em função do discurso agregador em torno da primazia de um bem. Não há, então, indícios de contrariedade ou ao menos choques de opiniões entre especialistas de filosofias obviamente distintas. Os dizeres se complementam, produzindo a sensação de uníssono tão cara à seara publicitária, afinal de contas o filme, para além de qualquer mergulho possivelmente mais vertical nesse mundo repleto de nuances e complexidades, horizontaliza a percepção de que cervejas são tão nobres e importantes quanto qualquer equivalente alcoólico. Eventualmente, sobressaem vínculos belos, como a paixão hereditária e a tradição.

Visualmente, Em Busca da Cerveja Perfeita é redundante. Os testemunhos são registrados em locais estratégicos, com fundos calculados para ambientar melhor as palavras. Heitor Dhalia abusa de câmeras lentas embaladas por músicas genéricas, bem como lança mão excessivamente de planos-detalhe de copos, taças e afins sendo preenchidos com bebidas de várias tonalidades e densidades, isso além de pessoas aleatórias expressando felicidade em torno de garrafas. Especialmente os dois últimos procedimentos expõem a necessidade prevalente de vender uma ideia através da deflagração de tudo o que diz respeito à produção da cerveja, até a sua dimensão histórica. Na cartilha comercial seguida à risca, cabem ainda a exaltação das diferentes escolas, suas peculiaridades, e a explicação pormenorizada de cada etapa basilar ao feitio.

Em Busca da Cerveja Perfeita é rico em informações e relativamente bem-sucedido ao apresentar os contextos histórico-social no qual a cerveja se insere. Todavia, por conta dos grilhões da natureza publicitária o filme permanece demasiadamente aferrado aos elogios de pessoas que vivenciam a cerveja como algo além de um prazer circunstancial e/ou festivo. Heitor Dhalia se limita a valorizar o produto ao qual foi incumbido de exaltar (ou seja, atende o dele esperado), mas o faz burocraticamente, curvando-se aos ditames da publicidade, trazendo efetivamente pouco de cinematográfico ao resultado. A defesa da polêmica adição de cereais, como arroz e milho, às cervejas é desenhada mais como resposta de Serviço de Atendimento ao Consumidor do que necessariamente enquanto justificativa dos pontos de vista científico e qualitativo. A estrita consonância dos depoimentos reforça esse sufocante caráter comercial de um filme feito apenas para vender, nada mais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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