Crítica
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Sinopse
James está numa encruzilhada quando se pega sem inspiração. O dramaturgo conhece uma jovem viúva e seus quatro filhos. Eles estabelecem um vínculo que, entre outras coisas, vai devolver ao escritor a vontade de escrever.
Crítica
De onde vem a criação? Como surgem as idéias? O processo de imaginação pode ser desencadeado de acordo com alguma situação em particular, ou é algo inato do ser humano, que surge quando menos esperamos? Estas intrigantes questões e outras ainda mais envolventes estão presentes na trama de Em Busca da Terra do Nunca, um trabalho notável que merece ser descoberto. Sensível, poético e assumidamente criativo, parte de uma possível história real para investigar as origens de uma das maiores obras da literatura mundial, ao mesmo tempo em que conduz seu espectador a uma jornada de incríveis surpresas e grandes descobertas.
Dirigido por Marc Forster, realizador de obras tão distintas quanto o drama A Última Ceia (2001) e a aventura Guerra Mundial Z (2013), Em Busca da Terra do Nunca é uma sensível poesia visual sobre o processo de elaboração do clássico Peter Pan, de James Barrie. Aqui, ele é interpretado com bastante competência por Johnny Depp, contido e interessado, longe dos excessos da série Piratas do Caribe, por exemplo. A trama começa quando, certo dia, ao passear por um parque de Londres com seu cachorro, encontra uma jovem viúva e seus quatro filhos. O contato entre eles, a princípio superficial, logo vai se transformar numa amizade sincera, e será desse convívio que irá tirar os elementos necessários para a criação do texto que o consagrou. Ao mesmo tempo, as experiências por eles vividas estabelecerão diversos paralelos entre fantasia e realidade, numa ação contínua que irá alterar as vidas dos envolvidos.
Com muita segurança e dedicação, Forster conduz uma história que merece mais ser sentida do que entendida. É um filme de emoções honestas e intenções abertas ao vívido e à liberdade. Temas como morte, perda, desilusões e infidelidade passeiam pelos entremeios da narrativa, sem deslumbres ou exageros, e suas abordagens são sempre sinceras e necessárias. Mas a forma como os personagens lidam com elas é que faz a diferença, pois o saber transforma desde os mais experientes até aqueles mais puros, cada um aprendendo com o outro lições de extrema valia.
O principal ponto de interesse de Em Busca da Terra do Nunca está na amizade que se estabelece entre Barrie e Peter, um dos filhos da viúva. O garoto é, dos quatro irmãos, o que mais sente a ausência do pai, e por isso mesmo será o que mais terá reticências ao surgimento de um nova figura masculina em sua vida. Paralelamente à cobrança que surgirá junto com o nascimento dessa nova ligação afetiva. Ele é o retrato do dito de Saint-Exupéry, que afirma que “somos responsáveis por aquilo que cativamos”. Se um dia a pessoa amada faltar, temos o direito de culpá-la pela omissão, ao invés de apenas lamentar seu sumiço?
O elenco de Em Busca da Terra do Nunca apresenta um conjunto bastante coeso, que conta ainda com as presenças sempre competentes de Kate Winslet, Julie Christie e Dustin Hoffman, sem falar na surpreendente revelação do pequeno Freddie Highmore (que repetiu posteriormente a parceria com Depp no remake de A Fantástica Fábrica de Chocolate, 2005). Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora (uma comovente composição de Jan Kaczmarek) e premiado no National Board of Review como Melhor Filme do ano, essa é uma produção que merece ser apreciada em toda a sua magnitude, seja pela bela história que conta, ou pelos sentimentos elevados que propaga. Com sua mensagem sincera e arrebatadora, é um trabalho que merece o reconhecimento recebido e as lágrimas provocadas.
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