Crítica
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Sinopse
Arturo e Flora querem se casar, mas precisam da aprovação do pai da moça que vive na Sicília. Em plena 2ª Guerra Mundial, a única forma para Arturo chegar no pequeno vilarejo é alistar-se no exército americano.
Crítica
O comediante Pierfrancesco Diliberto, conhecido por seu nome artístico, Pif, é um dos mais populares da Itália atualmente. Oriundo da televisão, ele agora dirige, roteiriza e estrela Em Guerra Por Amor, seu segundo longa-metragem para os cinemas, com um humor ácido focado na Segunda Guerra Mundial. Mais especificamente, na ajuda que os EUA concederam aos mafiosos italianos em troca de apoio aos Aliados para entrar na área ocupada da Sicília. A crítica é mordaz e, melhor ainda, feita com uma leveza que supera outros filmes do gênero que retrataram esse período histórico, como o aclamado (e superestimado) A Vida é Bela (1998), de Roberto Benigni.
Na trama, ambientada em 1943, Arturo Giammaresi (Pif) mantém um caso amoroso com Flora (Miriam Leone), sobrinha do dono do restaurante onde trabalha (Orazio Stracuzzi), nos EUA. Só que a garota já está prometida ao mafioso Carmelo (Lorenzo Patané), filho de Don Tano (Mario Pupella), amigo de seu patrão e que faz parte do clã de Lucky Luciano, aliado dos norte-americanos. A única forma de conseguir o impedimento do casamento é indo à Sicília e pedir oficialmente a mão de sua amada. Sem dinheiro algum, ele acaba no exército norte-americano, justamente numa missão programada à cidade italiana onde ele precisa estar. O fato de Arturo ser um conhecedor de vários dialetos ajuda ainda mais, mesmo o rapaz se mostrando um covarde de primeira no que diz respeito aos combates. E é nessa viagem que ele se torna o melhor amigo do tenente Philip Chiamparino (Andrea Di Stefano), que o ajuda na busca pelo pai de sua parceira.
O mais interessante em Arturo é a sua completa ingenuidade perante o que acontece ao seu redor, como um espectador focado apenas numa ideia totalmente fora de contexto. Ele não entende os trâmites da política estadunidense e suas relações com a máfia italiana, bem como as próprias missões para onde é mandado. Um ponto interessante do roteiro, já que inúmeras vezes entendemos, seja através de narração em off ou pelos diálogos entre os políticos, como funcionam as conexões da OSS (o serviço secreto norte-americanos da época) com a criação da Democracia Cristã, montada pelos mafiosos que conduziriam a vida no sul da Itália por décadas após o término da guerra.
O problema do filme talvez seja o ritmo e o encaixe entre seus eixos principais: a amizade do italiano com o ianque enquanto o primeiro tenta a todo custo conseguir a mão de sua pretendente na Sicília; ela que está nos EUA se desviando a todo o momento das garras de seu prometido e mala noivo; e o pequeno que cantarola uma das músicas favoritas de seu pai ao mesmo tempo em que precisa descobrir como viver em meio à guerra. Percebe-se uma falha no amor do protagonista ao tentar inserir a história da criança constantemente, já que esta acaba sendo muito mais emocional que o restante do roteiro. Ao mesmo tempo, o ar nostálgico proporcionado pela fotografia acinzentada e a decupagem que remonta aos filmes de comédia exibidos nos anos 40, em meio ao conflito, conseguem minimizar os pequenos descuidos e, talvez, negligências, dando um novo frescor para o longa-metragem.
Acima de tudo, Em Guerra Por Amor ganha pontos por conseguir tratar o tema de forma leve, mas nunca desconsiderando a importância e a tragédia que a Segunda Guerra causou ao mundo, especialmente, neste caso, à Itália. Mesmo em meio a tantas risadas, não é difícil encontrar cenas de corpos ensanguentados e atirados no front, ainda mais quando um dos personagens mais interessantes – um cego preparado para ouvir as bombas chegarem de longe – rouba as botas dos mortos, sendo preso com o parceiro de trambiques numa das sequências mais engraçadas da projeção. O longa foi indicado a três prêmios David di Donatello, o Oscar italiano, incluindo Melhor Roteiro, além de ter vencido o David of the Youth. Com certeza não é o mais brilhante de todos, mas faz o espectador ser mais leve e, ainda, com um conhecimento maior de história. E, ao contrário de seu protagonista, Pif tem a coragem necessária para tocar o dedo na ferida da Itália expondo todas as suas contradições num conflito tão intenso. Como uma boa comédia inteligente deve ser.
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