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Existem vários problemas nesta produção indiana dirigida por Sridhar Rangayan, Em Margens Opostas do Rio. No entanto, saber que um filme com temática LGBT foi realizado naquele país, que ainda carrega fortemente o preconceito em sua sociedade, é uma notícia tão positiva que é possível deixar de lado algumas das fraquezas do longa e apontar suas qualidades. Selecionado como um dos filmes da mostra competitiva do Rio Festival de Gênero e Sexualidade no Cinema 2018, o título tem uma história ingênua, porém universal.
Na trama, depois de quatro anos sem ver os pais, Kartik (Devansh Doshi) retorna para a casa. Ele é recepcionado por familiares e por uma pequena surpresa: seu pai, Damodar (Ananth Narayan Mahadevan), arranjou uma pretendente para o filho. Já era hora de o rapaz sossegar e se casar, afinal de contas. Viver na cidade grande tirando fotos não é vida para um homem. O velho autoritário não sabe, mas seu filho é gay, com um relacionamento duradouro com Aman (Arpit Chaudhary). Nem passa pela cabeça de Kartik contar ao pai essa verdade, mas sua mãe, Vasudha (Mona Ambegaonkar), que tem uma relação muito mais amorosa com o filho, poderia ser a pessoa com quem ele, talvez, ousasse se abrir. Depois de ensaiar a revelação, o rapaz conta a verdade para a mãe, que simplesmente não sabe como reagir positivamente à notícia. Seria possível ela continuar amando o filho depois desta novidade?
Para quem está acostumado a assistir filmes com temática LGBT, essa sinopse pode soar incrivelmente anacrônica, ultrapassada. O cinema em geral andou muito nos últimos anos em questões de diversidade sexual e uma história envolvendo uma mãe que não aceita seu filho homossexual pode parecer algo do século passado. Isto até é verdade em grande parte do mundo, mas não na Índia. O preconceito ainda é massivo por lá, com relações entre pessoas do mesmo sexo ainda sendo vistas como ilegais. Portanto, é no mínimo corajoso que Rangayan se aventure por estas águas. E antes de apontarmos o dedo para o cinema indiano, podemos lembrar que a TV brasileira ainda vê como tabu o beijo gay em suas novelas. Ou seja, existe um caminho longo a ser trilhado.
As atuações do elenco principal são convincentes, com destaque para Mona Ambegaonkar, que vive a matriarca. O personagem é o clássico retrato da mulher abnegada à casa, aos seus filhos e ao marido. Ela vive para o bem-estar da família e o baque ao saber da orientação do filho a faz pensar no amor que sente por ele. Quando observa como Kartik está sendo tratado, algo clica dentro dela. Seu amor é muito maior do que qualquer preconceito. Devansh Doshi também se destaca positivamente ao interpretar o protagonista, dando sensibilidade e simpatia ao personagem.
Agora, nem com a maior das boas vontades é possível fechar os olhos para todos os problemas em cena. A história pode ser manjada, mas a música incidental é canhestra, aparecendo a quase todo o minuto, martelando as emoções da trama de forma irritante. As montagens (uma verdadeira marca do cinema indiano) parecem ser inclusas apenas para constar. E o que dizer do tio do protagonista, que não pode ver a perna do sobrinho que precisa atacá-lo? Alguns clichês poderiam ter ficado na sala de edição, certamente. E, convenhamos, o casal principal aparece junto apenas uma vez e a maior demonstração de carinho é um abraço. Existe coragem, mas o filme tira o pé em diversos momentos. Neste caso, Em Margens Opostas do Rio parece ter como única função “apresentar” a homossexualidade para os espectadores mais velhos e conservadores. Se funciona ou não, é outra história. Por se tratar de um assunto raro na cinematografia indiana, certamente ganha pontos.
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