Crítica
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Sinopse
Leiloeiro de obras de arte, envolvido com um grupo de criminosos, recorre a um hipnoterapeuta para encontrar uma pintura perdida.
Crítica
O novo filme de Danny Boyle, Em Transe, deixará o público às escuras até os últimos momentos da exibição. Você até pensará que desvendou a história uma ou duas vezes durante a projeção, mas dificilmente saberá exatamente do que se trata antes do fim. Desta vez, o cineasta britânico responsável por Trainspotting (1996) e Quem Quer Ser um Milionário? (2008) aborda a ambição humana e a falta de escrúpulos partindo de dois pontos diferentes, porém ligados entre si na trama: o roubo de uma obra de arte e a amnésia.
Simon (James McAvoy) é um leiloeiro que se une à quadrilha de Franck (Vincent Cassel) para dar um golpe na casa de leilões na qual trabalha. O objetivo é roubar um valioso quadro de Goya para que ele possa pagar uma dívida exorbitante. Durante o assalto, Simon é atingido na cabeça e acaba esquecendo onde escondeu a pintura. Para lembrar, faz sessões de hipnose com a terapeuta Elizabeth (Rosario Dawson). Com edição ágil e trilha esperta, Boyle nos joga em uma espiral inventiva, na qual é difícil saber ao certo quais são as reais motivações de cada personagem. Simon é um cara enigmático. Dissimulado, não deixa transparecer sua real condição de saúde, muito menos se está agindo de má fé para se dar bem.
O gângster de luxo Franck, claro, duvida de seu parceiro. Não sabe se a amnésia é real ou se Simon estaria dando um golpe secundário dentro do seu próprio plano. Jamais admitiria ser enganado por um novato, muito menos arcar com um prejuízo milionário. Elizabeth percebe que seu paciente tem um comportamento especial, capaz de se desvencilhar do transe com facilidade. Fica em dúvida quanto às intenções de Simon com relação ao tratamento, mas segue em frente. Aplica hipnose profunda para extrair a verdade do paciente. Mas por qual motivo? Manipulação?
Em certo sentido, Em Transe aproxima- se de A Origem (2010) ao explorar níveis de inconsciência do protagonista. Mas a comparação para por aí. O filme de Boyle trata menos sobre os labirintos sensoriais da mente e mais sobre os descaminhos concretos que a cobiça pode provocar em pessoas aparentemente comuns. O domínio visual apurado de Boyle contribui muito para o longa. Esteticamente impecável, tem luz marcante ressaltando os momentos claros, escuros e pouco nítidos da própria trama. Aposta em enquadramentos arrojados e tratamentos de imagem que ampliam as sensações obscuras dos personagens. Além disso, desvincula Londres de suas paisagens óbvias e apresenta uma arquitetura que é o sonho de consumo de qualquer pessoa.
Em um período em que muito se reclama da crise criativa que afeta grande parte do cinema mainstream, especialmente no polo emissor hollywoodiano, Em Transe surge como um bom thriller com roteiro inteligente e arriscado (assinado por John Hodge, de Cova Rasa, 1994), que vai sendo construindo gradativamente para desenrolar-se em um turbilhão megalomaníaco, mas eficiente mesmo dentro de sua dimensão estratosférica.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Danilo Fantinel | 8 |
Francisco Carbone | 4 |
Robledo Milani | 7 |
Thomas Boeira | 7 |
Cecilia Barroso | 6 |
Edu Fernandes | 7 |
Roberto Cunha | 8 |
MÉDIA | 6.7 |
Interessante que, ao contrário da crítica acima, vi um roteiro feito de retalhos de um suposto suspense, que descamba no final em aberto da moderna (?) forma de fazer-se cinema. As sessões (?) De hipnoterapia são risíveis. Posso estar mal-humorado, quem sabe, mas que saudade dos roteiros enxutos nos Hitchcocks. Lembram-se?