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Crítica


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Sinopse

Depois de muito lutar para se tornar músico profissional, Antoine precisa buscar uma nova ocupação. Ele se torna zelador do prédio no qual conhece Mathilde, uma mulher recentemente aposentada com quem faz amizade.

Crítica

O que poderia acontecer em um simples pátio em Paris que não pudesse ocorrer em qualquer outro lugar do mundo? Talvez esse espaço público, notório por ser mais de passagem do que de proveito, ainda mais na capital francesa, reconhecidamente uma das cidades mais charmosas do mundo e com tantos pontos de interesse, seja o local perfeito para simplesmente desaparecer. E não apenas sumir por completo, mas antes de mais nada do olhar público. Não ser notado, enfim. Pois é exatamente o que pensa Antoine (Gustave Kerven), que de forma discreta tenta dar um sentido à própria vida no filme Em um Pátio de Paris, comédia dramática que acaba sofrendo do mesmo mal que seu protagonista: a falta de um rumo mais objetivo.

Antoine é um homem como qualquer outro, com ocupações e responsabilidades. Tem um problema, no entanto: não consegue mais dormir. E a insônia crônica, obviamente, é somente um reflexo de sua insatisfação geral. Desiludido, toma uma atitude exasperada: de uma hora para outra, ao invés de explodir graças à pressão diária dos compromissos, decide abandonar tudo e seguir em frente, sem olhar para trás. Abandona a família, amigos, trabalho e acaba indo parar como zelador de um prédio com vários moradores. Ali, suas obrigações são mínimas: varrer o chão, manter o ambiente limpo, evitar vendedores ocasionais, proteger o patrimônio. Porém nem sempre as coisas são tão simples. E aos poucos ele passa a se envolver com os habitantes locais. Entre eles, Mathilde (Catherine Deneuve), uma aposentada que, assim como ele, também está à procura de uma maior motivação para continuar vivendo.

Mathilde é casada, e o marido não consegue compreender com exatidão as novas obsessões da esposa. Um dia é uma atividade beneficente, noutro é uma rachadura no prédio. O único que parece entendê-la nessa busca por algum sentido é Antoine, e muito provavelmente por estar tão perdido quanto ela. A ligação que se estabelece entre os dois não será física, muito menos romântica. É quase como um encontro de almas, como se complementassem um ao outro em seus calados desesperos. Mas o homem tem mais com o que se preocupar. Há o vizinho (Pio Marmaï) que vende bicicletas usadas e usa o pátio como depósito pessoal, ou o que insiste em controlar a tudo e todos (Nicholas Bouchaud), sempre atento a qualquer deslize incriminatório. Sem esquecer, claro, do vendedor de livros de uma seita religiosa (Oleg Kupchik), que está tanto em busca de um negócio quanto de um amparo.

Os tipos que transcorrem a ação de Em um Pátio de Paris poderiam, num primeiro instante, dar a impressão de compor um cenário tão diverso e cômico quanto os vistos em As Mulheres do Sexto Andar (2010) ou em A Gaiola Dourada (2013), para citarmos dois (bons) exemplos recentes. No entanto, o filme de Pierre Salvadori – o mesmo das comédias românticas Amar não tem Preço (2006) e Uma Doce Mentira (2010), ambas estreladas por Audrey Tautou – tem uma pegada mais dramática, usando como argumento central as diferentes maneiras como cada personagem lida com um sentimento em comum: a depressão. O final, anticlimático, serve ao menos para espelhar como a ausência de um norte pode afetar cada pessoa de um modo particular. Infelizmente, no entanto, essa falta de rumo se reflete também no enredo, que parece indeciso entre uma posição ou outra. E assim termina no meio do caminho, sem conseguir chegar a lugar algum.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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