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Sinopse

Hallie se sente confortável com seu relacionamento com Owen e está pronta para o próximo passo. Ele acredita ter os mesmos interesses da namorada, mas sabe que ainda não está preparado. Willa veio visitar a prima em Los Angeles. Enquanto isso, Matt está em busca de um amor de verdade.

Crítica

Chega a ser curioso o adendo ‘sério’, presente apenas no título brasileiro, quando o original em inglês é apenas In a Relationship – ou seja, ‘em um relacionamento’. Afinal, os quatro protagonistas de Em um Relacionamento Sério lutam o tempo todo entre assumirem ou não a ‘seriedade’ de suas relações. Esse olhar um tanto despreocupado sobre o comportamento de jovens com seus vinte e muitos anos (beirando os 30, afinal) poderia resultado em algo descartável, não fosse o comprometimento do elenco e o interesse progressivo revelado pelo diretor e roteirista Sam Boyd, que optou para estrear no formato com a adaptação de um curta de mesmo nome que havia realizado alguns anos antes. A parte séria da questão, portanto, é muito mais perceptível na entrega dos atores e no trabalho do cineasta e menos nos embates ficcionais, estes reservados a um questionamento aparentemente simples, mas recorrente: até quando maturidade e juventude deverão ser vistas como opostos, ao invés de complementares?

Hallie (Emma Roberts, também produtora) é apaixonada por Owen (Michael Angarano, de O Reino Proibido, 2008), e está pronta para dar o próximo passo: por quê os dois não vão, enfim, morar juntos? Ele, no entanto, não quer abrir mão de uma suposta liberdade, mesmo sem dinheiro para se manter por conta própria – dividir um mesmo lugar com outra pessoa pode ser vantajoso inclusive economicamente – e, além do mais, por já passar mais tempo na casa da namorada do que na própria, ainda que não perceba. Os dois estão naquela fase em que tudo parece servir de implicância um com o outro, e toda pequena discussão ganha proporções inesperadas, justamente por esconder um debate mais sério, aquele que tanto se esforçam para evitar: para onde querem ir com aquela história? Ela espera que ele assuma o que sente, enquanto que o rapaz quer apenas seguir de forma despreocupada, como se qualquer tentativa de dar nome ao que ambos estão vivendo fosse acabar com a magia entre eles. Quando se dão conta que não há mais o que protelar e o assunto finalmente vem à tona, fugir parecerá uma opção mais agradável do que lidar de frente com a situação.

Caminho oposto percorrem Matt (Patrick Gibson, de Tolkien, 2019) e Willa (Dree Hemingway, de Uma Estranha Amizade, 2012). Ele, melhor amigo de Owen, conhece ela, prima de Hallie, em uma festa. A atração entre os dois é mútua, e na mesma noite acabam dormindo juntos. No entanto, o que acontece a partir do dia seguinte é o oposto do que se costuma presenciar em relatos como esse: a garota vai levando sem muita preocupação, enquanto que o rapaz é o primeiro a tomar iniciativa, como ligar no dia seguinte, chamar o que estão vivendo de ‘namoro’ e assim por diante. Ela segue dando atenção para outros flertes do passado e pensando apenas no dia a dia, sem refletir mais demoradamente a respeito da consistência dos acontecimentos entre eles. Já o garoto está cada dia mais entusiasmado com cada pequena descoberta que estão vivendo, com planos mais avançados sobre os dois. Ela vive o agora, ele está com a cabeça no amanhã. Como se pode imaginar, esse desencontro acabará se refletindo num conflito com o qual terão que aprender como lidar.

Sam Boyd, no entanto, não está preocupado com finais felizes. Deixa claro que esse é um desfecho reservado aos contos de fadas, e que na vida real – ou, ao menos, na representação que se propõe sobre essa – mais importa o durante do que o depois, os passos dados em qualquer trajeto vivido a dois do que um futuro a ser alcançado de forma hipotética. Quando Hallie e Owen se separam, sob a desculpa de que ele precisa de um ‘tempo’ para reorganizar suas ideias, é difícil evitar o clichê dele partir em busca da uma farra irresponsável e ela sucumbir aos lamentos de um romance que pode ter sido em vão. No entanto, quando é o oposto que se passa entre eles – mesmo sem querer, será ela que terá que lidar com novos pretendentes, antes mesmo do que o ex-companheiro – o sinal de alerta será dado. Da mesma forma, Willa precisará aprender a enxergar Matt sob outros olhos, mais intensos e compenetrados, se não quiser perdê-lo de vez. Ainda que, assim como qualquer pessoa bem sabe, nada é tão definitivo que não possa ser curado – ou revisto – dado o devido passar dos dias.

Se Emma Roberts e Dree Hemingway convencem como dois lados de uma mesma moeda – garotas que querem compromisso, mas também lutam por uma justa independência – é entre Michael Angarano e Patrick Gibson que se percebem maiores disparidades. O primeiro segue como um eterno adolescente, e o retrato que oferece de um adulto confuso não chega a ser o mais preciso. Gibson, por sua vez, emociona com uma esfuziante e sincera energia juvenil, embarcando de cabeça em uma paixão que tem tudo para dar errado, mas da qual ele recusa todos os sinais para se preservar. É nele onde está o coração de Em um Relacionamento Sério, e por sua honesta entrega esse filme acaba se elevando de um lugar comum tão povoado pelo gênero. Nada aqui já não foi visto antes, de forma mais original ou criativa, mas a sinceridade assumida pela narrativa é suficiente para justificar qualquer atenção mais demorada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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