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Sinopse

Um jovem casal – Melania e Przemek – vai a Varsóvia para cuidar do luxuoso apartamento de um tio, localizado no centro da cidade, onde antes da guerra ficava a embaixada do III Reich. Os jovens não imaginariam que o favor feito ao tio se transformaria na maior aventura de suas vidas. O elevador do edifício não apenas transporta os moradores entre os andares, mas também permite a viagem no tempo: de agosto de 2012 para o momento imediatamente anterior ao início da II Guerra, agosto de 1939.

Crítica

Uma das nações mais afetadas pelos horrores do nazismo, a Polônia segue, ainda hoje, tratando das feridas não plenamente cicatrizadas deixadas por esse período através de sua produção cinematográfica. Em Embaixada, o diretor Juliusz Machulski aborda essa temática tão familiar sob seu olhar notoriamente cômico, adentrando o terreno da fantasia, onde encontra a liberdade necessária para reimaginar a história de seu país. O longa acompanha a atriz Melania (Magda Graziowska) e o escritor Przemek (Bartosz Porczyk), jovem casal que aceita o pedido do tio do rapaz para cuidar de seu apartamento localizado no centro de Varsóvia. Certo dia, após se incomodarem com ruídos misteriosos, eles descobrem que o elevador do edifício, que abrigara a embaixada alemã durante a Segunda Guerra Mundial, é capaz de viajar no tempo, transportando-os para 1939, às vésperas do início do conflito.

Transformando o terceiro andar do local na sucursal polonesa do Terceiro Reich, Machulski cria uma trama de tom abertamente farsesco, envolvendo a tentativa de assassinato de Hitler pelo bisavô de Przemek, Anton (também vivido por Porczyk), agente do serviço secreto polonês que se passa por funcionário da embaixada e recorre ao auxílio da dupla protagonista. Não buscando oferecer explicações a respeito dos elementos fantásticos da trama – sobre o elevador ou ainda um guarda-roupa que também permite o teletransporte de pessoas e objetos entre o espaço e o tempo – nem estabelecer regras claras acerca da comunicação e da interação entre esses dois mundos, o cineasta abraça o absurdo sem qualquer compromisso com a lógica. Uma opção que por si não configura um fator negativo, especialmente quando adotada explicitamente, como é o caso, mas da qual Machulski não consegue extrair todo o humor pretendido.

Oscilando entre raras tiradas sarcásticas bem elaboradas e momentos de uma comicidade mais ingênua, que não deixam de ter certo charme – como a sequência em que Melania revela ser judia e “tortura” Hitler tocando Hava Nagila no saxofone ou quando, com a ajuda de seus colegas atores, ela prega uma peça em Przemek – o trabalho de Machulski, no geral, apresenta um timing cômico problemático. Na tentativa de ridicularizar a figura do ditador alemão, boa parte das piadas acaba soando bastante simplista – como colocá-lo sentado na privada no momento em que é capturado por Anton ou no deboche constante sobre seu bigode. Sente-se também que o choque de realidade dos nazistas com a realidade no futuro, especialmente com a tecnologia, é mal explorado, apresentando ainda alguns anacronismos – o fato dos oficiais desconhecerem completamente o conceito de televisão, sendo que a primeira grande transmissão televisiva ocorreu justamente na Olimpíada de Berlim, em 1936, por exemplo.

A tentativa de parodiar os filmes de espionagem também termina perdendo a força ao longo da projeção, e há ainda o acúmulo dos conflitos de relacionamento de Melania e Przemek, que se distanciam cada vez mais, enquanto ela começa a se sentir atraída por Anton, enxergando no agente – o homem da ação – uma versão oposta de seu marido – o homem da teoria, mais preocupado em terminar de escrever um livro sobre o suposto sósia de Hitler que teria assumido seu lugar durante a guerra do que com a chance se tornar um herói.  As atuações propositalmente caricaturais do elenco geram alguma empatia, especialmente a de Robert Wieckiewicz, na pele do Führer inseguro e atrapalhado, contudo, não são suficientes para sustentar o roteiro pouco inspirado de Machulski ou mesmo as limitações de recursos do longa.

A reconstituição de época nos dois primeiros atos, quase inteiramente passados dentro do edifício, ou seja, com um número reduzido de cenários e atores, não compromete e se apresenta eficaz. Contudo, quando o cineasta resolve elevar a escala da ação no terceiro ato, almejando um desfecho grandioso – com planos externos do trânsito nas ruas de Varsóvia em 1939, ataques aéreos e explosões – a pobreza dos efeitos digitais incomodam, mesmo dentro da já citada aura farsesca que envolve o filme. Todas essas fragilidades prejudicam o resultado de Embaixada, diminuindo o efeito da proposta de Machulski de, à sua maneira, fazer justiça ao povo polonês, honrando a memória daqueles que perderam a vida pelas ações dos nazistas. Algo evidenciado pela letra da canção entoada no inesperado interlúdio musical que precede os créditos derradeiros e traduz as intenções deste exercício de reimaginação da história esperançoso, porém decepcionante diante de seu potencial crítico-satírico.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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