Crítica
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Sinopse
O famoso ator Bob está em Tóquio para gravar um comercial de uísque. Charlotte é a esposa de um fotógrafo que está trabalhando na capital japonesa. Eles se encontram casualmente no bar do hotel e começam a se ajudar numa exploração sentimental para distanciar-se do tédio e da solidão.
Crítica
Um dos grandes vencedores do Globo de Ouro – ganhou como Melhor Filme em Comédia ou Musical, Ator em Comédia ou Musical (Bill Murray) e Roteiro – categoria na qual foi também premiado no Oscar), Encontros e Desencontros possui um grande mote, uma ideia central interessante, mas infelizmente não consegue se traduzir por inteiro em um belo filme. Trata da história de duas pessoas deslocadas em suas vidas que se encontram num momento muito particular de desconforto. Isso acaba ampliando seus conflitos internos e pessoais. Ele (Murray está num dos melhores desempenhos de sua carreira) é um astro de Hollywood em decadência, e ela (Scarlett Johansson, em um dos seus primeiros papéis de destaque) a esposa de um fotógrafo badalado. Ambos estão em Tóquio, no Japão, sem ter o que fazer – ele foi para filmar um comercial, ela para acompanhar o marido. Nas – muitas – horas vagas, passeiam (pouco) pela cidade, enfrentam óbvias complicações de comunicação e se divertem no hotel, seja na piscina, no bar ou em seus quartos. São estrangeiros geograficamente e humanamente falando, já que são estranhos aos olhos dos outros e a si próprios.
Se o argumento é curioso, não se pode afirmar o mesmo do resultado final. O que vemos na tela, ao invés de um bom trabalho de peso e reflexão – como foi no mesmo ano o canadense As Invasões Bárbaras (2003), por exemplo – sobre a vida, as decisões que tomamos diariamente e suas conseqüências, é uma sucessão de imagens plasticamente atraentes, mas que servem de distração pelo pouco conteúdo que resguardam. No final, percebe-se que seu discurso é simplista e vazio, desprovido de maiores atrativos. Muito se repete, pouco se inova. E esse é o seu pior mal.
Scarlett Johansson, que despontou para a fama com esse trabalho (foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Atriz) está muito melhor, por exemplo, em filmes anteriores, como O Homem que Não Estava Lá (2001) ou Ghost World: Aprendendo a Viver (2001). Sua performance não revela nada além do mínimo esperado, do competente satisfatório. Suas nuances interpretativas são rasas, principalmente quando ao lado do verdadeiro protagonista do filme. Esse, vivido pelo geralmente cômico Murray – que aqui lembra o Jack Nicholson visto em As Confissões de Schmidt (2002) – inova de modo contido e reservado, deixa de lado seus mais conhecidos maneirismos, numa atuação econômica e eficiente. Estranho, no entanto, é tanto alarde a respeito de Sofia Coppola, a estrela que se reinventou após ser massacrada por sua estreia como atriz em O Poderoso Chefão 3 (1990), e que agora é acolhida pela crítica, mesmo depois de já ter realizado um trabalho muito mais eficiente e bem-sucedido na direção de As Virgens Suicidas (1999). O mérito da garota Coppola é abrir espaço para os talentos dos outros, restringindo-se ao mínimo para não atrapalhá-los.
Encontros e Desencontros é por demais contemplativo e silencioso, principalmente quando se espera que algo seja dito e/ou expresso. É lento, é cansativo, é entediante. Ao invés de incentivar a reflexão, arranha apenas a superfície, servindo somente ao propósito do imediato, sem ousar travessias mais arriscadas. Não tem nada original, não ousa, não inova. Segue um caminho certo e garantido, e talvez seja por isso seu sucesso seja tão fácil quanto surpreendente. A febre que se seguiu ao seu lançamento há muito já se dissipou, e se hoje há ainda quem se pergunte o que os personagens principais sussurraram um no ouvido do outro na cena final, esses estão tão esquecidos quanto sua própria relevância. Indiferença, em último caso, pode ser o pior dos destinos.
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