Crítica
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Sinopse
Depois de sofrer um grave acidente de moto, Rose é submetida a uma cirurgia de emergência. Durante o procedimento, os médicos implantam nela tecidos artificiais. Após isso, ela fica insaciável por sangue humano.
Crítica
Que David Cronenberg é um cineasta bastante autoral e que se preocupa mais com os seus próprios instintos do que com o que falam a respeito de sua obra, muitos já sabem. Feliz, no entanto, é se dar conta que ele sempre foi assim, desde os primórdios de sua filmografia. Pois é exatamente o que percebermos ao assistir ao seu segundo longa-metragem, Enraivecida na Fúria do Sexo, de 1977, que radicaliza ainda mais as propostas vistas no seu trabalho de estreia, Calafrios (1975). Porém, surpreendente mesmo é verificar o nascimento de um cineasta sem freios nem restrições, disposto a investigar suas inquietações além de quaisquer limites pré-concebidos, servindo até mesmo como precursor de verdadeiras tragédias sociais – a analogia com a AIDS, que surgiria cerca de cinco anos após o lançamento deste filme, é impressionante.
Antes de mais nada, vamos comentar o hipnótico título nacional – Enraivecida na Fúria do Sexo – uma demonstração máxima da criatividade dos distribuidores brasileiros, que traduziram dessa forma o original Rabid – ou, simplesmente, Fúria. A ideia, claro, era capitalizar em cima da presença de Marilyn Chambers, a protagonista, na época também muito conhecida por suas atuações em filmes de sexo explícito. Bom, se Calafrios – um filme muito mais ‘comportado’ – foi acusado por seus detratores por ser abusivo, exagerado e, em alguns casos, até mesmo pornográfico, Cronenberg ao invés de dar um passo atrás e procurar conter os ânimos, faz o movimento inverso, e contrata uma atriz pornô para ser a estrela de seu projeto seguinte. O resultado não poderia ter sido melhor, ainda que a ideia de chamá-la tenha sido do produtor Ivan Reitman (que no futuro se consagraria como diretor de comédias como Os Caça-Fantasmas, 1994) – a intenção inicial de Cronenberg era chamar Sissy Spacek, que um ano antes havia feito sucesso com Carrie: A Estranha (1976).
Enraivecida ne Fúria do Sexo nada mais é, portanto, do que uma releitura mais abrangente de Calafrios. Após um trágico acidente de trânsito, um casal precisa ser atendido às pressas em uma clínica estética – o estado deles não permitiria um deslocamento até o hospital mais próximo, há cerca de 3 horas de distância. Ele é tratado com agilidade, mas a situação dela é mais crítica e exige medidas drásticas. Para isso, o doutor responsável decide usá-la como cobaia de uma técnica experimental e revolucionária de transplante de tecidos neutros, na intenção de reconstituí-la em seus ferimentos. É claro que o procedimento não dá certo, e o que temos como resultado é uma mulher com uma vagina possuída por um parasita sanguinário localizada abaixo de sua axila esquerda (!), que passa a atacar todos os homens que encontra pelo caminho. A cada contato, mais uma pessoa fica infectada, a ponto de se ter uma calamidade pública que exige intervenção do governo e um plano de controle de emergência que irá afetar toda a cidade de Montreal.
Há muitas possibilidades de leitura em Enraivecida na Fúria do Sexo, e Cronenberg vai espalhando suas pistas com parcimônia no decorrer da trama. Da garota recorrente em cirurgias plásticas à mando do próprio pai que não quer vê-la igual a ele ao descaso das autoridades na busca por uma cura (“a melhor solução para lidar com os atingidos pela doença é simplesmente eliminá-los, atirando para matar”, aconselha um dos responsáveis), há muito a ser criticado e, principalmente, refletido. A anarquia e caos que se impõem leva o espectador até a chocante cena final, em que o desprezo pelo ser humano atinge seu grau máximo. O que o diretor nos mostra em última instância é o quão próximos estamos dos nossos sentidos mais básicos – sexo e violência – e, uma vez relegados à eles, nada mais nos diferencia. Afinal, a ‘razão’ da qual somos dotados e que nos eleva no processo evolutivo parece, de fato, um tanto superestimada. Tanto hoje quanto há quarenta anos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Ailton Monteiro | 8 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 7 |
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