Crítica
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Sinopse
A fim de realizar um filme de ação, Victor convoca seus amigos que não conseguiram ter sucesso como cineastas. A experiência acaba se tornando um típico filme de estrada, com mais risco do que todos eles esperavam.
Crítica
“Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”. A mensagem exibida nos letreiros iniciais de Entrando Numa Roubada se mostra irônica logo de cara, quando já é possível constatar a total falta de compromisso com o real apresentada pelo longa de André Moraes. A trama tem como personagem principal Eric (Júlio Andrade), um ator decadente que há dez anos teve sua grande chance no cinema, ao co-financiar e estrelar o filme de ação Missão Explosiva. Seus problemas começaram ao descobrir que foi enganado por Alex (Marcos Veras), seu amigo e produtor, que através de um golpe ficou com todo o lucro obtido pela produção, utilizando o dinheiro para construir um império como pastor de igrejas evangélicas.
Quando fica sabendo que o também ator e roteirista de Missão Explosiva, Vitor (Bruno Torres), recebeu um prêmio de cem mil reais por um novo roteiro – sobre uma garota que sai assaltando os postos de gasolina pertencentes ao assassino de seu pai – Eric vê a oportunidade ideal para colocar em prática seu plano de vingança contra Alex. Juntando o resto da equipe prejudicada pelo inescrupuloso pastor – Walter (Lúcio Mauro Filho), diretor que sofre de problemas psicológicos, e Laura (Deborah Secco), atriz problemática – Eric pretende filmar a história escrita por Vitor realizando assaltos de verdade até chegar ao encontro de Alex. Para que Laura e Vitor aceitem participar sem saber de suas verdadeiras intenções, Eric convence Walter e, juntos, inventam um “método polonês” de atuação visceral e realista, em que os atores não têm contato com os coadjuvantes, sendo colocados juntos apenas no momento da cena, quando tudo é filmado em take único.
As improbabilidades da história são tantas que fica difícil saber por onde começar, pois nem a pessoa com o maior poder de suspensão de descrença é capaz de aceitar a completa ausência de lógica do roteiro. Como é possível filmar assaltos reais para depois exibi-los num cinema sem sofrer consequências? Como atores profissionais poderiam acreditar no tal “método polonês”? Por que assaltar os postos de gasolina, já que eles não pertencem a Alex (ao menos isso nunca fica claro)? Para essa última questão até há uma resposta, mas que possui implicações morais que simplesmente acabam com qualquer empatia possível entre o público e os personagens principais, igualando-os ao vilão, que rouba o dinheiro de seus fiéis sem qualquer remorso. Isso sem falar na inacreditável falta de consideração pelos inocentes envolvidos na história, com alguns chegando a perder a vida durante o processo.
Estreando na direção de longas, André Moraes, que também assina o roteiro e a trilha sonora – função pela qual é mais conhecido, tendo realizado trilhas premiadas como as de No Coração dos Deuses (1999) e Lisbela e o Prisioneiro (2003) – demonstra a vontade de realizar um cinema nacional de ação que flerte com a linguagem pop, aos moldes de 2 Coelhos (2012). Mas ainda que tenha suas irregularidades, o resultado do trabalho de Afonso Poyart é infinitamente superior ao de Moraes, que se mostra inseguro em suas novas funções, apenas emulando tiques visuais e narrativos: a locução em off, a apresentação dos personagens em letreiros estilizados, sequências de animação, violência cartunesca, etc. As referências cinematográficas surgem sempre forçadas, desde as mais “cults” – citar Kieslowski – até as mais comerciais – as alucinações de Walter com um garoto fantasiado de Batman chegam a ser constrangedoras. E há também tentativas de fazer críticas – à falta de apoio ao cinema de gênero no Brasil ou às igrejas – que terminam sempre rasas e deslocadas.
A escolha pelo absurdo e por trabalhar com a metalinguagem pode render bons frutos, como em Os Picaretas (1999), de Frank Oz, por exemplo. Mas Moraes não possui o timing cômico necessário, apresentando um texto de piadas fracas e personagens mal construídos, que prejudicam qualquer ator. Deborah Secco ainda parece se divertir um pouco, mas Lúcio Mauro Filho e Bruno Torres se perdem entre as mudanças contínuas no comportamento de seus personagens, enquanto Veras está inteiramente caricato e Júlio Andrade destoa do conjunto, sendo o único a se levar a sério. Já Tonico Pereira, como um argentino fã do Boca Juniors, que nem sotaque possui, e Ana Carolina Machado como Letícia – interesse amoroso de Vitor – pouco têm a fazer.
Ao menos Moraes parece ter consciência de que sua ideia não possui conteúdo suficiente para se alongar e realiza um filme curto, que termina antes de aborrecer de vez o espectador, dando a sensação de que muita coisa pior ficou na sala de edição. Se pretende seguir pelo caminho do cinema de ação, ao invés de simplesmente colocar Zé do Caixão em uma ponta de menos de cinco segundos, talvez Moraes devesse pedir mais conselhos a Mojica sobre como trabalhar os arquétipos do cinema de gênero de forma autoral e competente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 2 |
Francisco Carbone | 2 |
Cecilia Barroso | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
Robledo Milani | 2 |
MÉDIA | 2.8 |
O filme é excelente. Critica inútil e preconceituosa. Leonardo Ribeiro é um insensível.