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Sinopse

Coisas estranhas começam a acontecer na vida de Bruno, um jovem de quase 30 anos que acaba de se separar da mulher. Bruno tropeça no ar e esbarra no que não vê – até perceber que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo, mas só para ele. Os dias correm e a situação só piora. Com a ajuda da mãe e de seu melhor amigo, ele tentará se adaptar a esse novo mundo, com cada vez menos gente.

Crítica

Alçado à condição de uma das maiores revelações do humor nacional nos últimos dois anos, com sucessos no cinema e na televisão, Fábio Porchat dá uma necessária guinada em direção ao drama em Entre Abelhas, projeto que ele e o diretor Ian SBF acalentavam há anos. É, no entanto, mais um ajuste rumo a uma saudável versatilidade enquanto artista do que necessariamente uma ‘reinvenção’. Afinal, falta-lhe anos de prática e experiência – como Robert De Niro, quando decidiu fazer comédias como Máfia no Divã (1999) – para tal afirmação. Porchat, por outro lado, vinha dando sinais que era capaz de mais do que o escracho ligeiro em filmes como Vai Que Dá Certo (2013) – uma comédia de situação – e Meu Passado Me Condena (2013) – uma comédia romântica. Agora, mostra que, além de fazer rir, também pode estimular à reflexão.

Toda a história de Entre Abelhas existe a partir de uma única questão: o que você faria se, de uma hora para a outra, parasse de enxergar as pessoas ao seu redor? Além de questões práticas, como trombar com passantes nas ruas e não conseguir mais atender aos chamados que lhes são direcionados, há outros de ordem mais íntima. Ou seja, como se relacionar com quem você simplesmente não sabe que existe? A filosofia é imediata: as pessoas que saem das nossas vidas, como companheiros de faculdade, amigos de infância, ex-amantes e namoradas... elas seguem existindo? Sim, é claro, para todos os outros... mas e para nós? Como alguém que foi muito importante pode, de uma hora para outra, simplesmente deixar de ser?

Fábio Porchat é Bruno, e logo na primeira cena de Entre Abelhas o vemos em uma boate, rodeado de amigos e mulheres. A suposta festa, na verdade, tem um motivo triste: é a ‘comemoração’ de despedida de casado, promovida pelos colegas de trabalho em busca de apenas mais uma farra. Afinal, ele não está ali por vontade própria: foi deixado pela mulher, que o abandonou ‘sem motivo aparente’. Em conversa com o psiquiatra, exclama não saber o que teria feito para perdê-la, apenas para ouvir como resposta: “mas o que você fez para conservá-la?”. É mais ou menos esse o tom assumido pelo discurso do filme: o que estamos fazendo para demonstrar que nos importamos com aqueles ao nosso redor? Um exemplo sintomático é seu melhor amigo, David (Marcos Veras), com quem, apesar de estar sempre junto, simplesmente não consegue conversar a respeito de sua nova situação: o outro está sempre tão interessado em si próprio e nos seus problemas, que em nenhum momento chega a se questionar sobre o que se passa com o parceiro. Quem, afinal, está mais cego?

Fabio Porchat surpreende mais pelo que deixa de fazer e menos pelo que faz enquanto protagonista. Sem exageros, consegue compor um tipo que, a despeito da situação inédita que está vivendo, conseguimos nos conectar. Colabora para isso as interpretações absolutamente naturais de Veras e, principalmente, de Irene Ravache, a veterana do elenco que ganha espaço como a mãe do personagem principal, a única que compartilha de sua angústia e tenta fazer algo para ajudá-lo. Ainda que a resolução do personagem seja um pouco abrupta – ainda mais pelo nível de sintonia que já desenvolvemos com ela – cada participação sua concede uma leveza gratificante ao enredo. Por outro lado, os dilemas enfrentados parecem apontar para becos sem saída, como se aprontar os cenários fosse mais fácil do que resolvê-los. O final em aberto, que se comunica com cada um de uma maneira diferente, colabora com essa impressão.

Ian SBF, que estreia na tela grande como diretor de Entre Abelhas, é também coautor do roteiro, ao lado do próprio Porchat. Os dois, assim como Veras e outros membros do elenco, como Luis Lobianco e Letícia Lima, foram revelados através do canal de humor online Porta dos Fundos. E se os esquetes apresentados na internet apostavam na irreverência e na versatilidade, é bom perceber que são capazes de abordar temas mais sérios e transpô-los para outras mídias, como o cinema. Há muitos sinais positivos em cena, e mesmo sem um tratamento mais refinado e com desenlaces um tanto simplistas, o resultado é acima da média. Bons sinais para os profissionais da comédia nacional, que felizmente mostram que podem ir além do riso raso e imediato.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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