Crítica


5

Leitores


1 voto 8

Onde Assistir

Sinopse

Em Entre Montanhas, Drasa e Levi são dois agentes secretos designados para torres de vigilância em lados opostos de um desfiladeiro. Ambos precisam proteger uma passagem estreita e nebulosa que abriga uma criatura que ameaça a humanidade. Quando a ameaça se revela, eles precisam reunir suas melhores estratégias. Ficção Científica.

Crítica

Filmes românticos ambientados em geografias rochosas não parecem ser uma boa pedida. É quase como se dissessem “olha o sacrifício que estão enfrentando apenas para estarmos juntos”, como se as dificuldades dos relacionamentos, tão comuns a qualquer par apaixonado, não dessem conta dessa imensa batalha diária, e fosse necessário exemplificá-las através de uma geografia inóspita e desafiadora. Exemplos dentro desse subgênero não faltam, e costumam se mostrar invariavelmente frustrantes. Do dramático Depois Daquela Montanha (2017), com Kate Winslet e Idris Elba, à fantasia A Montanha Enfeitiçada (2009), com Dwayne Johnson e Carla Gugino, poucos nessa linha conseguem resistir ao teste do tempo, como O Segredo de Brokeback Mountain (2005) – a exceção que confirma a regra. Entre Montanhas, o mais recente dessa linhagem, certamente não compartilhará do mesmo destino. Mais pelo que entrega, e não necessariamente pelo que prometia.

Um ponto a ser observado com atenção? Há praticamente apenas duas pessoas em cena na maior parte do tempo, e esses personagens são interpretados por Anya Taylor-Joy e Miles Teller, ambos nomes em ascensão no momento. Ela ganhou o Globo de Ouro e o Critics Choice pela minissérie O Gambito da Rainha (2020), além de ser o rosto de obras cultuadas, como A Bruxa (2015) e Furiosa: Uma Saga Mad Max (2024). Seu olhar penetrante e uma fisicalidade surpreendente são bem colocadas Drasa, a jovem russa acostumada a serviços ingratos. Já ele foi premiado em Sundance por O Maravilhoso Agora (2013) e indicado ao Gotham e ao Satellite por Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), além de ter marcado presença no sucesso Top Gun: Maverick (2022). O ar sério e compenetrado cabe bem na composição de Levi, o rapaz capaz tanto de sorrir, como de matar, dependendo da situação em que se encontre. Ou seja, são ambos experientes, com filmografias que os precedem e justificam o destaque que aqui recebem. O problema, portanto, não são eles. É o que está além de suas ingerências.

Scott Derrickson está longe de ser um cineasta sutil. O apreço pelo fantástico e pelo sobrenatural foi demonstrado em mais de um momento em seus trabalhos anteriores, e está mais uma vez presente em Entre Montanhas. Ou seja, não se trata de mais uma história de amor convencional. Pelo contrário, é quase que um estudo sobre um caso de síndrome de Estocolmo, a atração que surge entre dois seres confinados, sem outras opções ou possibilidades com as quais interagir e pesar prós e contras. Claro que ajuda ele ter um abdômen trincado e ela apresentar cabelos perfeitos, mas se não fosse assim, seria esse um produto de Hollywood? No final das contas, faz mais sentido o apelo publicitário do que a verossimilhança das situações propostas.

Ambos são atiradores de elite. Ela é uma matadora de aluguel procurada por diversos governos ao redor do mundo. Ele é um oficial que há muito almeja se afastar de tudo o que conhece, e a oferta de uma última missão lhe parece por demais tentadora. O problema é que esse caráter derradeiro está mais ligado ao que irá encontrar no local indicado, e menos sobre sua disponibilidade quando eventualmente terá sua tarefa dada como completa – algo que só muito mais tarde, tanto eles, quanto os espectadores, descobrirão ser impossível de precisar. Cada um é colocado de um lado oposto de duas montanhas. Entre eles, há apenas uma fenda, aparentemente sem fim. O que existirá lá embaixo? É esse o segredo que resiste em ser revelado, tanto para audiência, quanto para os protagonistas. Porém, o que se tem é como uma Caixa de Pandora: uma vez aberta, não há mais como fechá-la. Assim que se deparam com a ameaça até então contida, terão que reinventar os protocolos à disposição para garantir não apenas suas sobrevivências, mas a continuidade do planeta como um todo.

A manutenção desse segredo é um dos maiores acertos de Entre Montanhas. Portanto, quanto menos aquele que se dispor a assistir a esse filme souber, melhor. E se por um lado Derrickson é hábil em lidar com essa expectativa e em lidar com tais momentos de tensão, da mesma forma demonstra um nítido desinteresse quanto ao que fazer a partir do momento em que a verdade vem à tona. É pedir demais que se acredite que frente a uma ameaça tão destruidora – imbróglios militares estão apenas no topo desse iceberg de mentiras e planos mal executados décadas atrás – o rapaz e a moça demonstrem estarem mais preocupados um com o outro do que com suas próprias seguranças. Eles mal se conhecem, afinal! Mas a regra é “o amor tudo pode”, por mais improvável que esse se mostre. E assim mais uma premissa curiosa, até mesmo interessante, se perde na vala comum das paixões de ocasião, surgidas no meio de muitas promessas e escassas realizações.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *