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Crítica


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Sinopse

Socialmente desajeitada e solitária, Sarah divide seu tempo entre o trabalho, as idas ao estábulo para visitar o cavalo que lhe pertencia e seguidas maratonas e reprises da série "Purgatory", de cunho sobrenatural. Por sofrer de sonambulismo, ela volta e meia desperta sem ter a menor ideia do que lhe aconteceu durante o sono. Quando começa a ter sonhos estranhos, com pessoas desconhecidas que passa a encontrar casualmente nas ruas, ela desconfia que haja algo além do sonambulismo e seja, na verdade, um clone.

Crítica

É interessante notar como Entre Realidades apropria para si uma série de estereótipos que rondam a vida em sociedade e os utiliza como elementos de narrativa. A começar por sua personagem principal, Sarah, que segue a receita básica da solteirona por não saber se colocar em meio a outras pessoas. Sem amigos nas aulas de zumba e com apenas uma confidente no trabalho, ela mal se relaciona com sua colega de quarto e adora se refugiar em outro estereótipo básico: as séries sobrenaturais com um fundo trash, sempre renegadas pela crítica e com uma legião de fãs mundo afora. Que o digam Supernatural (2005 - 2020), The Vampire Diaries (2009 - 2017), Lúcifer (2015 - 2020) e tantas outras.

Jeff Baena, diretor e um dos roteiristas de Entre Realidades, sabe bem disto e, como tal, encampa o tom bizarro de tais séries para inserir em seu longa-metragem algo tão estranho quanto. Mais do que propriamente incitar algum mistério, Baena deseja estabelecer uma ambientação onde sempre há algo que pareça fora do lugar, seja através do comportamento dos personagens, da narrativa seguida ou mesmo a partir de elementos estéticos e/ou sonoros, como a alternância na tonalidade de cor dominante de acordo com o estado de espírito de Sarah ou mesmo a trilha sonora, repleta de ruídos tecnológicos. A ordem aqui é mais confundir do que explicar e, enquanto faz isto, Entre Realidades até tem algum valor.

É quando tenta desenrolar o novelo criado que o roteiro de Baena e Alison Brie (também protagonista, em atuação sem brilho) naufraga de vez. Primeiro porque subestima a inteligência do espectador ao descartar, sem justificativas, aquele que seria o caminho mais óbvio a seguir: o sonambulismo de Sarah, esquecido em um estalar de dedos. Ao investir cada vez mais na tese da paranoia de sua personagem principal, potencializada pelos problemas de família sempre repletos de lacunas, Entre Realidades encampa de vez o espírito trash ao mergulhar em um universo de clones e alienígenas. Em relação a este último, Baena ainda se apropria de um ícone da ficção científica: a porta fechada com luz atravessando todas as frestas, cena marcante de Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977).

Com um roteiro mais interessado em trazer a verdade de Sarah do que em realmente debater possibilidades em torno do acontecido, em uma espiral kafkaniana a la "O Processo", Entre Realidades abre diversas possibilidades de narrativa apenas para descartá-las ao seu bel prazer. Os poucos coadjuvantes são sempre unidimensionais, presos a clichês previsíveis e cansativos, servindo apenas a momentos específicos da história; é impressionante como o roteiro de Baena & Brie não se importa com qualquer um deles. Diante de tamanho desleixo narrativo, o longa se arrasta no terço final rumo a um desenrolar frágil e pouco atraente.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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