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Sinopse
De 25 de setembro a 27 de outubro de 2002 uma equipe de filmagem acompanhou passo a passo a campanha de Luís Inácio Lula da Silva à presidência da República do Brasil. Revela bastidores de um momento histórico através de material exclusivo, como conversas privadas, reuniões estratégicas, telefonemas, traslados, gravações de pronunciamentos e programas eleitorais.
Crítica
Nunca se produziu tantos documentários quanto em 2004, nesta primeira década da retomada do cinema nacional. E dentro deste filão, uma dupla se destaca justamente por sua contemporaneidade e senso de oportunidade: Peões, de Eduardo Coutinho, e Entreatos, de João Moreira Salles. Os dois, em conjunto, oferecem uma impressionante visão sobre a eleição do primeiro operário ao cargo maior da política nacional, ou seja, a consagração de Lula como Presidente da República.
Idealizados em conjunto, na verdade ambos são complementares, mas igualmente independentes em suas formas. Se Peões se preocupa mais com a formação ideológica e sobre as condições que propiciaram o surgimento de um líder como Lula, Entreatos está voltado mais para um evento específico, que seria a consagração de toda uma jornada: a campanha eleitoral vitoriosa que levou o eterno candidato, após quatro eleições, ao posto de Presidente do Brasil. A intenção do diretor, inicialmente, era apenas acompanhar a campanha política durante o segundo turno, mas como havia a possibilidade de que ele saísse vitorioso já no primeiro turno, as filmagens foram antecipadas.
Com uma equipe de apenas sete pessoas e uma dificuldade constante para a captação do material – a equipe tinha que negociar diariamente uma aprovação para seguir com seu registro, ainda que o Partido dos Trabalhadores tivesse concedido uma autorização prévia – Salle conseguiu gravar ao todo 240 horas de material inédito. Todo este conteúdo só foi divulgado após a finalização do filme, o que aumenta ainda mais sua importância. Ainda que a primeira versão tivesse mais de três horas de duração e títulos como Intervalos de uma Campanha, Antes da Presidência e Fora de Cena tenham sido cogitados, o produto final, mais econômico e íntimo, reflete com rara precisão a visão que o diretor buscava obter: de um homem comum alçado ao posto mais importante do país.
João Moreira Salles, que depois ainda dirigiria o impactante Santiago (2007), declarou que em Entreatos preferiu focar suas lentes e sua atenção nos momentos mais privados, no particular, nos bastidores dos eventos, para revelar aos espectadores uma figura diferente daquela a que estamos tão acostumados. E esta verdade está presente em diversos momentos do filme: acompanhamos Lula se maquiando e passando o texto no teleprompter, mas nunca durante a gravação do horário político; o vemos elaborando seu discurso, mas não no comício; estamos ao seu lado nas viagens aéreas, no elevador ou na sala de sua casa, mas não nos pronunciamentos, entrevistas ou coletivas. Desse modo somos apresentados a um personagem muito mais real e verossímil, próximo do público e mais facilmente identificável.
Não que Entreatos faça campanha para Lula e esteja politicamente posicionado. Este, aliás, é o maior mérito deste trabalho. Não há julgamentos, explorações gratuitas de imagens nem nada abertamente declarado que nos induza a assumir uma postura pró ou contra o objeto da documentação. Salles e sua câmara estão ali apenas para mostrar, não para pregar valores. Desse modo seu filme assume uma postura universal, de observador, pois acaba se tornando interessante não somente àqueles que dominam o assunto como também aos curiosos em relação a um episódio tão único e relevante na nossa História. Entreatos não é mero lazer – apesar de conter passagens bastante divertidas e pitorescas – mas é, acima de tudo, uma lição de realidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 9 |
Chico Fireman | 9 |
Lucas Salgado | 10 |
MÉDIA | 9 |
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