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Sinopse

Skene, diretor de uma densa peça teatral que lida com conflitos entre amor e trabalho, está prestes a fazer uma grande descoberta sobre esse seu mais novo trabalho, bem no dia de estreia. Aos poucos ele enxerga que, sem perceber, foi o tempo todo manipulado por Jacqueline, a escritora da peça, para que tudo saísse do jeito que ela queria.

Crítica

Há filmes e livros que tocam fundo na alma e, com o passar das décadas, não perdem o fôlego, conquistando novos espectadores e leitores. Em comum, essas obras costumam ter a simplicidade de falar do cotidiano, dos dilemas que permeiam a vida de todos nós. No fundo, é na realidade que mora a inspiração das grandes produções. Logo, quando um filme cria uma atmosfera irrealista e não pretende se encaixar no gênero fantástico, a primeira reação do espectador é a estranheza. Podemos definir, realmente, como estranhos os primeiros momentos de Entrelinhas, sem medo do exagero.

Estreia na direção da mineira Emilia Ferreira, o filme tem como mote a relação entre um diretor de teatro, Skene, interpretado por Edoardo Ballerini, e a dramaturga Jacqueline, vivida por Irina Björklund. É a noite de estreia do espetáculo que promete ser um sucesso. Nos últimos ensaios, Skene tenta separar o real do imaginado dentro da obra da autora, já que ela faz questão de criar uma atmosfera de mistério e sedução toda vez discute sobre seus escritos com o diretor. A ideia não é nova, mas histórias que mergulham em processos criativos costumam sempre chamar atenção. O problema do processo de Entrelinhas é que ele não passa de ilusão. Vemos personagens que, sem motivo algum, posam com uma taça de vinho ou um cigarro e soltam frases de impacto sobre Flaubert, Freud e Beethoven. Poses, aliás, são a especialidade da protagonista que, mesmo estando no conforto do lar, não dispensa um visual sexy com direito a meias 7/8 e lingerie. A atuação de Irina beira as vistas em dramalhões baratos, com caras e bocas que só reforçam a imagem de falsa culta da personagem. Ela fala, grita e entra em crise sem muita explicação. Caímos de paraquedas em seu mundo de anotações e lembranças e, mesmo com a pretensa profundidade de seu discurso, não conseguimos acreditar em algo.

Direção de arte e fotografia só reforçam a artificialidade do filme. Mais que irrealidade, nas cenas noturnas, em especial, pode-se notar desleixo com as imagens. Até o espectador menos entendido em ângulos e lentes percebe a falta de cuidado e até a pressa na concepção das cenas, com direito a dublagem fora de sincronia. Já os figurinos parecem saídos de algum editorial de moda e certos objetos de cena forçam ainda mais a ideia de que Jacqueline e seus amigos são pessoas cercadas de arte e literatura, mas não expressam terem lido muitos dos livros que enchem suas estantes. Há outros incômodos menores, como cabelo e maquiagem impecáveis, mesmo Jacqueline estando dormindo, lembrando inclusive coisas comuns em novelas mexicanas, por exemplo. Se tirarmos as citações literárias, temos apenas a história de uma mulher que manipula todos os homens à sua volta. E só. Sem emoção, sem estética e sem tesão, porque até o sexo, que nos diálogos da protagonista tem papel importante, é mostrado de forma pudica.

Entrelinhas pretende falar das confusões causadas pela emoção, mas se perde na soberba de deflagrar um mundo quase mágico, de contos de fada, com uma protagonista sem conteúdo, longe do que realmente é uma mulher. Qualquer mulher, não apenas as que aspiram a uma carreira artística. Seus dilemas são profundos como uma poça d’água e o mundo à sua volta só pode existir na ficção. O que mais entristece é saber que Entrelinhas tem uma mulher atrás das câmeras, comandando uma história que não condiz com as reais aspirações do nosso gênero na Sétima Arte.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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