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Crítica


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Sinopse

A polonesa Ewa chega aos Estados Unidos com sua irmã nos anos 1920 em busca de uma vida melhor. Logo ela conhece Bruno, homem cortês que lhe oferece abrigo, mas que em troca a força a se prostituir.

Crítica

Constantemente destacado entre os maiores realizadores norte-americanos da contemporaneidade, James Gray já declarou que deveria fazer cinema nos anos 1970, uma vez que sua filmografia prima pela continuidade das maiores obras de cineastas que ele admira: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Robert Altman e Stanley Kubrick. O contato com qualquer um de seus filmes ratifica o êxito do diretor em emular os grandes mestres supracitados, feito também evidente em seu mais recente trabalho, Era Uma Vez em Nova York (2013).

Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, o melodrama à moda antiga de Gray é ambientado numa atmosfera e época diferentes dos outros filmes do diretor. Ainda que igualmente situado na Nova York fria e pouco receptiva que Gray retrata singularmente, Era Uma Vez em Nova York se passa em 1921, quando duas irmãs chegam da Polônia prontas para conquistar o sonho americano, mas descobrem uma realidade desoladora. Enquanto Magda é colocada em quarentena pelo departamento de imigração por conta de seu estado de saúde, Ewa desperta a simpatia de Bruno, desconhecido que a oferece ajuda por um custo evidentemente alto. Ainda que esta seja sua quarta parceria com o ator Joaquin Phoenix, magistral alter ego e habitual colaborador do cineasta, Grey dedica todo seu filme para Marion Cotillard. Ironicamente, o diretor sequer conhecia o trabalho da atriz francesa e o fez por acaso, quando colaborava com o marido dela, Guillaume Cantet, no roteiro do ainda inédito Blood Ties (2013).

Instantaneamente apaixonado pela expressão e magnetismo de Marion, escreveu Era Uma Vez em Nova York especialmente para ela e confessou posteriormente que foi sua melhor experiência com um ator. Ainda colhendo louros por seu arrebatador desempenho em Ferrugem e Osso (2012), Cotillard reitera seu status como uma das maiores atrizes de sua geração e justifica toda a superlatividade das declarações de James Gray numa composição contida, profunda e extremamente sofrida como Ewa. Numa reconstituição de época que evita as armadilhas do exagero ou caricaturismo, Gray e o diretor de fotografia Darius Khondji guiam o espectador por uma ameaçadora Nova York, na região do Lower East Side, retratada em tons de sépia e permeada por imigrantes iludidos por aqueles que já se habituaram ao sistema capitalista americano, imperativo após a 1º Guerra Mundial. Com Era Uma Vez em Nova York, o cineasta se impõe como um realizador autoral, dedicado aos dramas sombrios e filmes sobre crimes que combinam seu classicismo à atmosfera noir em narrativas que flertam com aspirações literárias.

Era Uma Vez em Nova York é uma história densa sobre a falha da humanidade em conceber expectativas vazias e de seus inúteis esforços em conquistar o sucesso fazendo tudo “direito”, apesar dos códigos e valores corrompidos do mundo em que vivemos. Talvez seu defeito mais latente esteja no distanciamento passível ao espectador para com a obra, que com seu ritmo cadente e visual distrativo pode antipatizar com o drama de seus personagens. Ainda assim, como um dos trabalhos mais honestos e pessoais de Elia Kazan, Terra do Sonho Distante (1963), o filme de James Gray é soberbo, e também rememora a dura realidade de imigrantes, em especial nos Estados Unidos – fato que torna o filme extremamente atual.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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