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Crítica


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Sinopse

Rio de Janeiro. Dé mora na favela do Cantagalo, em Ipanema. Filho de uma empregada doméstica e abandonado pelo pai, viu um irmão ser assassinado por um traficante e o outro ser exilado da favela pelos bandidos. Decidido a não seguir o caminho do crime, trabalha vendendo cachorro-quente na praia. De lá observa Nina, filha única de uma família rica que mora na Vieira Souto, em frente ao mar. Os dois se conhecem e acabam se apaixonando. Porém suas diferenças geram diversas críticas e preconceitos.

Crítica

O diretor Breno Silveira está longe de ser um novato no mundo do cinema. Mesmo assim, Era Uma Vez... é recém seu segundo longa-metragem, fruto de uma caminhada muito produtiva e que mostra agora resultados de qualidades indiscutíveis. Primeiro foi o fenômeno 2 Filhos de Francisco (2005), que levou mais de 5,4 milhões de brasileiros aos cinemas. E desta vez ele retorna com mais um trabalho de impressionantes méritos, tanto artísticos quanto técnicos.

Assim como diz o título, Era Uma Vez... é uma fábula. Assim, logo de imediato, já avisa que não há nada de ingênuo ou tolo na história do romance entre um favelado e uma menina rica da zona sul do Rio de Janeiro. Os realizadores sabem que estão falando de universos completamente diferentes, de vidas distantes e de fronteiras quase intransponíveis. Mas o que seria do homem se nos fosse tirada a capacidade de sonhar? Assim Breno e o roteirista Bráulio Mantovani (indicado ao Oscar por Cidade de Deus, 2002) compõem esse enredo de diferenças e igualdades, mostrando que o amor pode ser mais forte do que muita coisa, menos do que a realidade.

Era Uma Vez... é a adaptação definitiva do clássico romance Romeu e Julieta, de Shakespeare, só que transposto para o Brasil deste início de século XXI. Romeu deseja Julieta de longe, ela, quando o conhece, se apaixona irremediavelmente. Um irá atrás do outro, e parece que nada poderá afastá-los. Mas ambos vivem em mundos diferentes, e suas famílias, seus amigos, suas histórias os forçam a caminhos opostos. Mas eles insistem, desafiando a tudo e a todos. E o final, bem... todo mundo sabe como termina.

São tantas as qualidades de Era Uma Vez... que é até um pouco complicado saber por onde começar. Mas vamos lá. O diretor já tinha esta idéia em mente antes mesmo do seu primeiro trabalho. Mas só a experiência ensina determinadas coisas, como paciência e detalhamento. Então, o que percebemos, é que este filme não poderia ter vindo em melhor hora. Breno sabe o que quer dizer, e estudou muito bem como dizer seu discurso. Sem ser didático, cansativo ou professoral, fala de temas próximos de muitos, mas que insistimos em fingir que nos é estranho. Tudo é proposto com muita calma e sabedoria, envolvendo o espectador de tal forma que será impossível não se identificar com o que transcorre na tela. Somos nós que estamos lá. E de lá não conseguiremos sair.

Outro ponto positivo é o elenco, principalmente a dupla de protagonistas. Thiago Martins, apesar de repetir uma composição muito próxima à vista recentemente em Show de Bola (2007) – o garoto que mora no morro, é educado, esforçado e inteligente, e sonha com uma vida melhor – tem uma delicadeza no olhar simplesmente encantadora. Já Vitória Frate, estreando no cinema, forma o par ideal com ele. Os dois atuam em plena sintonia, e a química que há entre eles é tão real que chega quase a ser palpável. Rocco Pitanga, como o irmão mais velho dele, Cyria Coentro, como a mãe dele, e Luana Schneider, como a melhor amiga dela, compõem um bom grupo de coadjuvantes. E se até Paulo César Grande, no papel do pai da garota, se sai bem, o que dizer dos demais?

Lançado no centro do país em julho, Era Uma Vez... dividiu a opinião da crítica, entre os cariocas que amaram e os paulistas só apontaram defeitos. Eu, como bom gaúcho, não tenho receio de entrar nesta briga e afirmo, sem ressalvas: este é o melhor filme nacional que assisti neste ano. Talvez haja obras mais relevantes, mais moralmente responsáveis ou socialmente produtivas, mas duvido muito. Era Uma Vez... fala direto com o coração, é não há como não se envolver nesta trama de anunciado final trágico. Felizmente, é tudo faz de conta. Ou não?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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