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Sinopse
Estudantes secundaristas paulistanos se rebelam contra o fechamento de 94 instituições públicas de ensino, com isso dando início a um crescente movimento de ocupação escolar que já entrou para os anais da Históira brasileira.
Crítica
Políticas públicas deveriam passar por amplos debates em sociedade antes de serem colocadas em prática ou modificadas drasticamente. Isso, especialmente quando impactam um grande contingente da população, bem como na medida em que tocam nas áreas basilares. Escolas em Luta, dirigido por Rodrigo Teixeira Marques, Eduardo Consonni e Tiago Tambelli, é um registro das ocupações protagonizadas por estudantes contrários à reorganização escolar na cidade de São Paulo em 2013. Não fosse a resposta imediata da população interessada, mas nunca ouvida no processo das tomadas de decisão, mais de 94 estabelecimentos de ensino teriam sido fechados. A captura dessa resposta engajada se dá no documentário, inicialmente, por meio da valorização da energia do enfrentamento. A combinação das imagens de diversas fontes e suportes dá conta de um raro movimento de conscientização sociopolítica alimentando ações práticas e articuladas de resistência.
Diferentemente de Espero Tua (Re)Volta (2018), igualmente debruçado sobre esse levante popular já gravado nos anais da História – com o qual, aliás, este daria uma belíssima sessão dupla –, Escolas em Luta não se propõem a ler profundamente os mecanismos das organizações, os ímpetos em jogo ou a esquadrinhar as circunstâncias que destacam determinados discursos em detrimento de outros. O que importa ao trio de realizadores é estabelecer um percurso no qual a práxis cinematográfica está, de certo modo, subordinada à valorização da capacidade dos protagonistas de enfrentarem as desconfianças domésticas, a eventual relutância de funcionários e professores e a campanha de criminalização da qual são vítimas. O alinhave de trechos específicos, tanto do cotidiano das ocupações quanto dos instantes tensionados pela atuação truculenta de uma força policial comprometida apenas com o cumprimento de ordens, nem que as mesmas digam respeito a agredir menores de idade, servem para adensar, paulatinamente, essa ode aos adolescentes.
Muito se diz que o futuro de uma nação está nas mãos dos jovens. De forma engajada, Escolas em Luta fornece chaves ao entendimento de uma conjuntura complexa. A precarização do ensino perpassa a fala de boa parte dos pinçados como representantes testemunhais da massa ocupante. É bonito ver o idealismo nos olhos das meninas que enchem o peito para falar orgulhosamente da batalha árdua, mas compensadora de acordo com seus ideais de transformação de um mundo tacanho. Rodrigo Teixeira Marques, Eduardo Consonni e Tiago Tambelli eventualmente resvalam em reiterações desnecessárias, com elementos, temas e posicionamentos parecidos gerando ligeira redundância. Porém, nada que interfira tanto na capacidade do filme de estabelecer uma ponte direta com os querelantes aguerridos que discursam em favor da melhoria do ensino público.
Alguns trechos são especialmente potentes em Escolas em Luta. Um deles é a ciência da necessidade de evitar a instauração de uma versão “oficial” que deturpe as reivindicações. Contra isso, os adolescentes instruem colegas a utilizarem duas câmeras no registro das ações e, principalmente, no confronto com a polícia repressora. Numa era de desinformação avassaladora, cujos resultados são catastróficos, é animador perceber o discernimento quanto aos procedimentos que produzem narrativas e contranarrativas. A predominância das mulheres à frente das marchas, outro sintoma da transformação calcada na inconformidade com o status quo, aponta à movimentação das placas tectônicas da sociedade brasileira. O filme nos entranha crescentemente nesse universo particular, progressivamente dando voz àqueles que no começo se expressam, basicamente utilizando as imagens. Um documentário essencial por demarcar a pujança dessa revolta jovem e popular.
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