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Crítica


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1 voto 4

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Sinopse

Tentando recuperar sua condição de atleta, um ex-campeão de automobilismo resolve voltar às pistas. Mas ele de deparará com um velho inimigo, um inescrupuloso dirigente de equipe.

Crítica

Após dois filmes em que o terror estava mais presente do que qualquer questão, David Cronenberg mudou totalmente o foco de sua então breve filmografia para que uma de suas paixões, carros de corrida, se tornasse o centro das atenções da vez. Com isso em mente, realizou Escuderia do Poder, que chega a ser um estranho no ninho em seu currículo à primeira vista. Apesar do longa parecer quase uma produção B de ação e vingança, algumas características peculiares de seus estudos sobre o ser humano e a tecnologia se encontram presentes na produção, mostrando a versatilidade do diretor para lidar com os mais variados temas.

A trama é básica como em qualquer filme de ação que traga supercarros como tema central. Lonnie “Lucky Man” Johnson (William Smith) é um piloto de provas famoso por sua habilidade sobre quatro rodas que é demitido após falar mal dos produtos de seu patrocinador, a companhia de óleo FastCo, e se torna garoto-propaganda televisivo. O vilão da vez é Phil Adamson (John Saxon), o dono da empresa, que chama o rival de Lonnie, Gary Black, para ser seu novo piloto, e sabota o carro do protagonista, que volta às pistas por outra companhia. Uma das curiosidades do longa é a participação da coelhinha da Playboy Claudia Jennings, uma estrela de filmes B, como o interesse amoroso do protagonista. Ela teve seu último papel justamente em Escuderia de Poder, já que, Ironicamente, morreria no mesmo ano do lançamento do longa em um acidente de carro, conferindo uma curiosidade mórbida ao filme.

Apesar de parecer uma trama rasa de vingança, Cronenberg, com seu talento latente, já demonstrava que conseguia ir muito mais a fundo em suas questões, mesmo com um elenco que atua, basicamente, aos moldes de qualquer filme B. A questão “bem contra o mal”, no caso, a paixão pelo trabalho versus a ganância das grandes empresas, se torna o foco central, mas o diretor amplia o tema ao mostrar que a tecnologia é uma extensão do corpo humano, algo que se definiria ainda mais ao longo de sua filmografia. Especialmente com outro filme sobre automóveis, o aclamado Crash: Estranhos Prazeres (1996), apesar de ser outra forma de utilizar carros para falar da complexidade do homem. A ligação do ser humano com a máquina se torna ainda mais densa com a utilização frequente dos uniformes dos pilotos, que se assemelham (tanto na ficção quanto do lado de cá da tela) com máscaras de gás, com a respiração, a vida, tendo ecos através da velocidade.

Como um bom filme de ação e sua paixão por veículos velozes aflorada, Cronenberg realiza excelentes sequências de corrida, como se fosse um ensaio da Fórmula Um. A edição de som se adequa totalmente ao clima, fazendo com que o espectador ouça o ronco dos carros em perfeita sincronia com a ferocidade das imagens. Quando um dos veículos pega fogo em alta velocidade, é quase impossível não ficar em êxtase com o ritmo frenético da cena. Para uma produção tão barata, o cineasta realiza um produto acima da média tanto em conteúdo quanto estética, ainda que estivesse amadurecendo suas ideias na época. Além de tudo, é claro, não faltam cenas de sexo, especialmente o anal, que fazem parte da filmografia do diretor constantemente, quase um fetiche tanto para ele quanto para seus fãs.

Cronenberg podia apresentar alguns sinais do grande cineasta que estava nascendo, mas estava longe da complexidade que veríamos nos seus filmes posteriores. Sua técnica estava sendo lapidada com pinceladas mais profundas dentro de um contexto quase amador. Pode-se para dizer que o cineasta aproveitou o relativo sucesso que estava alcançando para se divertir com um filme mais leve em suas intenções, mas nem por isso menos divertido ou que não passe por um teste mais analítico. Muito melhor que qualquer longa “veloz e furioso” que lota as salas de cinemas nos dias de hoje.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Grade crítica

CríticoNota
Matheus Bonez
7
Ailton Monteiro
5
MÉDIA
6

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