Crítica
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Sinopse
Crítica
O caráter lírico é intrínseco ao trabalho de Misako (Ayame Misaki), protagonista de Esplendor. A essa jovem cabe a função de escrever audiodescrições, ou seja, textos que permitam aos deficientes visuais relacionar-se com o cinema. Traduzir expressões e imagens em palavras, tendo o cuidado para não condicionar demasiadamente a experiência do próximo, se configura numa verdadeira arte, cuja reverência ao próprio cinema se demonstra no esforço para preservar a capacidade de conexão entre espectadores e personagens. Durante uma sessão-teste, ela conhece Nakamori (Masatoshi Nagase), fotógrafo renomado, agora de visão reduzida, que prontamente questiona suas escolhas linguísticas. Se estabelece uma pequena crise, não explorada pela cineasta Naomi Kawase para além das suas implicações imediatas e/ou circunstanciais. A partir desse encontro, homem e mulher são observados bem de perto, literal e metaforicamente, irmanados por uma sensação latente e constante de perda substancial.
Esplendor é bonito visualmente, com uma luz de intensidade dramática evidente invadindo, às vezes com contornos irreais, cenas-chave, como a da visita a um apartamento, episódio abrilhantado pelas cores, oriundas de um prisma, nas paredes e nos rostos. Aliás, a dicotomia entre a luz e a escuridão é permanente na tessitura narrativa, com a primeira denotando um estado de estesia, em momentos poeticamente relevantes, enquanto a segunda se encarrega de determinar a angústia do sujeito que utiliza sua câmera Rolleiflex para enxergar o mínimo ainda lhe permitido. A estrutura do roteiro é lacunar, especialmente no que concerne à aproximação de Misako e Nakamori, construída de fragmentos esparsos, urdidos fragilmente do ponto de vista cinematográfico, do que decorre a frouxidão dos laços. Em prol da atmosfera, Kawase reduz nossa observação das pessoas em cena, permitindo-nos acesso apenas ao mais superficial delas, sem, por exemplo, um estudo acurado de suas personalidades.
A decupagem visa ressaltar a importância dos detalhes, acima da contextualização. Dessa forma, diversas passagens se fundamentam num sorriso, em olhares e toda sorte de gestos que poderiam passar despercebidos caso os planos fossem mais abertos. É uma opção corajosa, mas que nem sempre funciona como se espera dentro da proposta. Na medida em que a trama avança, Misako depende de sua relação com outrem, seja Nakamori ou a mãe que necessita de cuidados especiais, para se revelar. Já ele é concebido como alguém que não aceita plenamente as limitações com as quais terá de conviver. Embora esse delineamento de características básicas ocorra de maneira clara, não são exploradas nuances e demais elementos que poderiam expandir o conjunto, evitando que o mesmo fosse refém da beleza esparsa, atingida aqui e acolá. O dado de romance se desenha desajeitadamente, em virtude da paixão pouco verossímil que decorre da falta de “química” amorosa entre os atores.
Levando em consideração algumas obras pregressas de Naomi Kawase, como Shara (2003), Floresta dos Lamentos (2007) e, mais recentemente, O Segredo das Águas (2014), decepciona a posição da natureza em Esplendor. Se nos filmes anteriores ela era fundamental, principalmente para estabelecer o elo de transcendência entre o ser humano e suas possíveis vivências, aqui ela funciona somente como um apêndice plástico, por meio do qual, supostamente, se deveria potencializar a intimidade da protagonista com o homem duramente desafiado pela necessidade de reinventar-se a partir de outras modalidades de observar o mundo que não a visual. Os vínculos, assim como as motivações, são vagos e claudicantes, sintomas da aposta da dobradinha roteiro/direção num itinerário epidermicamente poético, mas cuja beleza não ecoa na essência, sendo, ironicamente, bem atrativo aos olhos, mas dramatúrgica e expressivamente inconsistente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 5 |
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