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Sinopse

Com a ideia de ter uma carta na manga caso super-seres como o Super Homem decidam se voltar contra a humanidade, os Estados Unidos criam uma unidade de resposta toda formada por detentos de segurança máxima que tenham dons especiais - eles irão trabalhar em troca de anos descontados das suas penas. E quando um incidente precisa que alguém interfira sem que o governo seja implicado, o tal Esquadrão Suicida é enviado para o local. Nele estão antigos vilões derrotados pelo Batman, e que agora precisam se unir e serem eles mesmos os heróis por um dia.

Crítica

Crise nas Infinitas Terras. O nome de uma das maiores sagas do Universo DC nas histórias em quadrinhos se adapta perfeitamente também, porém de forma involuntária, ao dilema enfrentado atualmente pela Warner na transposição destes personagens para a tela grande. E o mais recente capítulo desta saga atende pelo nome de Esquadrão Suicida, filme que nasceu pequeno e despretensioso mas que, com o passar do tempo, foi adquirindo ares de superprodução e com a responsabilidade de recuperar todas as iniciativas frustradas até então. Como se poderia imaginar, muito pouco disso se cumpre em cena. E ao invés de uma aventura descolada e irreverente, tem-se uma grande confusão da qual muito pouco se salva.

A trupe reunida sob o nome de Esquadrão Suicida faz parte de uma linha alternativa – pra não dizer B, de segunda categoria – de vilões da editora. Ou seja, são personagens que nunca chamaram muita atenção individualmente, porém acreditava-se que, juntos, pudessem fazer alguma diferença com os fãs. Daí o motivo do diretor e roteirista David Ayer se interessar pelo projeto: seria algo pequeno, fora do radar, que lhe garantiria liberdade para experimentar e ousar na medida certa. Autor do roteiro do primeiro Velozes e Furiosos (2001) e do oscarizado Dia de Treinamento (2001), além de ter dirigido os elogiados, porém pouco vistos, Marcados para Morrer (2012) e Corações de Ferro (2014), Ayer precisava da exposição que um trabalho como esse poderia lhe oferecer. Mas, claro, o que buscava era algo que impulsionasse sua carreira, e não o que temos aqui, uma combinação tão atrapalhada de elementos distintos que pode encerrar de vez não apenas sua filmografia, mas também a de muitos outros envolvidos.

E por quê Esquadrão Suicida é um desastre anunciado? Primeiro, por não cumprir nenhuma das promessas feitas pelo marketing em previews e materiais de divulgação. Segundo, por não estar à altura das expectativas levantadas. E terceiro por deturpar seu conceito original. Após o fracasso de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça (2016) – filme que arrecadou quase US$ 900 milhões nas bilheterias de todo o mundo, mas como as estimativas iam até US$ 1,5 bilhão, tal resultado representa pouco mais de 50% do esperado – depositou-se nas costas de Ayer entregar o filme que mudasse essa visão negativa. Refilmagens de última hora foram providenciadas e muito precisou ser alterado em relação à proposta inicial. Para isso, explorou-se ao máximo as figuras de dois personagens em especial – o Coringa, que, aliás, nem faz parte do grupo, e a Arlequina, de fato o maior destaque do elenco – para se aproximar dos entusiastas de heróis cômicos e debochados como Guardiões da Galáxia (2014) e Deadpool (2016). Só que este aqui é um filme sério, com poucos momentos de humor – e todos estes já foram vistos nos trailers. Pra completar, a proposta de “grupo de vilões obrigados a fazer o bem” quase inexiste, uma vez que a maioria ali tem motivos para os atos que os levaram para trás das grades e, de fato, estão em busca de redenção.

As exceções é que terminam por se destacar. Arlequina encontra em Margot Robbie (no seu terceiro fracasso do ano, após o inédito Uma Repórter em Apuros, 2016, e o equivocado A Lenda de Tarzan, 2016) uma intérprete que corresponde bem ao hype levantado, insana na medida certa, porém nunca completamente maluca – quando seus verdadeiros desejos são revelados, tudo que quer é uma vida normal, casada e com filhos! O Coringa de Jared Leto está mais próximo daquele vivido por Jack Nicholson (Batman, 1989) do que o de Heath Ledger (Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008), que adora investir em uma imagem de maluco, porém é um gângster astuto e muito inteligente, sempre com uma estratégia à mão. Ele, no entanto, é mero coadjuvante, e todas as suas interações na trama se resumem a um único propósito: libertar Arlequina da prisão. Ou seja, uma figura tão icônica é relegada a uma participação quase especial, sem maiores consequências.

Os problemas, por outro lado, são muitos. Will Smith, maior nome presente, é Deadshot, o pistoleiro arrependido que só se preocupa com o bem estar da filha pequena. Ele é bom, tem carisma, mas não convence como um cara de natureza má, e frases como “alguém que já matou tanto quanto eu não conseguiria dormir se soubesse o que é o amor” soam risíveis de tão falsas. Capitão Bumerangue (Jai Courtney) é um bufão inconsequente, o Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje) parece estar preso apenas por ser feio, e Diablo (Jay Hernandez) sofre por todo o mal que já causou e está resoluto a nunca mais usar seus poderes – porque não quer machucar mais ninguém! E assim chegamos à Magia, espírito do mal que tomou o corpo da Dr. June Moone (Cara Delevingne, uma modelo sem expressão facial que não poderia ser uma escolha mais equivocada para viver uma cientista de respeito). Compondo um tipo que é uma mistura de Samantha (O Chamado, 2002) com um requebra digno de uma Globeleza, ela não convence como ameaça e nem como grande vilã da história, provocando com sua presença mais bocejos do que excitação.

Restam Viola Davis (com a mesma autoridade de sempre) e Joel Kinnaman (que, assim como fez em RoboCop, 2014, tem postura, mas não atitude). Scott Eastwood mal aparece, e as presenças de Batman (Ben Affleck) e Flash (Ezra Miller) são tão pontuais que pouco ajudam a provocar qualquer tipo de entusiasmo. Sombrio de forma exagerada – a luta final, à noite e sob forte chuva, é composta quase que inteiramente por sombras e reflexos, tornando quase impossível vislumbrar o que está realmente acontecendo – e desprovido de motivações convincentes – os vilões, assim que ganham a oportunidade de fugirem por conta própria, preferem permanecer juntos (!) para enfrentar o mal maior, sem que nada justifique suas decisões! Esquadrão Suicida, portanto, é mais um passo em falso da DC Comics na tela grande, comprovando o quão atrás está em relação a sua rival Marvel. Afinal, se um dia almeja desfrutar do mesmo sucesso e prestígio da concorrente, é melhor deixar bobagens como essa de lado e tomar decisões estratégias e planejadas, e não insistir em produtos descartáveis como o que aqui encontramos – e logo esqueceremos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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